Sem vergonha

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            - Mas que pouca vergonha é essa? – Gaetano perguntou em tom brincalhão, conforme cruzava os braços e encarava os dois rapazes.

Os dois haviam praticamente pulado da cama e, agora, estavam cada um em pé de um lado, com olhos arregalados, incrédulos, se perguntando por que tinham de ser pegos justo daquela forma. Luccino já preparava mil explicações em sua cabeça, enquanto Otávio torcia para não precisar impedir que o mecânico levasse uma surra do pai.

- Luccino, veste uma roupa e já pra sala. – Ele disse em um tom firme, com a autoridade que a paternidade lhe conferia. – E o senhor vem junto, capitão.

Ambos acenaram positivamente, antes do italiano se virar e sair do quarto. O mecânico já estava na frente do armário catando a primeira muda de roupa que encontrasse, vestiu uma regata preta, sem notar que estava virada, e uma bermuda azul claro. O militar deixou de encarar o chão, perplexo, quando Luccino se aproximou.

- Juntos. – Sussurrou na tentativa de evitar que seus pais o escutassem, e segurou a mão de Otávio, estava fria como gelo, mas ele a apertou mesmo assim.

- Juntos. – O capitão respondeu em um tom ainda menor, praticamente inaudível. Ele roubou um beijo casto dos lábios do italiano e soltou sua mão, respirando fundo, se obrigou a tomar uma pose mais confiante, aprumando-se como um soldado pronto para adentrar o campo de batalha.

Eles saíram do quarto com Otávio de cabeça erguida, pronto para o quer que acontecesse, e Luccino quase se escondendo atrás do militar, seu semblante deixando claro o seu temor.

- Seu Gaetano, eu gostaria de deixar claro que...

- Cala a boca e senta, capitão. – O pai de Luccino o interrompeu sem se preocupar com o tom rude que sua voz continha, enquanto apontava para a mesa de jantar.

O militar, que estava pronto para deixar claro que não permitiria que nada acontecesse ao Luccino, engoliu em seco, puxando a cadeira que ficava de frente para o senhor. O mecânico sentou ao seu lado, sem coragem de levantar os olhos. Nesse instante, Dona Nicoletta saiu da cozinha com duas xícaras de chá, entregando uma ao marido, antes que os dois também se sentassem.

- Meu bambino... – Ela segurou as mãos trêmulas do filho, lhe oferecendo um sorriso gentil. – Não precisa ficar com medo.

Luccino levantou os olhos, nos quais lágrimas já se mostravam, dando uma expressão desentendida à mãe.

- Não precisa ficar com medo, você. – Gaetano frisou em um tom ainda autoritário. – Esse capitão eu já não sei.

- Gaetano... – Nicoleta soltou em um suspiro de reprovação.

- Esse bigodudo fica pulando a janela do meu filho na noite e você não quer que eu me preocupe, Nicoletta?! – Ele disse voltando-se para a esposa, ignorando a presença dos rapazes à sua frente.

- Deixa o menino se explicar. – A italiana também passou a ter as atenções voltadas somente para o marido. – Ele veio aqui, não veio? E parece ser um bom rapaz.

- Mamma, papa... – Luccino e Otávio se entreolharam, completamente confusos. – Nós não estamos entendendo o que vocês estão dizendo.

O pai do mecânico passou a encarar o militar com um olhar nada amigável.

- Eu vi o senhor pulando a janela do meu filho na sexta-feira. E deve ter pensado que eu sou cego pra fazer isso, hoje, de novo. – Ele respirou fundo, fazendo esforço para não se exaltar. – Olha, eu não me importo se o Luccino quiser namorar o senhor, mas direito! Entra pela porta da frente. Não quero essa pouca vergonha dentro da minha casa.

2019 - Uma história LutávioWhere stories live. Discover now