cap. 21

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Estava sozinha e já me sentia escura. A bagunça tinha desaparecido fisicamente mas de uma forma brusca ainda se encontrava bem presente na parte remota do meu cérebro onde faço questão de deixar as coisas maliciosas que me acontecem. Sentia o meu corpo gelado e as minhas mãos estavam esfoladas dos produtos químicos que usei para limpar, tinha golpes nos dedos devido aos vidros que se desfizeram no chão quando o Harry saltou para o lado de dentro do balcão e os meus lábios estavam gretados da febre que se gerava em mim. Não tinha vontade de voltar para casa nem muito menos teria vontade para explicar tudo o que aconteceu no dia anterior, mas precisava de um banho, precisava de ver o Wiltson, a Anny e os meus avós.

Fechei a confeitaria e quando me voltei não encontrei a minha bicicleta no sítio que costumava deixar, provavelmente foi roubada durante a noite. Não vi o Wiltson à minha espera, nem respondeu ao meu chamamento, então simples segui a pé até casa, o que me consumia uns largos minutos e umas largas calorias que não possuía neste momento no meu corpo. Podia mesmo assim afirmar que nem a fome me fazia necessitar de me alimentar ou de fazer algo produtivo para o meu bem.. Sentia-me esfomeada de vazio, como se fosse possível inventar outro estado físico para caracterizar a minha solidão e a angústia que me deixava arrepiada. 

A poucos metros da casa da minha avó o Wiltson apareceu ao fundo da rua, com um ar melancólico e cabeça baixa. Assobiei e chamei pelo seu nome, tive medo da sua reação mas em poucos instantes levantou o nariz bem na minha direção e desatou numa correria frenética até mim. Ajoelhei-me para o receber e ele lambeu-me tanto que me senti como se acabasse de sair da banheira, abracei-o e disse-lhe que também estava morta de saudades e que nunca mais o iria preocupar como tanto o fiz. Levantei-me enquanto a sua cauda continuava imparável e os seus latidos incontroláveis, podia jurar que o meu melhor amigo tinha obviamente quatro patas. 

Juntou-se a mim no caminho até casa da avó, quando lá chegamos, senti que antes de abrir a porta devia suspirar e pensar numa boa desculpa por ter dormido fora de casa e por não ter dado notícias, coloquei-me no lugar deles e obviamente não perdoaria. Não me ocorria nada mais que a verdade crua e dura, neste caso, crua e vergonhosa. Encaixei as chaves no canhão velho, rodei e a porta abriu-se e Wiltson recuou. 

Passei os olhos pela sala e vi o meu avô sentado em frente à televisão, com o seu telemóvel e o telefone fixo no colo e a minha avó vi-a uns tempos depois, pois apareceu abafarida à porta da sala. Podia caracteriza-los horrivelmente, o meu avô estava com um olhar triste, desiludido e cansado, com a mesma roupa do dia em que me despedi e quando olhava para a minha avó não conseguia tirar os olhos das olheiras, do quanto estava preocupada e do cabelo despenteado que nunca está despenteado.

Dirigi-me até ao sofá, cumprimentei o meu avô e depois a minha avó que se já se tinha sentado à espera de uma justificação. Suspirei, estava com pouca vontade de explicar tudo o que se tinha passado e já estava triste o suficiente, não precisava de ouvir mais coisas do género "que irresponsabilidade", "não voltas a ter a nossa confiança" e "não tens idade para trabalhar". Sentei-me no sofá pequeno, coloquei os meus cotovelos sobre os meus joelhos, inclinando o meu corpo para a frente, as minhas mãos juntaram-se e os meus dedos brincavam entre si.

"Vais demorar muito a explicar o porquê de não teres vindo para casa e de não responderes às nossas chamadas?", a minha avó fazia-se sentir chateada na sua voz rouca mas também preocupada, estava neste momento de mãos dadas com o meu avô, que também esperava uma desculpa verdadeira. 

"A verdade pode parecer mentira.", no momento foi tudo o que me pareceu uma ótima introdução ou uma excelente preparação ao choque. Afinal, quem é que se vai acreditar que o Harry, ou melhor, o Harry Styles apareceu numa confeitaria qualquer da cidade para me ver? Quer dizer... Pelo menos foi isso que ele me disse, que veio para me ver.

"Só vamos acreditar se contares.", o meu avô já não estava tão ansioso pela minha justificação, eu estava bem e isso para ele era suficiente, consegui notar isso no seu olhar que era muito mais brilhante agora.

"Bem, um famoso foi lá à confeitaria e instalou-se o caos, as miúdas destruiram completamente o espaço e o tal teve de ficar fechado dentro da cozinha... comigo.", sentia-me envorgonhadíssima ao dize-lo, os meus avós podiam pensar que nos relacionamos intimamente e isso deixava-me apavorada. Porque jamais me relacionaria com o Harry! Ou relacionaria?

"E que famoso era esse?", a minha avó trazia a sobrancelha levantava enquanto me questionava, o meu avô forçava um ar sério e a vontade de se rir espalhava-se no seu rosto. 

"O Harry..... o Harry Styles.", suspirei e senti-me uma idiota a pronunciar o nome dele, a sério? Quem é que se vai acreditar que o Harry apareceu na confeitaria onde eu trabalho, exclusivamente para me ver?

A Anny apareceu nas escadas e aí eu tive a resposta à minha pergunta, a Anny acreditaria.

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⏰ Última atualização: Feb 08, 2017 ⏰

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Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora