cap. 7

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  • Dedicado a Sofia Oliveira
                                    

Quando me virei, com a cara completamente inchada e com os olhos quase derramados em ansiedade medrosa.... Encontrei a Christina. Encontrei a Christina com o seu sorriso delicioso a sorrir para mim, com os seus dentes delicadamente escovados e com o seu cabelo arranjado. Ela era uma especial secretária, mas também sabia que ela fazia algumas limpezas por aqui. Não entendo como consegue manter aquele aspeto, tão elegante e selectivo. Os meus tremores correram-se por mim e espalharam-se pelo chão, fugindo-me, deixando tudo à minha volta tranquilo. 

"Oh meu Deus, Christina, juro-te que me assustei, pensava que era outra pessoa!", disse pousando os meus olhos nos dela e senti que os seus pensamentos foram exatamente para aquilo que eu não queria, de todo. Ela sabia o quanto eu achava misterioso o rapaz de preto que frequentava aquele lugar, eu apostava a minha vida que ela sabia quem ele era, mas nunca me dizia, deixava o seu sorriso afundar a minha vergonha sobre aquele assunto.

"Vieste aqui entregar a minha encomenda ou procurar alguém Alexis?", o seu riso abafou aquele corredor vazio e o meu corpo entregou-se aquela fantasia da Christina, mas não ri com ela, aliás, repreendia.

"A sério Christina, não é nada disso que eu estava a pensar... quer dizer, de quem eu estava à procura, era uma perda de tempo procurar por alguém que não gosta lá muito de mim!", forcei um sorriso e senti lágrimas a espalharem-se bem por trás dos meus olhos. Mas porra!? Porque estaria eu a chorar, ou melhor, com vontade de o fazer, que diabos, oh meu Deus, raios partam o ignorante qualquer que pensa que é a escuridão com todas aquelas roupas macabras. 

"Eu sei que não, querida.", Christina aconchegou-me os ombros e abraçou-me delicadamente como se eu me tratasse de uma pérola, algo que eu definitivamente não era. Estiquei-lhe os braços com o embrulho e ela deixou-me um beijo caloroso no rosto e mostrei o meu melhor sorriso. Falamos um pouco sobre como estavam a correr as coisas na padaria e literalmente estavam bem, até agora, até agora que dei com a Christina a pensar que o meu ser presunçoso corria atrás de uma possível figura conhecida. Achava eu. Ou então um rapaz desesperado que gostava de frequentar estas zonas.

Voltei para a padaria, não estava com cabeça para isso mas era, sem pensar duas vezes, a minha inteira obrigação e responsabilidade. Devia aprender a não pensar tanto em esquecer as coisas que me rodeavam apenas porque uma má fase passou na minha vida.

O caminho até à padaria foi bem mais curto desta vez. À entrada vi poucos clientes e o senhor Grogan lidou bem com o assunto. Fiquei feliz. Acho que hoje não seria o meu dia de simpatia como eram todos os outros. Ainda sentia o meu corpo a lidar com o susto e a minha cabeça parecia estar ainda fora do lugar. Consegui, no entanto, servir todos os meus habituais clientes e todos eles prometiam voltar, nem que fosse para tomar um café e ler as novas notícias. Alegrava-me que pudesse  eu satisfazer alguém algum dia, nem que fosse profissionalmente.

O dia estava a acabar e dava por mim à espera que alguém entrasse à última da hora por aquele lugar e dissesse o seu nome ou o que faria por aqueles lados. Mas porque é que me interessava por algo que não tinha interesse? Por algo que não me procurava? Tinha que deixar aqueles pensamentos voar e decidi ligar à Jane quando definitivamente fosse para casa descansar. 

Deixei a Lugar dos seus sonhos impecavelmente limpa e deserta. Certifiquei-me que as luzes se apagavam com a minha saída, embora o meu chefe se encontrasse ainda lá dentro a contar cada moeda que rodava nos seus dedos. Suspirei. No fundo, ele era um bom homem que apenas se deixava preocupar demais com ele próprio.

Respirei fundo quando abandonei o meu posto de trabalho e pedalei rapidamente ao lado do Wiltson, sentia-o eufórico com a minha presença. Devia ser demais para ele passar o dia sozinho com a Anny, que não é, definitavamente, quem mais comunica com ele ou que tem vontade de brincar e o levar a dar longos passeios, como ele sempre gostou de fazer. Acho que ele merecia um pouco mais da família que de um dia para o outro decidiu adota-lo e lhe dar um lar onde prometeu a pés juntos oferecer felicidade em copos cheios. Mais agora entendo que promessas não passam apenas disso, promessas.

Cheguei a casa e entendi que não devia ligar à Jane, achei que ela também o devesse fazer quando achasse que era oportuno. Depois dos meus pensamentos apanharem uma boleia, os meus olhos encontraram Thomas sentado à entrada da garagem, o meu primeiro pensamento foi que esperava por mim e realmente assim o foi. Precisava dele e talvez de lhe contar o que se andava a passar com o tal rapaz, ele poderia ter alguns conhecimentos sobre o assunto, afinal ele era um deles, apesar de por vezes, se sentisse uma rapariga, tal e qual como eu.

"Então rapariga gira?", recebi o seu confortável abraço. Merecido depois do dia de hoje. Depois de abandonar os seus braços que tinham sentido com todas as minhas emoções, encolhi os ombros e virei-me de costas para ele deixando escapar um leve suspiro que o deixou surpreso.

"Vai tudo indo.", disse-lhe enquanto arrumei a bicicleta e percorri o caminho construído pelo meu avô até à entrada de casa, onde iria encontrar todos a tentarem ser uma familia normal e acolhedora. O Thomas acompanhava-me e falava de várias coisas ao mesmo tempo e começava a aborrecer-me, eram de facto coisas que não faziam qualquer sentido ou diferença na minha vida e na dele também não. Jogos de hóquei. Computadores e corridas de carro. O que importava isso neste momento?

"Talvez gostasses de vir um dia comigo...", tinha perdido a conversa e só agora se fez luz. Não quis parecer desinteressada, então limitei-me a acenar com a cabeça e a rodar a maçaneta da porta.

"Espero sinceramente que fiques bem, reparei que não quiseste saber muito da conversa.", apanhou-me. Acho que estava na hora, não devia fingir mais, pelo menos agora que ele entendeu o meu estado.

"Acho que não tens de levar com os meus problemas.", afirmei. Realmente ele não tinha de o fazer. Eu já era crescida o suficiente, podia tomar conta de mim sem ter que atormentar todos os que me rodeiam devido ao meu estado infantil e exagerado. O que tinha de errado comigo? Nada. Os meus pais morreram num acidente de viação, a minha irmã era muda e os meus avós passavam dificuldades, quase não tinhamos o que comer e a mesma água que nos molhava era a mesma que nos matava a sede. Obrigada a mim mesma por existir. Devia bater palmas.

"Não fiques assim, tudo se vai resolver, tudo vai ficar bem", recebi o sorriso dele e quase me contagiou, mas deixei essa febre de tentar ser feliz e parecer agradável por hoje e simplesmente fechei-lhe a porta na cara deparando com a Anny mesmo em frente a mim quando me virei.

"Hey Alexis, ligaram para cá à dois minutos, disseram que precisavam de falar contigo." afirmou o meu avô.

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora