Capítulo X: Confissões.

7 0 0
                                    

    E assim foram os dias, sempre que eu precisava falar com Diego eu precisava ir até o banheiro e conversar com ele, já tinha virado nosso ponto de encontro. Todos da escola sabiam sobre o que havia rolado entre nós, claro, sem detalhes, apenas sobre o desenho e sobre um beijo, mas ninguém sabia da intensidade do beijo, que era a melhor parte. 
    A primavera ainda prevalecia no mês de outubro, o ano estava acabando, eu e Diego ainda precisávamos nos resolver, aquilo estava muito difícil para nós dois.
    Algum tempo já havia se passado com aquela rotina ruim de caras feias e encontros no banheiro e eu achei que deveria conversar com minha mãe sobre tudo o que havia acontecido entre Diego e eu.
    Era domingo, uma manhã bem gostosa pós chuva, eu fiz toda aquela rotina de café da manhã e fiquei mexendo em meu celular até minha mãe acordar, meu pai havia saído para encontrar alguns amigos. 

   — Bom dia, mãezinha! — Eu disse enquanto ela descia as escadas.

   — Bom dia, filho! Tudo bem? Dormiu bem? — Ela me disse com aquele sorriso que sempre prevalecia em seu rosto.

   — Dormi sim! E você? — Eu lhe dei um abraço.

   — Dormi bem, também! — Ela foi em direção à cozinha.

   — Que bom! Aliás, lembra que você disse que achava que eu não estava bem e que eu podia contar contigo pra tudo? — Eu me sentei na cadeira, estava muito nervoso para ficar em pé.

   — Lembro sim, por quê? Você quer me dizer algo? — Ela virou um gole do café que havia colocado em sua xícara.

   — Bem... Quero sim, eu preciso te contar uma coisa, algumas coisas, na verdade, que aconteceram comigo de setembro pra cá... — Eu também peguei um pouco de café.

   — E é muito grave? Pode contar.

   — Promete que não vai gritar ou ficar brava comigo? — Eu lhe disse muito aflito, não sabia se ela gostaria de receber aquela notícia, eu estava com medo.

   — Prometo. — Ela disse com expressão aflita.

   — Bem, então eu vou falar logo, há algum tempo atrás eu comecei a gostar do Diego, sabe? — Eu estava com tanto medo que eu tremia.

   — Mas filho...

   — Não! não diga nada. — Eu a interrompi — Olha, deixa eu terminar, então, eu comecei a gostar dele, contei pra ele, nós nos beijamos, eu fiz até um desenho e uma poesia para ele, mas a mãe dele descobriu e sobre o desenho e o jogou fora, o pai dele também descobriu e bateu nele, ele me mostrou as marcas, eram horríveis, elas aparentavam doer muito. Depois que a mãe dele descobriu, ela foi na escola pra falar com a direção e avisar que eu não devia ficar perto dele e que ele havia me beijado, alguém descobriu do beijo e espalhou para a escola toda, desde então todos me olham feio e eu só consigo conversar com Diego no banheiro, escondido de tudo e de todos, rezando pra ninguém entrar...

   — Olhe, meu filho... Eu não sei nem o que dizer... — Ela fez uma pausa de uns cinco segundos —  vá para o seu quarto, por favor. — Ela não olhou em minha cara nessa hora.

    Eu me levantei da cadeira, virei e dirigi-me às escadas, a cada degrau que eu subia, uma lágrima caía de meu rosto. Eu não sabia o que dizer, um medo preencheu toda a minha alma naquele momento, eu não queria decepcionar minha mãe, minha família, eu só queria amar, assim como Diego queria amar, e nós queríamos ser amados. "Será que eu iria apanhar como ele apanhou?", "Será que eu seria ameaçado de ser expulso de casa?". Muitas coisas começaram a passar pela minha mente, mas pelo menos todo aquele peso do segredo que eu guardava dentro de mim ficou para trás, eu finalmente tinha contado pra minha mãe aquilo que eu mais temia, agora eu me sentia menos mal, porém toda aquela aflição de espera para ela vir conversar comigo me matava.
    Deitado na cama e olhando para o teto era como eu me encontrava naquele momento, ainda estava aflito, mas achava que nada demais iria acontecer. Será que meu pai já havia chegado? E será que ele já sabia de tudo? Aquilo estava me atormentando consideravelmente, mas se eles me amavam de verdade, aquela era a hora de provar isso.
    Eu pude ouvir barulhos de alguém subindo as escadas, me virei para o lado oposto ao da porta, a porta se abriu e alguém me chamou:

