cap. 8

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  • Dedicado a Maria Oliveira
                                    

Corri pelas escadas a cima na procura do telefone e quando o encontrei peguei nele e saltei para a cama a carregar em todas aquelas teclas até encontrar no registo de chamadas o número que tinha ligado e que precisava de falar comigo. Seria ele? Oh meu Deus. Sou ridícula demais. Como poderia ele saber o meu número de telefone? Nem sequer o meu nome sabia ou pretendia saber. Finalmente encontrei o que procurava e todos os meus pensamentos vaguearam bem para longe. Carreguei no famoso botão verde que me permitia aceder à voz que quis falar comigo. Esperei. Esperei. Voltei a esperar.

"Ligou para a bilheira da Opera de Sidney, está a falar com o funcionário Marcus Venesses, em que lhe posso ser útil?", uma voz masculina apagou o silêncio que me fazia desesperar, mas neste momento senti a chama da esperança que tinha a morrer e acalmei.

"Olá, bem, eu liguei-lhe porque à pouco ligaram para mim deste número, sou a Alexandra Garcez.", afirmei.

"Ah sim! Desculpe, era apenas para lhe dar a informação que os seus bilhetes já estão disponíveis para levantamento. Reservou bilhetes VIP e M&G para a banda One Direction certo? Pelo menos é o que aqui está escrito.", o funcionário não me deu nenhuma novidade, o que me deixou furiosa, visto ter lido as letras pequeninas na página da Internet a dizer que o levantamento tinha de ser feito no prazo de 15 dias, mas mesmo assim mantive a minha simpatia.

"Obrigada pela informação, amanhã deslocar-me-ei até aí e lavantarei o pretendido, boa noite.", desliguei a chamada e atirei-me de costas para a cama ficando deitada com o telefone chegado ao peito. A vida nunca poderia piorar mais do que já está agora, como eu gostava que fosse diferente, ou que alguém o fizesse diferente.

Decidi não me levantar mais da cama hoje, poderia possivelmente levantar-me mais tarde e fazer um leite com bolachas. Agora só queria dormir. Também não fazia falta na vida de ninguém, nem ninguém faria na minha vida. Sei como estou enganada em relação à segunda opinião. Eu importo-me, se não o fizesse nem sequer me dava ao trabalho de ir para a padaria, nem sequer tinha conhecido o rapaz estúpido de escuro.

Acabei por adormecer e acordei com os meus avós  a bater a porta do quarto deles. Teriam já adormecido a Anny? Iria levantar-me. O Wiltson também estaria à minha espera, pois precisa de dormir na minha cama. Desci porque estava cheia de fome, mesmo que não tivesse, tinha de me alimentar, não comia nada de especial quando trabalhava todo o dia, a ansiedade devorava-me cada vez mais.

A casa estava escura, não consegui, nem tive coragem de acender alguma luz. Abri o frigorífico e o que imanava dele era suficiente. Peguei no leite e numas bolachas, abri a porta da rua para o Wiltson entrar e decidi espreitar o quarto da Anny.

Estava a janela aberta, o vento transportava os cortinados de fora para dentro e de dentro para fora, num movimento sempre constante. Optei por ir fechar a janela e espreitar o céu. Comparativamente ao outro dia, hoje, estava estrelado. Adorava ver as estrelas, o meu pai sempre jurava que algum dia as podia fazer dançar só com os meus sonhos. Nunca as fiz dançar até hoje.

Movimentei-me para o meu quarto e sentei-me na minha cadeira a pensar como a Anny adormeceu bem sem a minha presença e eu pensava que isso seria impossível. Se calhar estava a crescer, ou então estava a afastar-se cada vez mais de mim.

Quando me deitei na cama custou-me a adormecer, comecei a fazer figuras nas paredes e por fim, adormeci.

Oito e meia da manhã. Era o meu dia de folga e resolvi tirar o proveito. Vesti-me no entanto e fui até às bilheteiras da Opera. Fui recebida por uma fila inicial enorme, ainda pensava eu que eles não tinham assim tantos fãs. A sério que não sabem guardar o dinheiro para melhores acontecimentos futuros? Isto não fazia mesmo parte dos meus planos, passar a minha folga numa fila extensiva. Estava calor e morria de sede. O dia estava a começar mal. Ao meu lado estavam imensas raparigas histéricas e o que mais me surpreendeu foi que eram perfeitamente da minha idade. A sério. 

"Bom dia, qual é o nome da reserva?". finalmente já estava a ser atendida por uma mulher mal encarada com o buço por fazer. Podia pedir melhor?

"Alexandra Garcez.", a mulher arregalou os olhos quando viu a quantia que eu iria depositar e abanou com a cabeça com um sinal de desaprovação.

"Há algum problema?", perguntei parecendo ignorante em relação aos seus pensamentos.

"Nada. Que tamanho de camisola prefere?", respondeu-me arrogantemente, mas nem isso liguei muito naquela altura. Só não estava a entender. "camisola???", não pretendia camisola, apenas um raio de um papel que permitisse a mim e à minha irmã a entrada no concerto e a estar com os seus super ídolos.

"Camisola? Tamanho?", interferi.

"Estou mesmo a ver que vai ser complicado.", mas uma vez a mulher respondeu-me de uma forma que eu não desejava e acabei por responder calmamente. 

A mulher lá acabou por me explicar que com aquilo que eu pretendia, tinha direito a várias coisas que estavam incluídas, exatamente como um kit, com camisolas, posters, canetas, caschecóis, bonés, passes que depois colocaria ao pescoço e ainda uma máscara com a cara deles. Oh meu Deus. Senti-me tão inutil que quando me pediram uma camisola para mim pedi com a cara do que tivesse menos fãs, realmente eu nem sabia o nome de nenhum sem ser "Harry", mas não pedi uma camisola dele, queria que a minha irmã tivesse uma única, se pudesse nem pedia nenhuma para mim. 

Caminhei até casa e a partir desse dia todos os dias passaram a voar e nenhum deles mudou, tudo continuava igual em casa, tudo continuava igual no trabalho, discutindo algumas vezes com o senhor Grogan e até com o meu avô. Não senti evoluções na Anny e muitas vezes ela chorava à noite, nenhum de nós ouviamos, mas de manhã todas as lágrimas dela secavam os seus olhos. O Wiltson corria feliz quando eu o levava aos sábados comer um gelado comigo e quando eu lhe atirava o pau de carvalho velho lá no parque da cidade ele rebolava na relva limpa e sentia a terra bem debaixo das suas patas. O Thomas costumava vir para o meu varendal e conversavamos durante longas horas e o discurso era sempre o mesmo. Nunca mais soube do rapaz de negro, nem ninguém que tivesse metade do seu charme me apareceu pela frente. Ainda apanhei a Anny a rever fotografias dos pais e a ouvir músicas dos One Direction. Cada dia me sentia pior e não sabia se algum dia me iria sentir bem ou se me sentia preenchida de amor. 

Estava uma manhã bonita de Verão e hoje.... Bem, hoje era o dia do concerto. 

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora