Revelações

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- Então, Mário, por que me pediu para vir aqui? – Camilo questionou o outro garoto com uma desconfiança extrema. Nada daquilo fazia sentido. O baixinho o chamou para uma praça pouco movimentada que ficava atrás da escola e que, pela hora, estaria vazia.

Mário apenas riu, como se para ele a resposta fosse óbvia. Sem dizer uma palavra sequer, ele se aproximou do loirinho, uma proximidade bastante perigosa. E levou suas mãos ao rosto de Camilo, puxando-o para baixo com delicadeza, selando um beijo em seus lábios. E, como ele já esperava, o principezinho retribuiu o toque, passando os braços por sua cintura e colando seus corpos. O beijo se mostrou melhor do que Mário imaginava com o outro garoto lhe dando toques lentos e cuidadosos, enquanto apertava seu cabelo.

Se os dois garotos não estivessem tão inebriados pelo momento, talvez, percebessem a presença de uma terceira pessoa no local. Ernesto estava escondido entre as árvores, com um sorriso bobo nos lábios. Ele estivera certo o tempo todo. Camilo gostava de rapazes. O italiano tinha uma chance. Só seria necessário se livrar do tampinha, mas Ernesto estava disposto a se meter em algumas brigas se sua recompensa fosse um beijo daqueles.


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Um italiano de paixões ardentes e cabeça esquentada adentrou a oficina mecânica do irmão, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Em um ato rápido, segurou a peça de madeira na qual o mais novo estava deitado e o puxou para fora do carro que concertava.

- Que susto, Ernesto! – Luccino exclamou enquanto se levantava.

- Desculpa, fratellino. – Ele levantou as mãos, ainda rindo de sua brincadeira. – Foi só para aliviar as coisas.

- Como assim? – O mais novo questionou, enquanto limpava as mãos e guardava algumas ferramentas, para ficar ao menos um pouco apresentável.

- É que... Camilo me contou o que houve no réveillon... e depois também. – Ele se aproximou do irmão que estava apoiado sobre uma mesa e retirou a boina que usava, apertando-a com força em suas mãos.

É claro que Camilo havia contado. Aqueles dois eram como unha e carne, mais próximos que dois irmãos. Luccino foi tolo em pensar que poderia esconder de sua família seu caso com o capitão.

- Ernesto, não precisa se preocupar. Nós bebemos muito e acabou acontecendo. – O mecânico pensou que diminuir a situação seria a melhor estratégia. Quanto menos aquela noite importasse, menos ele precisaria se explicar. – Ninguém precisa saber.

Mas o mais velho o abraçou de repente, levando as mãos aos cabelos de seu fratello e os acariciando com cuidado.

- Desculpe, Luccino. Eu sinto muito por não perceber que precisava de ajuda. – Ernesto se culpou por ter o sangue tão quente, quando lágrimas começaram a encher-lhe os olhos. – Eu fiquei tão preocupado comigo que não enxerguei que você também precisava de alguém para desabafar.

- Espere. – O mecânico cessou o abraço que recebera e passou a encarar o irmão. – O que está querendo dizer, Ernesto?

- Eu sou bissexual, fratello. – Ele falou com uma naturalidade que chegou a dar inveja em Luccino. – Eu fiquei tão cego de amor quando era garoto, que não percebia um palmo à minha frente.

- Calma, calma. – Luccino fez um sinal com as mãos para que o irmão parasse de falar. – Isso é informação demais. Você está me dizendo que viveu um grande amor com outro garoto, quando era mais novo?

2019 - Uma história LutávioWhere stories live. Discover now