cap. 2

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  • Dedicado a Leonor Summers
                                    

Liguei à Jane, em segundos ela atendeu. Conversei com ela sobre o interesse que tinha em ir a um concerto da tal famosa e incrível banda em causa. Ela riu de mim. Eu própria deveria rir, nunca tinha ido a um concerto antes, muito menos estava à espera de ouvir raparigas histéricas com as hormonas no auge a saltar e gritar mesmo perto dos meus ouvidos, a centímetros de ver a minha exaltação. Nunca tinha conhecido alguém famoso, muito menos, alguém, super famoso. Sentia um sorriso patético na cara dela quando lhe disse que pretendia dos bilhetes mais caros, para os bastidores e deixei-a ainda mais surpreendida.

"A sério Jane, quero mesmo levar a Anny a conhece-los, não me gozes!", mesmo assim sentia que ela queria explodir de riso a qualquer momento, "estás para aí com as tuas coisas mas tu também gostas deles!".

"Sim, eu gosto deles, claramente! Mas nunca pensei que tu alguma vez fosses gostar deles, do tipo de música deles.", ela teve o discaramento de me chamar anti-romanticos, mas no fundo ela tinha razão.

"Vou tentar aprender a gostar, não deve ser assim tão mau!" disse com todo o esforço para não parecer apenas conviniente. Ela voltou a rir.

"Acho que fazes bem, e visto que a Anny é completamente doída por eles, era uma grande coisa que fazias... Mas tu sabes o quanto esses bilhetes são caros, o que estas a pensar fazer?", ela estava certa, ia ser complicado juntar tamanha quantia de dinheiro e na verdade, eles estariam cá já para o próximo ano.

"Acho que vou assaltar uns bancos ou assim....", quis parecer completamente séria.

"Oh Alexi, de certeza que não falas a sério!", senti a voz dela assustada e não evitei a minha risada forte.

"Estou a pensar em arranjar um trabalho, de certeza que consigo fazer alguma coisa, até seria divertido!".

Imediatamente senti a concordância dela. Ainda pensei que ela quisesse vir comigo, mas o amor dela pela super banda ainda não chega ao ponto de querer ir a um concerto ouvi-los a cantar aquelas rídiculas músicas repletas de frases feitas. Aliás, nem eu o queria. Mas faço-o pela minha irmã, ela merece algum aconchego na vida, nem que seja ver e ouvir uns patéticos rapazes em cima de um palco e um monte de raparigas descontroladas .

Desliguei a chamada da Jane e vesti uns calções de ganga e uma t-shirt levemente rosa que tinha em cima da minha cama devidamente arrumada. Desci até à cozinha e falei com os meus avós sobre o que se iria passar, em relação ao trabalho e ao facto de querer levar a Anny ao concerto. Eles ficaram com um sorriso estampado no rosto, espero que sintam por mim uma admiração boa. Até eu estou admirada comigo mesma.

Fui à sala, a Anny continuava em frente ao televisor, achei que ela esperasse que eles voltassem ao grande ecrã e ela estava certa, eles voltariam com aquela horrenda publicidade, mas com certeza ela não sabia quando. Despedi-me dela e saí. O Wiltson estava deitado à porta, este cão não sabe como se comportar, então tenho sempre que acordar mais cedo para descer com ele e a minha avó não entender que ele dormiu comigo, na minha cama. Mas eu entendia-o, ele era um pastor australiano, malhado, com um olho azul e outro castanho, e sempre que me via eu tinha a certeza que o focinho dele esboçava um sorriso. Eu merecia o sorriso de alguém, nem que fosse de um cão, o cão da minha vida.

Ele seguiu-me e eu levei-o comigo. Saltei para a minha bicicleta e fui ao centro da cidade. Parei em quase todas as lojas a pedir trabalho, recebia algum conforto e noutros lados nem tanto. O Wiltson olhava para mim quase a entender o meu descontentamento, mas mesmo assim deixei o meu contacto, alguém iria telefonar. Ao menos eu esperava isso.

Continuei à procura e entrei na Opera de Sidney, isto aqui era luxuoso. Certifiquei-me que o Wiltson não se mexia de onde eu lhe pedi que ficasse e entrei por lá calmamente. Aquilo era magnífico, a sua arquitectura era moderna e fazia o meu coração palpitar. Era aqui que eu... quer dizer, a minha irmã, os ia conhecer. Mas que raios, não posso estar entusiasmada para ver alguém que não conhece. Certamente é tudo nervos por causa do trabalho.

Dirigi-me à porta principal, falei com uma funcionária e ela foi amorosa, ficou com o meu número de telemóvel e disse-me que falaria aos serviços administrativos sobre a possibilidade de me arranjarem um emprego. Agradeci e virei costas. Enquanto caminhava apressada, com medo que o Wiltson já andasse a fazer das suas, um rapaz bate contra mim e deixa-me atrapalhada, doeu. 

"Desculpa, a sério, estás bem?", o rapaz era alto, estava todo vestido de preto, camisola preta, calças pretas e um sapatos pretos, tinha uns óculos escuros e um gorro. O cabelo dele era incrível, estava todo desorganizado por baixo daquilo que o cobria, e os lábios dele eram claramente formidáveis. 

"Sim, eu estou bem.", disse quando finalmente pousei os pés em terra.

"Boa", senti o sorriso dele escondido perante toda aquela confusão. Confusão? Por favor, ele só bateu contra mim, e ele só é lindo, onde está a confusão?

Desviei-me dele e ele desviou-se para o mesmo lado, e depois novamente. Até que ambos rimos e eu consegui seguir o meu caminho e ele o seu. Ao menos podia ter-me dito como se chamava. Trabalharia aqui? Oh. Mas porque é que eu quero saber se ele trabalha aqui?

O Wiltson não tinha feito asneiras, permanecia no mesmo sítio. Pus-me na bicicleta e andamos perto ao mar, fazia-me bem, e ao patudo também. Parei e comprei um gelado. Obviamente que tive de o partilhar com ele, mas isso não me importava. Nada. Fiquei a observar o mar, estava calma e por momentos fiquei feliz por conseguir esta paz de espírito. Não tinha nada, excepto o Wiltson que me olhava docemente, a Anny que me fazia forte cada dia e a minha paz.

Acho que não preciso de pedir mais nada. O telemóvel tocou.

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora