Capítulo 4-Todo mundo erra. Nem todo o mundo perdoa.

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BEATRIZ

Embora eu já tenha estado em várias situações tensas ao longo da minha vida, nunca senti esse medo até os ossos que veio quando estacionei em frente a casa dos Rodríguez. Com as mãos tremendo, desliguei o carro e abri a porta. Meus joelhos trementes mal conseguiam me dar o suporte necessário para caminhar até a porta da frente. Minha mão é como chumbo quando eu a levanto para choca-la contra a madeira.

— Bom dia. — Uma mulher de estatura baixa e uniforme me recebeu.
— B-bom dia. E-eu...e-eu... — As palavras estavam presas na garganta.
— Venha, entre , querida. — Ela sorriu amigável dando um passo para o lado.

Arrastando os pés, eu passei pela porta, e a primeira pessoa que vi foi Lucas. Ele estava com Lara em seus braços. E a emoção explodindo de seu rosto quebra o meu coração. Ele está olhando para ela como se ela fosse a coisa mais linda que ele já viu. Como se ele simplesmente não conseguisse obter o suficiente. Ele sorri
para ela, um sorriso verdadeiro, com covinhas e calor.

— Se aproxime, querida. — A mãe de Lucas fez minha presença ser notada.

Com passos lentos, eu me aproximo. Meu olhar nunca deixando minha filha que agora me olha com receio, provavelmente imaginando o quão brava devo está com ela. Assim que Lucas a coloca no chão, ela se encolhe, evitando me olhar enquanto foca nas próprias mãos.

— O que nós conversamos sobre sair sem
avisar, Lara?— A seriedade em minha voz faz com que a pequena levante o olhar.
— Desculpe, mamãe… eu — Ela começa mas desiste de continuar, voltando então a fitar as mãos, de uma maneira que me inspiraria piedade  se eu não a conhessece bem.
— Quando chegarmos em casa teremos uma conversa muito séria. — Eu aperto o braço de Lara e, corajosa, subo meus olhos para ele.

E petrifico com a força deste homem sobre
mim, fulminando-me como se eu fosse a pessoa mais horrível que já pisou nesta terra.

Ele sabe.

— Mãe, eu prometi a Lara que a levaria para ver os coelhos, você pode fazer isso por mim? — Ele pediu, sem tirar os olhos dos meus.
— Claro, venha docinho — A mãe dele pega Lara em seus braços e as duas saem da sala, deixando Lucas e eu a sós.

Vários segundos se passaram sem nenhum de nós falar. O silêncio era quebrado apenas por uma música que vinha ao fundo. Eu sou incapaz de fazer qualquer coisa, e isso inclui respirar. O pânico deve estar brilhando no meu rosto, mas Lucas permanece calado, me encarando.

— Ela é mesmo minha? — Ele finalmente pergunta.

Eu engulo a bile subindo na minha garganta.

Chegou o momento.

Quando abro minha boca para responder, a sala ao meu redor desaparece. O som do sangue correndo por meus ouvidos é tudo que eu posso ouvir... até que as palavras finalmente chegam. E levantando os olhos, eu olho profundamente para ele quando eu finalmente admito : — Sim, ela é sua filha.

Um som glutal escapa dele e eu me sinto mal enquanto assisto a diversidade de emoções viajarem através dos seus olhos. O sangue está drenado de seu rosto e de sua boca, e ele parece em estado de choque.

— Eu tinha o direito de saber— Ele sussurra.

Eu olho para o meu colo.

— Eu sei. Sinto muito.
— Você sente muito? — Ele rosna e olha para mim, o rosto cheio de mágoa e raiva.
— Eu era apenas uma adolescente, Lucas. Estava muito assustada.
— Mas que merda, Beatriz?—Eu vacilo com a raiva em sua voz, sabendo que eu mereço tudo.— Essa é a sua justificativa por esconder ela  de mim por todos esses anos?
— Eu tentei te contar quando estava grávida.—Me defendi — Naquela vez em que nos encontramos na lanchonete e...
— E você foi uma covarde e saiu correndo. —Ele completou com amargor.
— Eu fui embora sem te contar porque eu descobri que você iria embora do país. Em busca do seu sonho. E eu não ia te
forçar a me escolher apenas porque eu estava grávida.
— Escute a você mesma. — Uma risada amarga escapa de sua boca — Um sonho pode esperar, Beatriz. Um sonho pode ser malditamente adiando quando se trata de uma nova vida.
— Tudo que eu queria era viver em paz com minha menina enquanto você vivesse seus sonhos, Lucas.—Minha voz é apenas um sussurro— Sei que foi imaturo e egoísta da minha parte, mas era o que eu queria.
— Você tem que estar brincando comigo! Eu tenho uma filha. Uma que eu não pude acompanhar seu primeiros anos porque você estava com muito medo de me dar uma chance. — Sua expressão se transforma em magoa e seus olhos passeiam pela sala. — Você fodidamente me privou de viver a melhor coisa na vida de um homem.

Sabendo o que eu fiz, o que eu tirei dele, é insuportável. Eu dou alguns passos em direção a ele e agarro seu pulso, mas no momento que minha pele o toca, ele recua, puxando o braço como se meu toque o
machucasse fisicamente.

— Lucas, eu sinto muito...
— Não, Beatriz. Você não sente. —O ódio escorre de cada palavra.— Eu aposto que se Lara não tivesse te escutado e vindo atrás de mim, você nunca me contaria.
— Eu iria contar. —Sussurrei pressionando as costas contra a parede fria. — Eu juro que iria contar.
— Uma porra que ia! —Ela grita com raiva e eu me inclino, envolvendo as minhas mãos em volta do meu estômago.— Você com certeza iria me deixar morrer sem saber da existência de uma filha.
— Isso não é verdade. — Algo se aloja em minha garganta e lágrimas queimam os meus olhos.

Ele range os dentes, e eu posso ver os músculos de sua mandíbula saltando enquanto ele faz.
— Sim, essa é a fodida verdade pois você é uma cadela egoísta pra caralho! — Ele cospe, algo escuro em seu rosto.

E isso me leva ao limite.

— Vá se foder, seu idiota. Você não pode jogar toda merda em cima de mim! — Grito.

Seus olhos brilham com raiva e ele avança conta mim, pressionando minhas costas contra a parede.
— Eu posso e sabe por que? Porque você escondeu minha filha de mim, porra! — Ele grita no meu rosto.
— Não se atreva a gritar no meu rosto, caralho! — Eu cuspo, tentando empurrá-lo para longe. Mas ele não se move.
— Foda-se— Ele ruge
— Foda-se você seu imbecil de merda.
Eu gostaria de nunca ter colocado os olhos em você, Lucas. Eu gostaria de nunca ter conhecido você, porra. — Minha voz engasga na última frase e lágrimas irrompem antes que eu possa pará-las.

Eu estou chorando agora. Eu não posso parar. Grandes e gordas, lágrimas feias rolam pelo meu rosto.

— Eu vou pedir um exame de DNA —Ele finalmente me deixar sair de seu aperto. — E quando o teste comprovar que ela é minha, eu vou lutar com você na justiça. —Completou enquanto eu me afastava.

Eu congelo e me viro, olhando para ele.

— Como é que é?
— Eu tenho o direito de ter ela perto de mim.
— Jesus! Você bateu com a cabeça? —Eu questiono, sem tirar os meus olhos dele. —
Você mora em Los Angeles, Lucas, Los Angeles.
— Exatamente, e eu tentarei o impossível ser for preciso para ter minha filha morando comigo. — Afirma com a voz cheia de emoção. Ele tem os olhos vermelhos e há uma lágrima escorrendo pelo seu rosto.
— Eu sinto muito, mas você não vai conseguir isso. — Digo, então me viro e vou embora, mas não antes de permitir minhas  comportas se abrirem.

Uma Nova Chance ( Spin-off)Onde histórias criam vida. Descubra agora