O primeiro contato

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            Os rapazes resolveram sentar na grama novamente, ignorando o sereno que caía. Permaneceram ali por um bom tempo, conversando sobre qualquer coisa que pensassem. Otávio contou que crescera em um orfanato numa cidade do interior do Rio de Janeiro e que se mudou para o Vale do Café após ingressar no exército. Luccino falou de sua família: era o caçula de quatro irmãos. Virgílio, o irmão mais velho, estava sumido há algum tempo, ninguém sabia ao certo o que aconteceu, mas suspeitavam que tinha problemas com a justiça e por isso fugiu. Fani namorava Edmundo Tibúrcio e, quando Otávio brincou que ela havia encontrado um bom partido para se casar, descobriu que a moça recusava-se a casar. Já Ernesto, estava de casamento marcado com Ema Cavalcante. Apesar da origem humilde e com exceção de Virgílio, os irmãos conquistaram uma boa vida. O mais novo não tinha do que se queixar, ainda morava com os pais, mas passava a maior parte do tempo na oficina em que trabalhava. A história de como Luccino herdou a oficina era no mínimo interessante. Pertencia ao padrinho dele, um homem sozinho e que apesar do bom coração, bebia muito. O Pricelli mais novo passou boa parte de sua adolescência naquele lugar e aprendeu a profissão de forma natural, aos 17 anos começou a ajudar Seu Joaquim com o trabalho. Quando o homem adoeceu, deixou claro em seu testamento que a oficina e tudo que estava dentro dela deveria ficar para seu afilhado.

- Eu sinto muito pelo seu padrinho. – Otávio deu suas condolências em um tom suave, não querendo colocar o dedo na ferida.

- Não se preocupe. Já faz bastante tempo. – Luccino respondeu após tomar um gole do espumante e terminar mais uma taça. – Agora, eu sinto apenas uma saudade nostálgica. Ir para a oficina depois da aula, às vezes era o único consolo para toda a confusão que eu sentia na escola, ainda mais com o Má... – O italiano interrompeu sua fala, virando a garrafa sobre sua taça, novamente. Ele soltou o ar pesadamente ao perceber que a bebida acabara. – Mas chega de conversa triste. Vem, vamos dançar.

"O que?!" foi tudo que o militar conseguiu pensar. Ele imaginou que Luccino estava invejando a música alta que ressoava de dentro da casa, e sabia que não teria mais ninguém para dançar além de Otávio. O mecânico estava bêbado e o próprio capitão também. Por isso, não pôde dizer se fora o álcool ou a possibilidade de fazer algo tão ousado que lhe pôs aquele sorriso besta no rosto quando aceitou o convite.

Luccino se levantou e alcançou seu braço para Otávio, quando ele ficou de pé. O militar riu e passou seu próprio braço pelo do italiano. Era apenas uma brincadeira boba, que rapazotes fazem quando bebem além da conta. Pararam na cozinha para largar a garrafa vazia e as taças em um canto qualquer. Então, foram para a sala, de onde a música alta vinha, o barulho era tanto que ninguém reparou quando entraram, mas foi impossível não olhar quando os dois se posicionaram no meio do cômodo, com Luccino agarrando a cintura do capitão com força e praticamente o colando em si, Otávio repousou sua mão no ombro do outro e ambos grudaram suas mãos, começando uma dança atrapalhada, hora seus corpos pendiam demais para um lado, hora esbarravam em algum objeto. Eles riam um para o outro a cada passo, pareciam achar graça dos movimentos desengonçados. E, provavelmente, o italiano não percebeu os olhares nada discretos que sua boca recebia do militar.

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Otávio acordou com o som de fortes batidas sendo dadas em uma porta, e saltou da cama ao perceber que era a sua.

- Bom dia. – Ele disse ainda bastante sonolento, enquanto esfregava o rosto para tentar acordar o corpo.

- Finalmente! – Exclamou Lídia. A moça parecia furiosa.

2019 - Uma história LutávioWhere stories live. Discover now