Capítulo 8-Quem tem mais culpa? O tentado ou o tentador?

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» BEATRIZ «

— Até que fim, silêncio. — Eu brinquei, olhando para minha filha adormecida no banco de trás.

Durante as cinco horas em que estávamos na estrada, Lara não parou de falar um minuto sequer. Eu me perguntava de onde ela tirava tanto assunto, mas essa era uma pergunta que eu nunca conseguiria resposta.

— Ela é fodidamente perfeita. — Lucas disse, olhando para ela pelo retrovisor.
— É toda você. — Eu deixei escapar, e para minha eterna maldição, eu corei.

O sorriso de Lucas foi imediato. Ele não me perguntou “Está dizendo que sou perfeito?”, mas daria no mesmo se tivesse
perguntado. Eu ficaria tão constrangida,
envergonhada e sem reação quanto
estava ali.

Cérebro idiota. 

Eu precisava urgentemente construir alguma barreira contra Lucas. Ele despertava alguns instintos em mim dos quais eu costumava fugir, sempre. Eram instintos perigosos, imprudentes, coisas que eu precisava evitar.

— Falta muito para chegar? — Eu perguntei, em uma tentativa clara de quebrar a nuvem carregada de sentimentos que pesava o ar no carro.
— Oito horas. — Lucas respondeu, me
me olhando pelo canto do olho.

Eu bocejei.

— Vá dormir, Beatriz— Ele opinou. — Pelo menos um de nós pode ter um descanso decente.

Eu forcei um sorriso e encostei minha cabeça no vidro. Meus olhos estavam pesados, e eu sentia o princípio de uma dor de cabeça, mas faria de tudo para resistir ao sono. Desde criança, sempre foi difícil para eu dormir em um carro. Acho que eu era simplesmente paranoica que algo acontecesse durante o percurso e se eu ficasse acordada, eu poderia evitar que acontecesse.

Parecia louco, mas fazia total sentido na minha cabeça.

— Eu acho melhor você colocar o cinto.— Lucas disse em voz baixa.

Baixei os meus olhos e constatei que estava sem o dispositivo de defesa. Com uma bufada, puxei o cinto por cima do colo e o travei. Um momento depois o carro desviou para a direita rapidamente antes de voltar a se alinhar com a mesma velocidade. Enquanto isso, apesar do movimento, Lara continuou dormindo
enquanto eu quase surtei e me inclinei para trás para deitar a cabeça no estofado.

— Que porra foi isso? — Sussurrei.

Lucas me deu uma olhada de lado.
— Tinha um cavalo  na estrada — Ele explicou com a mesma voz baixa.
— Você está bem para dirigir? — Perguntei e ele suspirou, me olhando outra vez.
— Eu estou ótimo, pare de se estressar.

Pare de se estressar. Como se fosse possível.

E não era. Nos trinta minutos seguintes, esfreguei as mãos nas coxas, agradecendo a qualquer que fosse a divindade que pudesse estar ouvindo, pela estrada estar surpreendentemente vazia. Só vi uns cinco
carros na rodovia e se não fosse por isso, eu provavelmente surtaria ainda mais.

— Você quer se acalmar, Beatriz? — Lucas sibilou para mim.
— Eu estou calma — Menti e ele se virou para me olhar por um momento, o que me fez gritar. — Olhe para a estrada!
— Posso sentir o ataquezinho de pânico que está tendo aí — Ele resmungou. — Porra, me surpreende que não tenha acordado Lara com tanto estresse que está emitindo, linda.

Eu suspirei, voltando a atenção para a janela. Até agora, tirando o incidente do desvio, ele foi um bom motorista. Não que
significasse alguma coisa, porque não tinha tráfego, mas mesmo assim. Ele estava acima do limite de velocidade, mas não muito, e a não ser por ter me olhado há um minuto, sua atenção estava fixa na estrada.

Uma Nova Chance ( Spin-off)Onde histórias criam vida. Descubra agora