Chapter XX

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Olhei para a casa de dois andares a minha frente e revirei os olhos. Os funks tocando alto me davam dores de cabeça e a fumaça de carvão queimando subia contaminando o ar que respiramos. O portão estava aberto e eu estava em uma distância significativa, eu podia ver tudo mas ninguém podia me ver.

Minha mãe apareceu no portão com a minha tia Sônia rindo de algo que alguém disse, elas se sentaram nas cadeiras vazias que estavam na calçada e logo Lorena se juntou a elas. Obriguei minhas pernas me levar em direção a elas, me arrependendo logo em seguida. Ele apareceu. Com o seu rosto de bom moço, quase dois metros de altura e o corpo rechonchudo. Ele estava de costas e eu petrificada atrás dele o olhando. As mulheres que antes estavam conversando me olharam curiosas.

-Kayra? Algum problema? - A voz de Lorena me despertou do meu transe. Ele se virou para mim um tanto surpreso, mas seu olhar surpreso foi substituído por um brilho malicioso.

-Princesa, quanto tempo... - Seus braços se abriram para um abraço e eu dei dois passos para trás.

-Sem abraços. - Disse entredentes.

-Kayra, quê isso? Não trate o seu tio assim! - Minha tia repreendeu, ele deu um sorriso de lado, aparentemente triste, e fez um sinal com a mão para que minha tia ficasse calada.

-Deixa ela, Sônia. - Seus olhos pousaram no pouco decote que meu cropped continha. - Ela cresceu e já não me considera mais como tio.

-Edivan... - Minha mãe tentou, mas ele já tinha voltado para dentro da casa. - Francamente Kayra, por quê tratou seu tio com esses modos?

-Eu... - Fui interrompida pela minha tia.

-Eu realmente pensei que essa sua fase de implicância com o Ivan tinha passado, mas pelo visto você não amadureceu.

-Olha, acreditem no que quiserem. - Foi tudo o que disse antes de adentrar a casa e falar com o resto da família.

Hoje é aniversário da minha avó e decidiram fazer um churrasco, estou no Brasil, não há motivos para não ter ido principalmente porque em poucos dias voltarei para Toronto e mal passei um tempo com as pessoas que carregam o mesmo sobrenome que o meu.

Kauã estava sentado no canto do quintal com uma lata de cerveja, dei um beijo em seu rosto e me sentei ao seu lado tirando a lata de cerveja da mão dele e dando uma grande golada no conteúdo.

-Vai com calma, nanica! - Ele puxou novamente a lata e eu revirei os olhos. - Isso não é água.

-Me poupe, e para aguentar esse povo daqui só estando sob efeito de álcool. - Ele riu anasalado e continuamos em silêncio apenas vendo Lorena dançar funk, as filhas estavam no celular, o marido sentado em um canto conversando com o meu padrasto e com ele.

-Não faça essa cara, - Kauã avisou, mal notei que enquanto encarava Edivan com certa raiva minhas unhas estavam perfurando a palma da minha mão. - e você sabe como eles reclamam quando você deixa essa sua implicância te dominar.

-Não é implicância. - Eu remunguei pegando a cerveja e dando mais goladas nela.

-E o que é então? - Eu o encarei, os olhos verdes dele brilharam em expectativa, esperando arrancar algo de mim. Não consegui dizer nada e ele arregalou os olhos, me fazendo cortar nosso contato. - O que esse filho da puta te fez? - Fiquei calada. Kauã é filho da minha tia Sônia e o primeiro casamento, Edivan veio depois e, infelizmente, ficou mesmo depois de ter traído minha tia.

-Nada, Kauã. Nada. - Eu finalmente respondi terminando com o conteúdo da lata e me levantei para pegar mais.

Minha avó estava na cozinha bebendo e falando ao telefone, a abracei e dei um beijo em sua bochecha desejando um feliz aniversário sem som. Peguei duas latas na geladeira e voltei pro quintal estendendo uma para o meu primo que estava com sua atenção voltada para o celular.

Destiny - Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora