1.O primeiro sentimento

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Aquela segunda feira amanheceu tão estranha e mesmo assim eu estava muito animada pois iria começar meu último ano do Ensino Médio, sabe o que é acordar e ter a sensação que algo vai dar errado mas mesmo assim ter uma segunda sensação de que você é formanda do Terceirão e que está no ano mais importante da sua vida. Minha cabeça estava a mil pois era ano de vestibular e um dos meus sonhos era entrar na melhor faculdade da minha cidade, e eu ainda nem tinha levantado da cama, como meu celular ainda não tinha despertado, o que significava que eu não estava atrasada pro trabalho, resolvi tirar um cochilo, acho que foi a maior burrada daquela segunda.
-"Clekerrrr, abre essa porta, já são nove e meia, você não vai trabalhar, não estou criando vagabunda não Clekerrr!" Minha madrasta gritou fazendo um barulho enorme na porta do meu quarto, me fazendo acordar com tamanho susto que levei . O que era de se esperar daquela mulher que meu pai arrumou uns meses atrás; ela era aquele tipo de pessoa mal humorada e manipuladora, o inferno se instalou na minha vida quando a senhora Kliana Albuquerque atravessou o caminho do meu pai.
-"Não precisa fazer escândalo, já estou atrasada não vai adiantar muito eu ir trabalhar" falei num tom razoável pro susto que eu levei com aquele barulho. Me levantei com um sentimento de preocupação por ter perdido o trabalho, abri a porta e me deparei com a mulher do meu pai não era tão esquisita mas dava pra ter medo dela pelas expressões faciais de raiva que ela tinha por ter que dividir aquela manhã comigo no mesmo ambiente "familiar".
-"Cleker já que hoje você não quis trabalhar, já separei algumas coisas pra você fazer antes de correr atrás dos teus sonhos que você diz que é importante, onde já se viu teu pai deixar você perder tempo estudando pro ano que vem, por mim tu só fazia o ensino médio e arrumava logo um trabalho permanente pra você não dar mais trabalho pra gente, tem almoço pra fazer, vai fazer que eu vou dar uma saída e pra todos os efeitos eu nunca te vi hoje" Kliana nunca apostou em mim, ela sempre disse pra eu desistir da minha carreira, que uma pessoa nascida na favela e que sempre estudou em escola publica nunca chegaria a lugar nenhum; minha madrasta sempre foi estranha e esquisita, eu não sei o que meu pai viu nela.
-"Ta bom Kliana" respondi. Ela sumiu do meu campo de visão e , até hoje eu nunca soube o porque justo naquele dia ela saiu daquele jeito tão depressa que nem deu pra reparar direito como estava o visual dela. Eu estava meia zonza pelo susto que levei mas resolvi fechar a porta do meu quarto, tirei minha roupa de dormir peguei a toalha e entrei no banheiro, soltei meus cabelos pretos cacheados liguei o chuveiro e aquelas gotas de água gelada desceram pelo meu corpo tirando aquela tenção irritante que era ter ouvido a voz minha madrasta naquela segunda. Se passaram alguns minutos desliguei o chuveiro, peguei minha toalha me enrolei e sai do banheiro, fui direto na minha gaveta aonde estava aquela farda maravilhosa que tinha como destaque a palavra "Formanda", me sequei e abri a gaveta tirei a farda coloquei sobre a cama e fui escolher as peças íntimas afinal por ser um dos dias importantes pra mim eu iria escolher um conjunto de peças íntimas pra dar sorte no dia ou sei lá só pra mudar o ritual de colocar o sutiã de uma cor e a calcinha de outra. Escolhi a cor preta pra esse dia, me vestir e enrolei meu cabelo com a toalha. Tinha um dia inteiro pela frente e muitas pendências a serem resolvidas, peguei o celular e mandei uma mensagem pra minha chefe me desculpando por ter perdido o horário do trabalho, prometendo que aquela falta nunca iria se repetir, enviei a mensagem e fui pra cozinha eu precisava fazer o almoço e deixar tudo em ordem pra que quando eu retornasse da escola meu pai não viesse brigar ou chamar minha atenção por algo que saiu errado tipo uma colher ou qualquer objeto sujo que eu tivesse esquecido de lavar, não quis tomar café pois já era tarde e tinha muita coisa pra fazer. Fiz o almoço, lavei as louças que sujei, almocei e fui pro meu quarto terminar de me arrumar e arrumar ele também. Deu o horário de ir para a escola peguei minha bolsa nova que com muito esforço meu pai comprou pra mim e fui para a parada