Consequências

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Otávio passou o dia tentando conter um sorriso toda vez que se lembrava da noite passada, a perplexidade de Dona Agatha, a surpresa de Luccino, seu próprio desejo incontrolado de demonstrar o que sentia. Obviamente, ele preferiu deixar a noite entre os três, pois conseguia vislumbrar o rosto do Coronel enquanto lhe dava uma de suas broncas paternais e elencava, motivo por motivo, o porquê da atitude do major ser tão inconsequente.

Agora, no entanto, no começo da noite, a poucos passos da oficina de Luccino, sua preocupação era outra: a despedida de solteiro de Ernesto, que aconteceria esta noite e Otávio estava mais do que convidado. O militar vestiu seu melhor terno, parte dele queria ver a expressão divertida no rosto do seu italiano e, a outra parte, queria estar o mais apresentável possível, afinal, todos os homens e amigos da família Pricelli estariam lá.

A porta da oficina estava aberta, mas as luzes estavam apagadas, no melhor palpite, o italianinho queria pegar o namorado de surpresa. Poucos segundos após Otávio soltar um "Olá", suas suspeitas se confirmaram, pois sentiu as mãos do mecânico tocarem seu peitoral e envolverem seu corpo.

- Você poderia ter me dado um susto bem feio, mocinho. – O militar tentou fingir reprovação.

- Eu estaria aqui para te socorrer. – Ele respondeu em um tom sugestivo e, ao caminhar em torno do major, sua mão sentiu algo que se assemelhava muito com uma gravata. – Eu não acredito que está de terno. – Luccino precisou conter uma risada.

- A companhia pede. – E Otávio apenas deu de ombros.

- Sabe major? – O italiano começou, enquanto se afastava para acender a luz. – Você tem se mostrado cada vez mais charmoso. Não acho que vou esquecer a cena de ontem tão cedo. – Ele voltou a se aproximar do outro, agora, ainda mais perto. Ao colar seus corpos, o mecânico segurou as mãos do militar e colocou-as em sua cintura. Então, passou a brincar com o bigode milimetricamente bem cuidado, enrolando-o em seus próprios dedos. – Eu adorei o que você fez na Casa de Chá. – A frase veio em um tom mais baixo, praticamente um sussurro, e os olhos negros lançavam um olhar indecifrável, como uma mensagem que Otávio teria o prazer de decodificar.

O major deixou o suave toque que sua mão depositava na cintura do italiano e passou a acariciar sua bochecha, um centímetro por segundo, seus rostos se tornavam mais próximos, o olhar do militar corria entre os orbes negros que o miravam e a boca, levemente, entreaberta que parecia lhe fazer um convite. Dentro dele, algo começava a borbulhar, a vontade de tocar aquele corpo, de sentir o contato da pele através de seus próprios lábios. Em milésimos de segundo, se imaginou jogando Luccino na mesa mais próxima, arrancando suas roupas, peça por peça e...

- Luccino! – Uma voz gritou do lado de fora da oficina.

O militar fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, depositando seu rosto no ombro do mecânico, na tentativa de não transparecer a raiva que correu por seu corpo. O italiano respirou fundo e se virou, deparando-se com o semblante encabulado de Edmundo, muito provavelmente, ele percebeu a interrupção que causara.

- Edmundo, boa noite. A oficina está fechada. – Mas Luccino não conseguiu se conter.

- Desculpe, eu vi a luz acesa e acabei entrando. – Edmundo respondeu rapidamente. Agora, ainda mais constrangido. – Eu estou indo para a confraternização do Ernesto e pensei que você poderia querer companhia.

O italiano levou a mão ao rosto e declarou:

- Eu esqueci completamente da confraternização.

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⏰ Last updated: Jul 17, 2019 ⏰

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2019 - Uma história LutávioWhere stories live. Discover now