Esse jantar vai ser ótimo

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            Era por volta de nove horas da manhã quando Luccino chegou ao quartel. Geralmente, ele não acordaria cedo em um domingo, mas pensou que quanto antes fizesse o convite, melhor. E ele sabia que, mesmo no final de semana, Otávio já estaria acordado a essa hora.

Ainda menos soldados estavam no local do que no dia anterior, e o italiano conseguiu entrar sem chamar atenção. Ele caminhou um pouco pelas instalações, imaginando onde o capitão poderia estar, e lhe ocorreu que parecia o horário perfeito para algum exercício, por isso foi em direção ao ginásio. Na porta, foi possível identificar a única pessoa lá, Luccino tinha uma visão de perfil de Otávio, reconhecendo-o pelo bigode excêntrico que, dificilmente, mais alguém do século XXI ousaria ostentar. Mas a atividade que o militar estava praticando foi o que lhe intrigou, parecia ser esgrima. Ele não estava com uniforme branco típico do esporte, vestia a farda normal, com exceção do casaco que fora tirado para o exercício, ficando apenas com uma blusa preta.

O mecânico continuou observando, atentamente, Otávio empunhava uma espada, que ele acreditou ser um florete, fazendo movimentos precisos e rápidos, lutando com um adversário invisível, se esquivando de golpes imaginários. O capitão era realmente bom naquilo. Havia uma certa elegância, algo que Luccino nunca reparara no militar. Talvez fosse isso que a Barbie sentisse ao ver um daqueles príncipes encantados?

Otávio saiu de seu transe ao se virar para aplicar um golpe e encontrar a figura do italiano, ele parou na hora com uma confusão bastante visível no rosto.

- Luccino?... – Ele perguntou, enquanto tentava recuperar o fôlego. – O que é que você está fazendo aqui?

O mecânico engoliu em seco. Certamente, a Barbie não tinha que encarar um príncipe suado e esgotado daquela forma incrivelmente sedutora.

- Eu vim te fazer um convite. – Disse por fim, quando parou de imaginar outras possíveis situações em que poderia encontrar Otávio daquele mesmo jeito.

O capitão apenas assentiu, curioso com o motivo da visita inesperada. Ele se sentou na arquibancada, onde seu casaco e uma garrafa d'água o esperavam, e Luccino foi até lá.

- Ema e Ernesto voltam para São Paulo amanhã. – O italiano fazia um esforço imensurável para não encarar indiscretamente a forma que o rosto do militar tomava enquanto ele bebia sua água. As veias no pescoço e na testa estavam mais protuberantes, o bigode ganhava ainda mais destaque com a cabeça inclinada para cima e o mecânico podia jurar que uma fina linha de água escorria pelo canto da boca. – Meus pais vão fazer um jantar de despedida, hoje à noite, e a minha mãe falou para eu levar um amigo. É claro que pensei em você.

Otávio largou a água repentinamente, como se tivesse levado um susto.

- Um jantar com a sua mãe? – Ele perguntou incrédulo. E limpou o canto da boca com as costas da mão, se não estivesse tão pasmo, teria notado o olhar nada discreto que recebera. – Com o seu pai? Você está louco!

- Mas, capitão, qual o problema de levar um amigo lá em casa pra jantar? – O italiano indagou, achando graça da reação do militar. – Não é o que nós somos? Amigos. – E resolveu aproveitar o momento para fazer uma leve provocação.

- Sim. – Otávio respondeu de forma contida e, provavelmente, o mecânico não reparou a nota de melancolia que escapou em sua voz. – Somos. Amigos. O que mais nós poderíamos ser? – Ele rebateu com a voz embargada típica de quando estava triste.

2019 - Uma história LutávioWhere stories live. Discover now