de ônibus que não ficava tão longe da minha casa, esperei por uns minutinhos e logo o ônibus passou, eu achava um saco ter que pegar ônibus todos os dias de aula ou pra qualquer outro canto, enquanto a Kliana só saía de carro ou moto, eu não sei de onde ela arranjava grana pra bancar a vida de "glamour" que ela tinha. Chegou a hora de descer do ônibus, desci e fui direto onde ficava a lista de nomes dos alunos, as series e salas do ano letivo que estava se iniciando, eram muitos alunos ao redor daquela imensa lista colada na parede externa da escola, tive muita dificuldade de passar meio a tanto aluno por ser de baixa estatura. Quando finalmente conseguir chegar na frente da lista me deparei com aquela garota um pouco alta, cabelos longos pretos, olhos castanhos claros, com a mesma farda que a minha, olhando a lista de nomes, ela era tão sexy, o jeito dela, eu não consigo explicar mas ela mecheu comigo naquele instante, mas meus pensamentos se voltaram contra mim, fazendo-me rejeitar aquele sentimento, pois o que eu havia aprendido em casa era que sentir-se atraída por pessoas do mesmo sexo era errado e que a minha religião me condenava ao inferno. Voltei minha atenção para a lista e vi escrito na Turma 3 Série A *Lara Cleker Silva Fryer, me senti o tanto que orgulhosa de estar na primeira turma daquele ano, pois sempre me diziam que a formação das turmas se davam por notas e minhas notas sempre foram altas então de qualquer forma eu estava feliz por estar mais próximo de realizar meu sonho de fazer uma faculdade.
-"Olha quem estar aqui formanda do terceirão, vamos arrebentar esse ano, vamos comandar esse bagulhooo" Stella veio na minha direção gritando e me abraçando, me deixando nervosa e mechendo com meus sentimentos mais uma vez.
-" Ai que susto Stella, vê se na próxima vez chega mais calma, tem muita gente aqui e o barulho ta insuportável, mas que bom te rever de novo pensei que tinha se esquecido da tua amiga velha aqui kkk" respondi.
-" Lara para de ciumes eu só fiz amizades novas depois que a gente foi pra turmas diferentes ano passado, e eu também vi que você se afastou um pouco depois dessas tuas novas amizades" Stella retrucou.
-"Miga eu me afastei por diversos motivos mas isso não vem ao caso, vamos deixar o passado no passado e vamos seguir em frente, enfim mas i aí em que classe ficou, por que eu fiquei na primeira turma do terceiro ano" respondi.
-" Ainda não encontrei meu nome na lista dos terceiros" Stella respondeu.
-" Então você só pode estar na minha turma deixa eu vê aqui...... não te falei olha aqui teu nome *Stella Cristina Washington" falei.
-" Ahhhh sério? Não creio que maravilhoso Lara, vamos fazer naquele mesmo ritmo, na fila das carteiras na sala de aula nas duas primeiras cadeiras à esquerda da porta como nos velhos tempos?" Stella perguntou.
-" Claro com certeza eu ja tava com saudades da gente andar juntas e ser as amigas mais esquisitas dessa escola, como nos velhos tempos" respondi feliz da vida afinal Stella sempre foi especial e importante pra mim. Entramos na escola e fomos direto pra sala de aula pois não queríamos perder a chance de marcar nossos lugares logo no primeiro dia de aula, estávamos muito felizes por estarmos estudando juntas novamente. Chegamos na sala e graças a Deus ninguém tinha ocupado os lugares que já tínhamos em mente. A aula começou normalmente com os professores mudando de 50 em 50 minutos durante 5 tempos de aula. As seis horas da noite eu já estava na parada esperando o ônibus junto com Stella, a gente no passado sempre esperava uma a outra na parada de ônibus sempre foi aquela parceria de amizade foda. E eu estava muito feliz de não ter que aturar aquelas amizades dela por enquanto e que ela estava ali comigo compartilhando conversas sobre as férias dela que segundo ela tinha sido incrível. Os ônibus que a gente pegava não demoraram muito a passar nos despedimos e cada uma pegou seu rumo, segui no ônibus fazendo o trajeto de sempre, desci pedindo a Deus para não ter que encontrar Kliana em casa, queria ter um pouco de paz pra lidar com os mil e um pensamentos sobre meus sentimentos por Stella, a
garota um pouco alta, cabelos longos pretos, olhos castanhos claros e que acima de tudo era minha melhor amiga.

Segredos de uma ECLÉTICA... (Parte I)Onde histórias criam vida. Descubra agora