cap. 4

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  • Dedicado a Isabel Marques
                                    

Estava com medo. Sentia cada músculo do meu corpo a saltitar por baixo da minha pele. O Wiltson desceu da cama mais rápido do que os meus olhos podiam observar, esperei questões de segundos e a porta abriu-se sozinha seguidamente com o ranger. Assustei-me mais do que devia, tinha as mãos transpiradas e os olhos arregalados. Leventei-me da cama e sentia os olhos do Wiltson a anotar todos os meus paços. Cheguei à porta e espreitei pelo corredor. Nada. Fechei a porta e certifiquei-me que a janela do meu quarto estava fechada e passei as mãos pelos cortinados bordados pela minha avó. Era tão suave quanto eu me lembrava dos braços da minha mãe. Debrucei-me na janela e a lua estava distante. Quantos metros podia estar eu distante da minha felicidade completa? Quantos metros podia estar eu para encontrar alguém que me confortasse a dor que preenche cada dia o meu coração? Coração, que coisa mais supérflua isto do amor. Definitivamente tenho de ir dormir. 

Deslizei para a cama, o Wiltson estava sossegado, ainda bem. Deitei a cabeça na almofada e não me senti a adormecer.

Oito da manhã. Já estava a pé e mais que preparada para o meu primeiro dia de trabalho. Vesti umas calças brancas, uma camisola pouco reveladora e calcei as minhas sandálias. Olhei-me ao espelho e senti-me bem, bastante bem. Passei pouca base no rosto, não tinha a certeza se era permitido a utilização dela, mas acreditei que sim. Desci as escadas apressada, peguei numa maça e na minha mochila, beijei o rosto dos meus avós e abracei docemente a Anny que via televisão, deixando o Wiltson com ela, visto que ele esperava calmamente e atentamente o seu croissant. Deixei um sorriso escondido enquanto fechei a porta.

"Ah!", assustei-me claramente quando olhei para o rosto encantador e ao mesmo tempo perturbador do Thomas. Comecei a rir-me e senti as minhas bochechas a ficarem rosadas.

"Desculpa Alexis! Não queria assustar-te!", o rosto dele apavorado com o facto de me ter assustado fez-me ainda mais rir, então rimos juntos até o ar se acabar dentro dos meus pulmões.

"Não tem mal, tenta apenas não voltar a repeti-lo...", fechei a porta e comecei a caminhar ajustando a minha mochila e caminhando até à minha bicicleta. 

"Então soube que arranjaste emprego, muito bem, estou orgulhoso. Tu a fazer alguma coisa sem ser estudar e andar com o teu saquinho de pulgas atrás. Por falar nisso, o Wiltson?", o Thomas é desde que me lembro o meu melhor amigo, crescemos juntos porque ele vive mesmo aqui ao lado e quando os meus pais morreram e eu ia muitas vezes para casa dele mais a Anny e todos juntos viamos um programa de TV qualquer que envolvia bonecos a cantar músicas ridículas com fatos de verdes disparatados. O Thomas é um bom companheiro e o mestre das piadas. Acho que sem ele nunca tinha conseguido ultrapassar a fase mais obscura da minha vida e estar neste momento a caminho do trabalho.

"Ficou com a Anny em casa, E deixa de ser o mau do bairro! Até logo Thomas, tem um bom dia!" Acenei-lhe já sobre a minha bicicleta e a pedalar para o meu trabalho.

Consegui não chegar atrasada ao meu primeiro dia de trabalho, ao que pensava que ia ser impossível porque ainda tinha perdido um bom bocado com o Thomas lá perto de casa. Estava entusiasmada e ao mesmo tempo muito excitada. Parei em frente ao estabelecimento que seria a minha segunda casa durante pelo menos mais dois anos, isto é, se tudo correr bem. O lugar dos seus sonhos. Parecia-me bem e visto que sou uma pessoa sonhadora tudo se encaixava comigo.

"Bom dia menina Alexandra, finalmente chegou!", fui ironicamente bem recebida pelo meu chefe mal-humorado. Estava ele com os seus suspensórios azuis com a sua barba por fazer.

"Bom dia senhor Grogan, o que posso fazer?", comecei a minha conversa docemente a esboçar o meu sorriso mais sincero e dedicar-me ao trabalho que ele me iria indicar.

"Bem, vai lá dentro e põe uma bata por cima dessas tuas roupas e depois podes começar a lavar aqueles pratos porque vamos ter certamente muita gente que vai querer provar os doces maravilhosos que têm de ser servidos em pratos requintados e pintados à mão! Vê lá, não quero que partas nada, sai do teu salário!", os meus ouvidos até estavam a doer e a informação não era assim tanta. Larguei mais um sorriso e respondi-lhe que ia meter as mãos na massa. Vesti a minha bata que de certa forma era agradável e deixava-me confortável. 

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora