cap. 1

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  • Dedicado a Joana Garcez
                                    

A chuva caía lá fora, e tal como ela caía a minha vida também, de forma lenta, molhada, triste e fria. Mas eu fingia que tudo estava bem, no fundo tinha que estar, eu tinha que ser mais forte que os medos e os acontecimentos que rondavam a minha vida, o meu coração e a minha alma.

Anny corria lá em baixo, não a ouvia rir ou chorar, não sabia neste momento se ela estava a cantar ou a conversar com um brinquedo qualquer. Ela não falava, e por não o fazer, acho que o meu corpo corria para também deixar de falar. Nunca precisei de falar. A doença podia ter-nos afetado às duas, era bem melhor assim.

Mais um anúncio no estúpido do televisor sobre os One Direction, a sério?! O que é que estes rapazes têm de especial? Sabem cantar? Uou, que impressionante! 

Mudo o canal e por breves instantes ouço um enorme chocalhar lá em baixo, tive medo, como a Anny não fala seria seguro verificar se estava tudo bem. Desci as escadas a correr e tropessava em todos os meus dedos dos pés. Será que ela estaria magoada?

Finalmente encontrei-a. Estava sentada em frente à televisão, os seus olhos remexiam-se freneticamente no seu rosto, ela balançava o corpo e sorria levemente. Eram os One Direction de novo, ela realmente amava-os, quase tanto como eu a amava a ela.

Anny era muda, um problema de nascença, tinha oito anos e era diferente das outras meninas da escola. Ela gostava de ouvir música e deixar as brincadeiras mais infantis de lado. Ela gostava de vasculhar os meus livros, gostava que eu a levasse à praia e nadasse com ela e depois lhe fizesse um batido de morango e um leite quente antes de dormir. Gostava que eu lhe contasse histórias inventadas sobre o Harry Styles e gostava de planear o casamento dela com ele, também dizia que algum deles devia casar comigo, porque diz que sou muito bonita, e todos os dias, ela pesquisava na internet factos sobre eles e todos os dias, mesmo eu não sendo fã, eu sabia cada detalhe deles e cada movimento que eles faziam.

Ela chamou-me e eu desloquei-me até ela e de forma gestual ela disse-me que eles estariam cá no próximo ano e que haveriam passes de ida aos bastidores. Apesar de não gostar nem um pouco deles, esbocei um sorriso, talvez isso a fizesse feliz.

Fui até ao meu quarto e fiz uma leve pesquisa na internet sobre o seu grande concerto cá, em Sidney, achei que deveria ligar à Jane e liguei.

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora