Capítulo 1- Where it all began

34 3 1
                                    

"Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado".

Roberto Shinyashiki

O que é a vida?

É o período que decorre do nascimento à morte. O tempo de existência ou funcionamento de alguma coisa. É o compromisso que tem hora exata para começar, mas indeterminada para acabar. É anos de incerteza, de frustrações, conquistas, alegrias e tristezas. Para uma grande minoria que dispõe de bens e grandes fortunas a vida é mágica, bela e perfeita, para uma grande maioria, ela é cruel, injusta e trágica. Sempre me perguntei qual era o sentido da vida, mas nunca cheguei a uma conclusão exata. Acredito que seja a busca pela felicidade e satisfação dos desejos de uma vida simples e tranquila, mas será que é isso mesmo?

Às vezes, tenho a sensação que o sentido dela seja apenas: nascer, crescer, se reproduzir e morrer. O mundo é tão devastador, cheio de injustiças e coisas ruins. Pessoas passando fome, crianças sendo abandonadas e muitas outras maldades que nem consigo imaginar. A impressão que tenho, é que vivemos em um Reality Show, daqueles com provas de resistência, em que as dificuldades da vida são as provas para passar de nível e quando você não consegue passar por esses desafios, você perde e morre, simples assim. Conheço pessoas que trabalham duro e que, mesmo assim, não conseguem levar uma vida tranquila Apenas ganham o suficiente para sobreviver. Meu pai foi uma dessas pessoas, ele passou sua vida toda trabalhando para conseguir alguma coisa, mas infelizmente, acabou falecendo sem nem conseguir realizar os seus sonhos. Não me lembro muito dele, tinha apenas três anos quando ele se foi, mas minha mãe sempre nos lembra do quanto ele se sacrificava para ver o sorriso no meu rosto e do meu irmão. Ele desistiu de seus sonhos, para nos dar comida e um lar quentinho e repleto de amor. Pensar sobre o futuro me apavora, saber que ele só depende de mim... me aterroriza. Sempre vivi rodeada de pessoas que possuem tão pouco, mas que são tão felizes. Elas me inspiram todos os dias, com suas forças de vontade e caráter, me fazem refletir sobre tudo ao meu redor.

Terminei o ensino médio com quinze anos, minha mãe se orgulha disso o tempo todo, conta para todo mundo, passei os piores anos da minha vida na época de escola. Sempre fui a esquisitona do colégio, não me encaixava em nenhum grupo. Só me chamavam para participar de alguma coisa quando era do interesse deles. Nunca fui de tentar impressionar para ser aceita pelos grupinhos da escola, sempre fui eu mesma, doa a quem doer. E não me arrependo.

Me formei como a melhor da turma e ainda fui a oradora da formatura, o que sem dúvida deixou minha mãe super orgulhosa. Ela saiu da formatura dizendo para todos os presentes, que eu iria fazer faculdade de Medicina, mas sinceramente, não quero. Não tenho estômago, psicológico e muito menos inteligência para isso. Acho que ela vai tomar um susto, quando descobrir que passei na faculdade e que escolhi Jornalismo. Ela vai surtar. Aqui em casa somos apenas nós três, minha mãe, Helena, trabalha como contadora para uma multinacional, a melhor pessoa que já conheci e a que mais admiro. Sempre que tem um tempo livre pega no meu pé, por conta do meu jeito de ser, mas infelizmente ... não posso mudar isso. Meu irmão mais velho, Louis, mais conhecido como lulu, para os mais íntimos, no caso euzinha. Coloquei esse apelido nele, por causa de um presente que ele me deu no meu aniversário de quatro anos. Não lembro direito, mas minha mãe diz, que o Louis chegou todo feliz com um galo de pelúcia que emitia uns sons de Galo, mas em vez de cacareja o ursinho fazia lulu, estava quebrado. Fiquei tão feliz com o presente que comecei a chamá-lo de lulu, depois daquele dia, não parei mais e o apelido pegou. Lulu é sete anos mais velho que eu, e estudante de Engenharia. Nós éramos muito amigos, mas depois que ele entrou na faculdade mudou por completo. Não conversamos mais como antes, tudo que sei foi ele quem me ensinou. Aprendi a jogar bola com ele, hoje em dia sou muito melhor que ele. Além disso, Lulu também me contaminou com sua paixão que é andar de skate. Não tenho ideia do que mudou entre a gente para ele se distanciar, mas sinceramente, morro de saudades dele. Espero que algum dia ele lembre que tem uma irmã caçula que é louca por ele.

Hoje é o dia mais esperado por mim, é o meu campeonato de skate! Minha mãe vive falando que isso é coisa de menino, que devia parar com isso etc. Mas não estou nem aí, amo andar de skate e vou continuar andando independente do que ela diz ou pensa sobre.

— Vai aonde mocinha? — Dona Helena, disse do balcão que separa a cozinha da sala, forço um sorriso sem graça, enquanto me viro lentamente.

— Sair, espairecer! Estou cansada de ficar nessa casa — sua expressão com sobrancelhas erguidas, me indicava que ela não tinha acreditado em nada.Também, né? Desde quando euzinha, em sã consciência vou dizer que quero sair? Só rindo mesmo.

— Você está dizendo que vai sair? — disse, mas dessa vez suas sobrancelhas estavam ainda mais altas. Se continuasse assim, não daria para diferenciar onde começar e terminava o seu cabelo. — Ainda mais a essa hora da manhã? — realmente deveria ter escolhido uma desculpa melhor.

— Mãezinha? Então...hoje tem campeonato de Skate e ... estou indo assistir já que a senhorita me proibiu de participar — disse e ela me analisou de cima pra baixo — Por favor, mamis? — juntei as mãos implorando e por fim depois de algumas encaradas ela sorriu.

— Pode ir — sorri e a abracei imediatamente — Querida? Vai ter uma festa na empresa e minha chefe pediu que levássemos a família toda. Só estou te avisando que você vai e ainda vai usar vest.... — sai de casa antes que ela terminasse. Deus me livre de usar vestido, mostrar meus caniços por aí, mas nem morta.

*

Tudo estava tão lindo na praça em que ia acontecer o campeonato. Ao redor da pista, a produção montou uma arquibancada. Faixas coloridas penduradas por todos os lados, tinha até repórteres cobrindo tudo de pertinho. Algumas pessoas tinham levado torcida organizada, notei que tinha grupos com camisas dos participantes. Do outro lado da praça, um pequeno palco foi montado e, nele, todos os juízes estavam conversando, totalmente alheios à euforia das pessoas na parte de baixo do palco. Estava tudo indo bem, exceto pelo fato de ter me confundido e ter ido no dia do campeonato masculino. Embora não ache que seja um problema, acredito que eles ainda vão me deixar participar. Caso contrário, vou fazer um barraco. Entrei na fila que dava para a barraca de inscrições, demorou uns trinta minutos para ser atendida. Nota ZERO para a organização do evento.

— Bom dia, como posso ajuda-lá? — um senhor rechonchudo com olhos puxados me perguntou.

— Gostaria de realizar a minha inscrição no campeonato de Skate — disse esperançosa, mas já sabendo que ele ia negar.

— Minha jovem, essa daqui é as inscrições do campeonato masculino. Infelizmente, o feminino ocorreu semana passada.

— Eu sei moço, estava muito ansiosa por conta desse evento e acabei confundindo as datas. O senhor pode me ajudar?

— Sinto muito, mas não posso.

— AAAAh, poxa! Por favorzinho, vai? — tentei imitar o olhar fofo do Gato de Botas.

— O máximo que posso fazer é falar com os juízes, se eles estiverem de acordo você vai poder participar.

— O que o senhor está esperando? Vai lá falar com eles logo, por favorzinhooo — disse o fazendo rir, ele se levantou e saiu correndo. Uns dez minutos depois, ele voltou com uma cara super triste, caramba! Sou super azarada mesmo.

— E aí, eles disseram não? — perguntei, imaginando o pior.

— Eles disseram que VOCÊ PODE PARTICIPARRRR!!!

— AHHHHHH MEU DEUS! Obrigadaaaaaa — saí abraçando o cara que nem louca, nem acredito nisso, finalmente vou realizar um sonho antigo meu e do meu irmão. 

Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora