Chapter XIX

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Acordei com batidas estrondosas na porta do quarto. Lar doce lar. Fazia tempo que eu não sabia qual era a sensação de acordar com a porta sendo quase derrubada. Me levantei praticamente me arrastando, meu corpo ainda doía e o colchão não tinha ajudado em nada. Abri a porta e encarei minha mãe forçando um sorriso.

-O que deseja? - Perguntei, ela bufou e foi andando para a cozinha enquanto eu rumava para o banheiro.

-Já são onze horas, você não vai ficar o dia inteiro dormindo. - Eu revirei os olhos me olhando no espelho. Meu Deus, eu estava horrível. Meu cabelo parecia um ninho de rato pelo coque que eu mal tinha desfeito, quando cheguei tinha apenas tomado um banho mas sem me esforçar para tirar a maquiagem.

-O que a senhora quer que eu faça? - Perguntei colocando a escova na boca e escovando meus dentes.

-Arrume algo para fazer. - Ela respondeu da cozinha, eu me sentei no braço do sofá ainda sonolenta. - Nem ficar na festa da sua sobrinha até o final você foi capaz, se fosse de qualquer amiguinha com certeza você ficaria.

Evitei prestar atenção nas palavras dela ou iríamos brigar.

Depois que terminei de escovar os dentes, minha mãe continuava falando e isso estava me irritando. Me sentei no sofá e mandei mensagem para Alice avisando que passaria o dia com ela, e talvez o resto da viagem. Não me culpem, o privilégio da minha mãe sempre foi me enlouquecer.

-... tá prestando atenção, Kayra? - Olhei para ela que estava parada me encarando com uma leiteira soltando fumaça em uma mão e uma colher na outra.

-Aham. - Me limitei a dizer qualquer coisa mais, do jeito que ela é louca jogaria o líquido da leiteira na minha cara.

-O que eu disse?

-Nada que eu não tenha escutado antes. - Dei de ombros voltando a atenção para o celular. Tinha mensagens de Lena e Max, Lorena, Milena, Júlia, Shawn, e mais alguns familiares. A maioria perguntando porque eu saí mais cedo da festa, ignorei todos os meus familiares. Eu veria o que Lena, Max e Shawn queriam depois, fiquei apenas na conversa com Alice.

-Eu não sei porque eu ainda tento ter uma conversa com você! Quase vinte anos e continua agindo como uma adolescente rebelde. - Ela continuava falando e eu me despedi de Alice ficando parada escutando o que ela tinha para dizer. - Seu pai pulou fora quando teve a chance, não sei porque eu não fiz o mesmo, você vai acabar me matando.

-Você que nunca fez questão de conversar comigo, qualquer coisa terminava em gritos e com você dizendo que fui o pior erro que tu tinha cometido. - Respondi me levantando e passando por ela.

-Para de ser dramática, garota. - Ela resmungou, e eu peguei minha toalha que estava na corda. - Você se trancava naquele quarto que nem um animal e só saía de lá para fazer suas próprias coisas.

-Claro, se eu passasse cinco minutos fora do quarto você fazia da minha vida um inferno. As vezes nem tinha motivos para brigar comigo, e lá estava você arrumando um.

-Você não é como eu queria que fosse, infelizmente.

-Engraçado porque todas as suas amigas sempre disseram que queriam ter uma filha como eu. Que estudou, se formou, nunca pensou em namoradinho ou ficou mal falada na boca de todo mundo, mesmo que a vida fosse da garota. E você concordava né? Claro, na rua é uma coisa, dentro de casa é outra bem diferente. - Ela ficou calada apenas me ignorando. - Eu também não pedi pra nascer, e muito menos com esse meu jeito. Mas eu fiz tudo o que vocês queriam, ignorando o que eu queria, mas graças a Deus eu acordei e percebi que a única pessoa que eu devo fazer as vontades sou eu.

-Você é uma ingrata. - E é aí que a gente percebe que a mãe não tem argumentos, quando ela chama a filha de ingrata.

Ignorei e entrei no banheiro, se alguma vez eu imaginei que nossa relação poderia ficar boa algum dia, eu deveria estar bêbada ou sob efeitos de drogas porque isso nunca vai melhorar. Minha mãe e eu nunca seremos melhores amigas e isso é a coisa mais triste do mundo. Eu queria que ela fosse minha amiga, gostaria de contar que eu estou apaixonada e dizer todas as minhas inseguranças, mas foi ela que colocou essas inseguranças na minha cabeça quando disse que ninguém iria me querer, que eu era um fardo que as pessoas ao meu redor tinham que carregar.

Destiny - Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora