Capítulo VII: Presente Maldito

23 0 0
                                    

   E naquela segunda-feira eu acordei e fiz toda a minha rotina matinal, como de costume e fui para a escola. Como de costume, ao chegar na escola encontrei com meus amigos, e por algum milagre, Diego havia chegado antes de mim. Eu estava feliz, como sempre.

   — Oi gente!— Eu disse cumprimentando todo mundo.

   — Oi Bruno!— Disse Gabi.

  — Vocês tão bem?— Eu perguntei à todos ali presentes na rodinha.

    Todos disseram que estavam bem.

   — Nesse final de semana vocês fizeram alguma coisa legal?— Perguntou Luiza.

   — Bem, eu fui num churrasco em família no sábado e me encontrei com Diego no domingo, foi muito legal, jogamos vídeo game a tarde toda.— Eu respondi olhando para Diego, mas não era um olhar apaixonado, ninguém podia desconfiar de nada.

   — Eu fui pro teatro, assisti o Fantasma da Ópera, muito bom! Um dos melhores que eu já assisti!— Disse Clara.

   — E terminei de colocar as séries em dia.— Disse Luiza.

    O sinal tocou e nós fomos para a aula, a aula estava um tédio, ninguém merecia ter aula de física. No meio de tanto tédio eu virei para uma das últimas folhas do caderno e comecei a escrever uma poesia, sem pretensão alguma, apenas queria passar o tempo, afinal eram duas aulas seguidas! Letras para cá e restos de borracha para lá, acabei esboçando algo tão bonito em cima da folha de papel do caderno que não estava acreditando no que eu havia feito.

"Naquele momento em que te olhei
E sua respiração eu senti,
Com seus lábios me deliciei,
E então eu sorri.

Suas mãos por meu corpo passaram,
Mais forte nossos corações batiam
Uma lembrança que vos marcaram
Nossas mentes por ali ainda muito passariam."

    Quando eu fui para casa, tomei um banho, fiz minhas tarefas e fiquei pensando naquele papel com aquela poesia tão sensível, eu realmente havia colocado minha essência ali.
    Eu abri minha mochila, peguei o caderno e comecei a folheá-lo, ao chegar na página, fiquei encarando aquelas palavras até que me veio uma ideia interessante, eu iria passar para um papel mais grosso, onde eu iria fazer uma arte de Diego.
    Fui para o meu quarto, peguei minhas tintas e os materiais necessários para fazer a arte, coloquei a música Ainda Te Amo, do Jão— eu amava aquele cantor— e comecei a colocar a mão na massa, peguei uma foto do Diego e comecei a fazer um esboço, contornei tudo e comecei a pincelar o papel com a alma, e na parte de trás do papel eu comecei a escrever a poesia que havia feito, e coloquei meu nome no final da poesia, bem pequeno, pra ninguém perceber.
    Na quarta-feira, quando já estava com a obra que havia demorado dois dias para fazer, após a escola e o projeto de teatro musical, eu fui para casa, tomei banho e fui para a casa do Diego, eu não tinha avisado que iria pra casa dele, então seria uma surpresa. Eu cheguei na casa dele, toquei a campainha e ele abriu a porta, e disse: 

   — Nossa, eu não esperava você por aqui!— Ele disse rindo com cara de surpreso.

   — Eu vim te fazer uma surpresa! Está feliz?— Eu lhe disse com cara de dúvida, eu estava com uma mochila, onde eu havia guardado o desenho, eu havia plastificado para não danificar.

   — Eu estou muito feliz!— Ele disse abrindo o portão.

    Naquele momento eu não sabia como classificar minha atual situação com Diego, nós havíamos nos beijado pouco para ser algo considerado sério, então eu achei que amigos que ficam de vez em quando foi uma boa classificação.

   — Você tá bem?— Eu lhe perguntei sentando no sofá, a casa estava vazia, afinal os pais dele haviam ido trabalhar e ele não tinha irmãos.

   — Eu tô sim! E você?— Ele disse ligando a televisão.

   — Eu tô bem também, eu acho.— Eu lhe disse rindo.

   — Fico feliz por isso! Posso fazer uma pergunta?— Ele disse me olhando com uma cara de dúvida.

   — Além dessa?— Eu disse rindo.

   — Sim, por que você trouxe essa mochila?— Ele fitou a mochila, era preta, bem simples.

   — Descubra! Pode abrir!— Eu lhe entreguei a mochila.

    Ele abriu a mochila e eu fiquei apenas observando sua reação, quando ele viu que era um retrato dele, ele surtou.

   — Como assim? Um retrato meu? Mano, nunca recebi nada assim! Obrigado!— Ele me abraçou muito forte, eu amava os seus abraços.

   — É um presente pra você, espero que goste, fiz com muito carinho. Pode olhar atrás porque também tem uma surpresinha.— Eu lhe disse cruzando os braços.

     Ao começar a ler ele ficou aos prantos, eu não estava entendendo, será que ele não tinha gostado?

   — Você não gostou?— Eu segurei seu ombro.

   — Muito pelo contrário, eu amei! Só não esperava por isso... Acho que nunca recebi algo tão bonito e puro antes.— Ele disse com lágrimas nos olhos.

   — É de coração, pra você guardar e se lembrar de mim, como amigo ou como amante, tanto faz a nossa relação.— Eu lhe abracei.

     Ele enxugou as lágrimas em seus olhos, foi para seu quarto e me deixou na sala, eu não lhe perguntei nada, ficou um momento tenso de silêncio, quando ele voltou, trouxe-me um CD e nele estava escrito "Bruno Mix".

   — O que é isso?— Eu lhe questionei com o CD na mão.

   — É seu, é um CD com várias músicas que eu gosto e acho que você também vai gostar, meu presente pra você, e eu guardei seu desenho na minha gaveta de roupas, espero que minha mãe não ache ele, sabe-se lá o que ela pode fazer...— Ele disse com um pouco de medo expresso em sua face.

   — Ai eu amei! E guarda bem o seu desenho, eu tenho uma cópia dele, mas não é a mesma coisa.— Eu lhe disse rindo.

   — Assim, que você chegar em casa, pode ouvir e me mandar uma mensagem dizendo o que achou?— Ele apontou para o CD.

   — Claro! Aliás, acho que já vou ir porque não quero chegar em casa depois de minha mãe.

   — Tudo bem, vamos então, eu te acompanho até a porta.— Ele se levantou e se dirigiu em direção à porta, e eu fui atrás.

   — Te vejo amanhã?— Eu lhe perguntei.

   — Eu acho que sim, espero, né?— Ele sorriu.

    Ele abriu a porta, me deu um abraço e para a minha surpresa me deu um selinho.

   — Não diga nada que não seja uma despedida.— Ele disse.

   — Okay, então... Tchau.— Eu lhe disse com minhas bochechas coradas.

   — Tchau.— Ele acenou para mim.

   Eu me virei e fui para a minha casa, assim que cheguei, liguei meu notebook e coloquei o CD para tocar, estava aflito para saber do que se tratava. Após ouvir todas as faixas eu peguei meu celular para mandar uma mensagem para Diego, e quando abri meu aplicativo de mensagens, eu havia recebido uma mensagem de Diego que dizia assim:

   "Bruno, me desculpa por tudo..."

   Ao terminar de ler aquela mensagem meu coração começou a ficar acelerado, eu fiquei aflito, não sabia o que fazer, então mandei-lhe uma mensagem perguntando-lhe o que havia ocorrido, ele demorou 30 minutos para me responder e em disse isso: 

   " Minha mãe achou seu desenho, ela foi guardar a roupa que havia dobrado e percebeu algo debaixo das minhas roupas, ela leu o poema que estava atrás e viu seu nome, agora não quer mais que nos vejamos..."

   

SentindoOnde histórias criam vida. Descubra agora