cap. 12

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O meu rosto estava pálido e desolado mas o rosto dele partilhava esses mesmo adjetivos. Por momentos o olhar dele morreu e eu não tive coragem de dizer nem uma palavra mais, ele não merecia nem isso. Nada. O ar desesperado dele, o ar de culpa a rodea-lo, faziam-me sentir melhor. Ele merecia que alguém lhe mostrasse a realidade das coisas. A vida não é um conto de fadas. Só se for para ele, um rapazinho mimado que tem tudo o quer. Carros. Casas. Hotéis. Viagens. E o que ele mais gosta, raparigas histéricas e inocentes que dão tudo por uma fotografia ao lado dele.

Ele olhou para Anny que me parecia verdadeiramente confortável com a situação, não chorava, nem sentia que me pedisse para ir embora. Eu acho que ela estava à espera de alguma coisa vinda dele.  Eu esperava por ela, visto já não conseguir esperar mais nada dele. Aliás, nunca esperei nada. Só queria que tivessem todos um pouco de sensibilidade. Mas era pedir de mais, não era?

"Desculpa, Anny, eu não sabia.... Eu nem sequer reparei..", ele teve a dignidade de pedir desculpa, era um começo. No entanto meti-me na suposta conversa deles e não deixei nem por um segundo que ele voltasse a cometer o erro de magoar a Anny.

"Estás desculpado, agora vamos embora Anny.", por surpresa ela largou a minha mão e agarrou-se a Harry que disse aos seus guarda-costas monstruosos que nós as duas iamos ficar mais um pouco . O resto das raparigas deslocaram-se para o exterior murmurando insultos contra mim. Odiava isto. Ainda por cima estava a ser tratada assim por pena, não por Anny ser uma menina especial, porque mais que muda, ela tinha qualidade que mais nenhuma da idade dela ou mais velha, irá ter. Enquanto isso ele continuava a elogiar Anny e a desculpar-se. Era algo que ela merecia, mas eu não, eu não merecia estar ali, eu não queria desde sempre.

Fui surpreendida quando lágrimas desciam pelo rosto de Harry, apesar de o detestar, estava a doer-me ver aquilo e vê-lo ajoelhado em frente a Anny, que lhe passava as mãos no rosto, sem sorrir, e sem, obviamente, falar.

"A sério Anny, sinto que te magoei muito, eu não queria....", e o discurso não acabava e os minutos passavam e cada vez mais o tempo deles entrarem em palco começava a apertar. Era suposto sermos umas fãs normais e não termos o previlégio de estar com eles mais tempo. A Anny sabia o que estava a fazer.

"Harry.", tive coragem de lhe falar, não queria, mas teve de ser. O seu rosto levantou-se para se encontrar com o meu e quando se encontraram perdi-me nos seus lindos e verdes olhos preenchidos com lágrimas, senti-me fraquejar, ele parecia tão vulnerável naquele momento que o meu ódio quis saltar fora do meu corpo, mas eu não quis, não por agora.

"Acho que está na hora de irmos... Quer dizer, tens que entrar em palco daqui a dez minutos.. Tens montes de coisas para fazer antes e...", continuei.

"E nada, Alexandra, sei o quanto estar aqui deve ser importante para Anny, acho que posso aproveitar todos os minutos que tenho antes de entrar em palco.", arregalei os olhos. Não estava à espera daquela resposta nem daquela atitude. Parecia-me correto e ao mesmo tempo não parecia. Existem coisas importantes e ele não iria perder o seu tempo conosco. Quer dizer, com a Anny. Com a Anny.

Quando dei por mim, Anny, gestualmente, pedia-me para dizer uma coisa a Harry, visto que ele não entendia muito sobre a linguagem dos mudos. Ela dizia-me para dizer que o adorava, que ele era o seu ídolo e nem por nada deste mundo estava magoada com ele, que foi o melhor dia da sua vida e para ele ter muita força e muito sucesso que ela o apoiaria, para sempre. Lágrimas escorreram pelo meu rosto e senti-me orgulhosa pelo uso das suas palavras. Estava uma mulher.

"Alexandra, o que ela disse?", Harry parecia curioso e o seu olhar estava bem atento na minha boca esperando pelas minhas palavras, que certamente lhe iriam aquecer o coração. Sorri para ele. O meu primeiro sorriso sincero. Contei-lhe tudo o que ela tinha dito e no fim ele apertou-a novamente nos seus braços tatuados, tão... tão protetores e atrativos. Faltava mesmo pouco tempo para eles entrarem e nós ainda estavamos ali. Mas só eu, ele e a Anny. Numa sala grande, que quase fazia eco.

"Bem, agora parece-me que temos de ir.", afirmei enquanto olhava para o meu relógio no meu pulso fino e frágil.

"Tens assim tanta vontade para ir embora?", confrontou-me da pior maneira, acho que voltei a detesta-lo um pouco mais. Mas quem era ele para duvidar das minhas decisões? Eu desejaria nunca lá ter postos os pés. Foi um dia da minha vida que eu perdi. Vinte e quatro horas da minha vida era muito tempo desperdiçado com ele.

"Não tens um concerto para dar?", ataquei. Foi a melhor resposta que encontrei para lhe dar. Não há nada melhor que responder com uma pergunta. Ele procurava palavras para mim, mas vi que não as escontrou quando me respondeu.

"Certo.", foi breve e seco, como eu esperava.

"Certo.", respondi-lhe do mesmo modo, cruzando os braços. Ele partilhou uma risada com Anny.

"Desculpem, estou fora, não vejo onde está a piada.", fiquei aborrecida, teria ele a lata de gozar comigo depois de tudo? Até a minha irmã ele virou contra mim? Não sabia com quem estava a lidar, ele não sabia mesmo.

"Nada.", novamente seco e áspero. Assim eu gostava. Não gostava do Harr engraçado, não tinha confianças comigo para ser assim, não comigo. Não sou uma fã dele. Repito. Nunca vou ser. Despediu-se da Anny com beijos e abraços, suspirei e encolhi os ombros. Ele não parecia falso, mas não parecia completamente genuíno. O que causava em mim arrepios, não queria que ele parecesse um mistério para mim e eu para ele um isco fácil. Cada vez mais odeio famosos.

"Vamos Anny?", ela deu-lhe um hi-five e um último sorriso, deu-me a sua mão e caminhamos para a porta enquanto ela lhe continuava a acenar com o braço oposto. Já não foi suficiente o tempo que passaram juntos? Era preciso mais que isto para eu acreditar que Harry era mesmo boa pessoa. Dos outros não tenho sequer algum tipo de opinião não olharam para mim nem sequer soltaram uma palavra a respeito daquilo tudo. Como digo, pessoas sem coração.

Já no corredor ouviam-se os gritos cada vez mais fortes e nítidos, eram as fanáticas desejosas. O concerto ia começar mas não me apetecia correr para ficar na primeira fila. Acho que já estava enjoada daquelas vozes, daquelas caras. Queria estar calma e encontrar a minha paz interior, parecia impossível naquele dia. 

"Hey, Alexandra!", uma voz voou por cima do meu ombro, reconheci e olhei para trás.

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora