O encontro na cachoeira

118 15 47
                                    


            Otávio chegou à cachoeira no começo daquela tarde de sábado. Por mais que vivesse no Vale há alguns anos, nunca fora ao local, o que fez com que Luccino precisasse lhe explicar o caminho. E, ao não ver sinal algum de presença humana, o militar temeu ter encontrado a cachoeira errada. Ele estava prestes a pegar o celular para mandar uma mensagem ao italiano, quando um barulho na água chamou sua atenção e, levando os olhos ao lugar de onde o barulho parecia vir, encontrou sua companhia. A visão foi o suficiente para deixá-lo boquiaberto, seu acompanhante saíra do fundo da água, passando as mãos em seus cabelos para ajeitá-los, sem notar que era observado. No entanto, os olhos de Otávio não miravam os cabelos negros, mas sim o peitoral encharcado.

- Capitão! – Ele exclamou ao finalmente notar a companhia, ficando de pé e terminando de expor o tronco que a água antes escondia.

- Luccino... – Ele respondeu em um sussurro nervoso, seguido de uma leve mexida em seus lábios, um sorriso rápido e sem fôlego.

- Fico feliz que não se perdeu. – O italiano sorriu e, só então, Otávio percebeu algo ainda mais notável em sua aparência: ele estava de barba feita, o que revelava seu queixo proeminente, mas, sobretudo, dava ainda mais destaque aos lábios carnudos.

- Sim... sim. É claro.

- Não vai entrar na água, capitão? – Luccino fez o convite ao perceber a expressão no rosto do outro. Aquilo era realmente nervosismo?

Novamente, o militar respondeu com um "sim" afobado e começou a fazer seu caminho até a beira da água.

- Pretende ficar com essas roupas, Otávio? – Agora, a pergunta veio em um tom mais debochado, com o italiano já entendendo o jogo que teria que jogar.

O capitão parou, olhando para si mesmo, ele vestia uma blusa em um tom escuro de cinza que lhe cobria o braço até um palmo abaixo do ombro, e bermudas um pouco menos discretas, que revelavam um pouco de suas coxas. Enquanto se autoanalisava, Otávio percebeu que, na correria de chegar à cachoeira, esqueceu de pegar uma muda de roupa e, até mesmo, uma toalha.

Despir-se era o mais sensato.

Por sorte, colocara uma sunga enquanto se arrumava, lhe poupando de precisar banhar-se de cueca.

Ele se desfez das peças com rapidez, colocando-as em uma pedra à vista, não querendo perder o celular, onde percebeu que também estavam as roupas de Luccino.

O militar podia sentir o olhar que o italiano dava ao volume em sua sunga, com aquela carinha inocente era fácil acreditar que os olhos estavam direcionados para outro canto, mas Otávio não era ingênuo de pensar que o sorriso malicioso simplesmente resolveu dar às caras no semblante dele.

- Por que o interesse na minha sunga? – Ele brincou, com um leve tom de provocação. – Não me diga que está pelado aí em baixo.

- Vai ter que descobrir. – E, com isso, Luccino mergulhou na água, saindo da vista do militar.

Otávio entrou na água gelada apressadamente, nem tanto por querer acostumar logo o corpo, mas por querer achar o mecânico. Ele deu algumas braçadas rio adentro, mas sem sucesso de encontrar seu acompanhante. Logo, foi surpreendido com o rapaz cessando o mergulho bem em sua frente e numa proximidade no mínimo ousada.

- Capitano. – O italiano meneou a cabeça como em um cumprimento.

- Signor Pricelli. – O militar tinha seus olhos correndo pelo rosto do mecânico e um sorriso contido em baixo de seu bigode, lábios fechados em uma leve curva.

2019 - Uma história LutávioWhere stories live. Discover now