   — Filho, você tá acordado? — Era uma voz doce, era minha mãe. 

    Eu me virei e vi meu pai ao lado dela. Eu o amava, mas ele ficava menos tempo comigo do que minha mãe, então o laço com ele era mais fraco, ele provavelmente não faz ideia de quem sou de verdade.

   — Filho, precisamos conversar... — Ele se sentou na beira da cama e minha mãe também.

   — O que foi? Veio brigar comigo também? Igual os pais do Diego fizeram? — Eu me sentei.

   — Não, muito pelo contrário, apenas queremos entender tudo. — Disse minha mãe.

   — Entender o que? — Eu questionei.

   — Bem... Precisamos entender tudo isso, afinal isso é muito novo para nós também, eu não esperava que isso fosse acontecer, mas como aconteceu, vamos tentar compreender tudo e te ajudar no que for preciso, meu filho. — Minha mãe me disse.

   — Tá bom, o que querem saber primeiro? — Eu perguntei.

   — Você é gay? — Eles perguntaram.

   — Não. Pode parecer confuso para vocês, mas não, eu gosto de meninas, mas agora eu comecei a gostar de meninos também. — Eu expliquei com calma e tranquilo, achei que iria ser bem pior, mas eu estava me sentindo confortável com aquilo, meus pais estavam me acolhendo.

   —Então o que você é? 

   — O termo é bissexual, eu gosto das duas coisas e eu sempre soube que gostava de meninos, mas confirmei isso quando gostei do Diego e nós nos beijamos. Ali eu tive certeza que gostava de ambos, pois senti a mesma atração por meninas antes. — Eu respondi e encostei as costas na cabeceira da cama.

   — Tá bem. É isso mesmo então, né? Eu poderia falar que é só uma fase da adolescência, mas eu estaria omitindo o fato de aceitar o meu próprio filho, então é mais fácil eu aceitar os fatos porque isso é o que você é, e nada vai mudar isso, independente do que eu diga. — Meu pai me disse com lágrimas nos olhos.

   — Isso é verdade, mas era só isso mesmo, e nós prometemos que iremos te proteger e te ajudar no que for preciso. — Minha mãe me disse e logo após eles me abraçaram aos prantos, imagino que de alegria.

   — Eu pensei que vocês iriam fazer como os pais do Diego, mas vocês estão sendo completamente o oposto, o que é incrível! — Eu disse aos prantos de alívio e alegria.

   — Quando você me contou o que os pais dele fizeram, eu logo pensei "bem, ele é meu filho, não quero que o façam mal por aí, por que eu, que sou a própria mãe o faria mal?" E quando eu contei para o seu pai, ele pensou a mesma coisa, e assim como nós não queremos o seu mal na rua, não queremos o seu mal em casa. — A minha mãe nesse momento já havia desidratado de tanto chorar.

   — Eu amo vocês! Obrigado, de verdade! Isso não está sendo nada fácil pra mim. — Nós nos abraçamos de novo e depois eles saíram do quarto e me deixaram sozinho.

    Aquele dia estava maravilhoso após ter tido aquele diálogo com meus pais. O que ainda me aligia era que Diego ainda podia estar sofrendo por minha causa... Eu ainda precisava resolver isso antes que o ano acabasse, ou seria o pior amigo de todos os tempos.

SentindoOnde histórias criam vida. Descubra agora