cap. 16

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Os dias passavam iguais. Mas desta vez mais tristes, mais tristes que antes e sentia-me deprimida e incompleta. Desde aquele dia nunca mais voltei a ver Harry e já se passaram tanto tempo desde então. Tenho reparado em certos rostos que não reparava dantes. Procuro neles vida. Aquela vida que encontrava nos olhos sorridentes de Styles e nas suas bochechas com covinhas. Dizem que é um defeito genético. Que defeito mais maravilhoso. Acho que me apaixonei pelas suas particularidades físicas e ainda existe tanto amor por descobrir. Ele pode ser o amor de toda a gente, de qualquer uma. Era egoísta quando pensava nele como um objeto.

"Alexis, em que tanto pensas?", eu continuei o meu trabalho na padaria ao lado do senhor Grogan e juntos construímos uma relação forte e mais pessoal que profissional, tornou-se um grande amigo e adorava a forma como ele interrogava os meus pensamentos, mesmo sabendo do que se tratava. Era um bom homem com todos os seus defeitos e com toda a sua parte social fechada num frasco de vidro lacrado. Mas eu gostava dele assim.

"Eu não penso em nada, senhor Grogan, em nada.", comecei a esfregar o balcão e a procurar um assunto qualquer que não me levasse aos cabelos desejados de Harry e à sua maneira de andar tão cativante. Agora que penso, não existe mais nenhum com todos aqueles componentes. Ele era tão angelical e tão pálido que refrescava os meus ossos e me deixava a tremer.

"Devias admitir o que sentes por ele.", senti-me ofendida, eu realmente não gostava dele, não gostava mesmo, mas todas as partes do seu corpo me criavam um impulso estranho na barriga e uma sensação de secura na garganta e nos meus lábios, tive necessidade, muitas vezes, de adormecer para passar.

"Eu não sinto nada por ele!", atrevi-me a dizer, não queria parecer muito fria e crua, mas era assim que eu me sentia. Não estava, nem queria estar apaixonada por uma estrela de televisão com uma pele feita de arte, onde tatuagens permaneciam visivelmente intocáveis. Vejo-me a fantasiar, como fazia quando lia romances, no tempo em que ainda conseguia ser feliz.

Não sabia nada do Harry, nem sabia bem que idade ele tinha, lembro-me de Anny me informar de alguma coisa à cerca disso, mas para já nada dele eu sabia. Não devia pensar em querer saber mais dele mas ainda conseguia ouvir bem dentro da minha mente "Vemo-nos em breve". Não quero querer vê-lo em breve, não quero ouvir aquela voz pronunciar o meu nome, deixa-me imóvel e desequilibrada. Eu não quero parecer uma miúda na sua primeira paixão. Tinha aprendido a ser adulta depois de ficar sozinha com Anny, ela merecia todos os lados e vertentes de mim. Não podia perder tempo em amar alguém. Todo o tempo é tempo para estar ao lado de Anny.

Hoje o senhor Grogan servia nas mesas. Colocou o seu melhor sorriso, mesmo que ainda fosse notoriamente forçado, eu gostava. Tinhamos treinado todos os dias até hoje e hoje era o dia de por em prática as minhas lições. Era capaz de ver nele o seu melhor lado e neste momento não era a única, o Wiltson também ia muito bem com a cara dele desde que começou a ficar nas traseiras a apanhar sol todo o dia e à hora do almoço tinha toda a atenção do meu chefe que o mimava com os melhores biscoitos da clínica veterinária mais próxima. Ele não me contava que os comprava para Wiltson e mentia se eu dissesse que o tinha visto a oferecer ao patudo. Acho que aquele lado sentimental pelos animais tem de ser afirmado perante a minha pessoa uns tempos mais tarde. Sorri. Podia não estar feliz, mas estava bem e mais dois meses e começava a faculdade. Estava preparada para o meu futuro. Pelo menos por agora, eu pensava isso.

A hora do almoço chegou e eu e o senhor Grogan já estavamos na cozinha. Ele cozinhava uns ovos mechidos. Desde que eu disse que gostava, uma vez por semana, ele cozinhava para mim. Acho que era a sua especialidade, eu também gostava imenso da forma como ele fazia aquela refeição. Derretia-me. A sua tendência paternal fazia-me sentir bem com o meu presente. Às vezes as coisas acontecem por uma razão. O senhor Grogan era a razão de todas as coisas que já não me atormentavam como antes.

Vi-me a devorar o meu prato recheado. Sentia muito mais apetite depois do concerto, as horas em que o meu estomâgo andava às voltas ainda não foram compensadas. Senhor Grogan sorria aos meus disparates e contavamos anedotas, ou então falava-lhe da Anny. Ele acha-a maravilhosa desde o minuto que viu os seus olhinhos azuis sorridentes quando ela entrou a correr na padaria e abraçou a sua barriga. Conto-lhe muitas coisas da nossa vida e ele diz que somos muito fortes para a nossa idade e que mereciamos uma vida melhor, mesmo que isso implicasse a minha demissão da Lugar dos Seus Sonhos. Garantia-lhe que isso não ia acontecer, nunca.

Entraram mais pessoas que o habitual no estabelecimento e o meu chefe sorria tão deliciosamente que me apeteceu comer os bolos, e os clientes e até mesmo o meu chefe. Senti-me a rir do meu pensamento e continuei o meu bom trabalho, sentia-me bem e ao mesmo tempo, ocupada.

Entrou na padaria o rapaz de negro e o meu coração começou a chorar instantaneamente, acho que morri por uns segundos e me escondi atrás do balcão, estava farta de o encarar e realmente já me tinha esquecido dele quando conheci Harry. Eram sensações diferentes mas faziam-me sentir na mesma uma tensão e imenso mistério pairava nesses momentos.

Senti os passos deles a pararem mesmo em frente ao balcão, aqueles sapatos largos, eram os mesmos e os olhos dele estavam protegidos com os mesmos óculos escuros e o cabelo por um chapéu mais preto do que me lembrava. Levantei-me, sacudi o meu avental, cumprimentei e esperei que me dissesse o que ia ser. Novamente apontou para os sonhos de chocolate com raspas de côco, servi dois dentro de uma caixinha de papel agora decorada por mim. Dei-me ao trabalho disso, com muito gosto. Não estava à espera de nenhuma palavra, então virei costas para respirar fundo.

"Obrigada, Alexandra, vemo-nos em breve".

Imediatamente reconheci aquela voz.

Por ti, que lhe fizeste falar - Harry Styles.Onde histórias criam vida. Descubra agora