cap. 20

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Vi a manivela da porta a rodar em câmera lenta, nunca nada antes pareceu doer tanto, senti mil e uma pontadas barulhentas no meu peito que causavam tempestades imensas e um rodopiar aflito de todos os órgãos no meu corpo, era exatamente igual ao medo, era escaldante, era doentio e fez-me sentir um frio tão gelado que por momentos deixei de sentir os meus próprios ossos. 

Os nosso olhos encontraram-se uma última vez quando o senhor Grogan mais dois homens corpulentos entraram na cozinha. Mesmo depois de saber que eram pessoas especializadas em proteger o Harry, senti tudo aquilo como se fosse um roubo, como se a verdadeira tarefa daqueles homens fosse rouba-lo de mim de uma maneira tão egoísta que não existiram adjetivos suficientes para caracterizar todas aqueles energias disparatadas que a minha mente depositava no meu coração, a esta hora, feito em trapos.

Quis agarra-lo quando o agarravam violentamente, quis gritar-lhes que parassem porque parecia doer-lhe tanto a forma como o seguravam naquelas mãos sujas e trabalhadoras, era terrível olhar para aquele momento, era terrível sentir a culpa de tudo isto acontecer. Queria ser eu a acalmar este dia, queria conseguir que os meus braços fossem tudo o que ele necessitava, mas a única coisa que o deixaria seguro era a completa distância de mim e isso destruia-me. 

Quando ele desapareceu no carro preto que o veio buscar, a confeitaria transformou-se num deserto, num deserto composto por cadeiras partidas, por mesas quebradas, por papeis rasgados e mais que isso, sentia-me repleta de emoções sujas, de mentes barulhentas, conseguia ouvir de novo os copos a partir, conseguia sentir os gritos a apunhalarem-me os sentidos. Sentia-me imóvel e gelada, sentia porém aquela ausência reveladora do Harry. O Harry que era Harry e não Styles e não banda. 

Caminhava em direção à janela principal para arranjar alguma solução para as cortinas que estavam a olhos vistos acabadas e tinham sido consideravelmente caras. Deixei-me distrair por um pedaço de vidro, ao qual tinha pisado, que estava sobreposto a uma foto dele, provavelmente alguma das raparigas tivera perdido, ajoelhei-me para segurar nela e novamente me perdi, como se me tivesse perdido encontrando todo o verde que existe nos olhos que lhe pertencem, estava marvilhosamente maravilhoso, como está todos os dias em que existe. Passei o meu dedo na particularidade da foto em que ele sorria e ao mesmo tempo o seu sorriso era desenhado na minha mente e ouvia o seu riso e ouvia a sua voz. Embrulhei a foto e não perdi tempo a coloca-la no bolso, agora já tinha algo físico que me lembrasse ainda mais dele, o meu peito precisava de um afago e porque não uma fotografia? Uma fotografia, que de certa prespectiva não era minha. Seria eu uma violadora de regras? Seria eu uma traficante incontrolável de fotos com um sorriso encantador destes? Quero guarda-lo todo para mim.

Tentei reparar as cortinas com o pouco que sei sobre linhas e agulhas e não tive sucesso nenhum, não sou daquelas pessoas que diz que há coisas que não têm solução, eu insisto comigo mesma para arranjar solução para tudo mas certamente estas cortinas vão arruinar a minha teoria.

"Podemos sempre alterar as cortinas, depois do que aconteceu acho que deviamos escrever alguma coisa na montra como - o Harry Styles causou aqui o caos, queres vir continua-lo? - não sei, era só uma sugestão.", o senhor Grogan estava chateado com o que tinha acontecido mas não era por isso que ele iria deixar de estar preocupado comigo, portanto tentaria mostrar-me que o que aconteceu não foi assim tão mau, como na realidade foi.

"Não precisa de tentar consolar-me, senhor Grogan, eu sei bem que o que aconteceu vai estragar as suas economias e afetar o rendimento da confeitaria, nunca me senti tão desiludida comigo e com o meu lado profissional.", sentia-me envergonhada para enfrentar o meu chefe que se tornou um grande amigo e que fazia de tudo para melhorar todos os dias a fragilidade que existia no corpo que era o meu. 

"Sabes que vales muito mais que uma confeitaria.", deixou-me abandonada corporalmente quando me preencheu com tal frase. Nunca me senti tão importante para alguém como neste momento, muitas vezes precisamos de alguém que nos mostre que existem certos valores na vida que nos fazem ser melhores pessoas. 

Sentia o meu coração criar vômitos no meu corpo, como é que um órgão tão pequeno pode coordenar tudo na minha vida? Pode ser o motivo da minha existência? Se ele tiver o nome do Harry a minha vida estará condenada e eu condenada por isso. Não quero amar mais ninguém sem ser quem não amo.

O senhor Grogan acabava as limpezas, estava tudo mais intacto, soltei um suspiro que não sei porque motivo eu o dei. Só espero que não tenha parecido de apaixonada, sempre achei isso um exagero. Não quis dizer nada nem o meu chefe o disse. Arrumou a sua vassoura ao canto, perto da porta. 

"Apaga as luzes quando saires", e saiu. 

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora