Capítulo IX: Preocupação

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    Uns três dias se passaram desde o ocorrido no banheiro,eu estava tão aflito por Diego, só queria que tudo ficasse bem com ele, as perguntas ficavam rodeando minha cabeça, ficavam martelando tão forte, eu só conseguia pensar naquelas marcas roxas em sua barriga, será que ainda doía? Não tinha como saber, mas após tudo isso ter acontecido, eu tinha certeza de duas coisas: eu amava Diego e eu teria que fazer de tudo para vê-lo bem. O problema é que isso só seria possível se eu me afastasse dele. Se eu fizesse isso, os pais dele o deixariam em paz e eu também não teria que atormentá-lo com minhas incertezas e inseguranças.
    Seria esse o fim de uma grande história de amor que estava por vir? Isso eu nunca iria saber, mas provavelmente seria...
    Naquele domingo de temperatura amena e céu ensolarado eu fiquei trancafiado em meu quarto, apenas tocando meu violão e lendo algumas palavras contidas dentro de alguns livros que contavam lindas histórias de amor. Para ter uma recordação de Diego eu me dirigi até minha gaveta e peguei o CD que ele havia me dado de presente, aquilo iria me confortar, queria sentir algo que ele tivesse tocado. Coloquei o CD num aparelho de rádio velho que eu tinha em meu quarto e ele começou a tocar as músicas que Diego havia ouvido e selecionado para mim, coisa mais clichê que aquilo, só bombons e flores mesmo.
    Eu me deitei em minha cama e comecei a chorar, a vontade de ler se foi e a de tocar algum instrumento também, eu só conseguia pensar naquele maldito menino, eu queria poder ligar para ele, mas eu não podia porque eu sabia que aquilo só iria prejudicá-lo e mesmo que eu tentasse inventar alguma história para os pais dele, não iria funcionar, já era tarde, e se eu inventasse algo, não tinha como mentir sobre o poema. Então eu me virei para o lado e adormeci com lágrimas em meu rosto.
    Naquela altura do campeonato meus pais deviam estar preocupados comigo porque eu só ficava trancado no quarto e pouco sentia fome, mas na hora certa aquilo tudo passaria e ficaria bem.
    No dia seguinte, na segunda-feira, eu acordei logo cedo e fui tomar banho para ir à escola. Quando fui tomar meu café pela manhã, vi minha mãe na beira da pia lavando a louça, meu pai já havia saído para trabalhar, ele saía de fato muito cedo. 

   — Bom dia, mãe! Dormiu bem?— Eu perguntei à ela dando-lhe um abraço.

   — Bom dia, filho! Dormi sim, e você? — Ela perguntou desentrelaçando os braços de meu corpo.

   — Eu também! — Eu a respondi enquanto pegava meu copo de água.

   — Filho, você anda muito estranho esses dias, aconteceu algo contigo? Você quer me contar algo? Desabafar? Você sabe que pode contar comigo pra tudo.— Ela colocou um copo na bancada da pia.

   — Não aconteceu nada mãe, deve ser coisa da adolescência e pode deixar que eu vou avisar quando algo acontecer, fica tranquila. — Após tomar meu copo d'água eu peguei uma xícara de café e comecei a comer meu pão com patê de atum.

   —Se você diz... —Ela se virou para ir terminar de arrumar o cabelo para ir ao trabalho.

    Após tomar meu café da manhã, eu conferi minha mochila e fui para a escola. Ao chegar na escola eu percebi muita gente me encarando novamente, já tinha até me acostumado porque desde que a mãe de Diego fez o escândalo na escola, todos me olhavam torto, mas eu nem ligava mais naquela altura do campeonato, afinal eu não tinha feito nada de errado. Quando eu achei meu grupinho, perguntei se todos estavam me olhando torto pelo escândalo ou se havia alguma novidade que eu não sabia.

   — Bem, parece que rolou umas conversas de que você teria beijado Diego, mas até onde sei é só isso. — Disse Gabi.

   — Caralho! Esse povo não tem mais o que fazer, não?! — Eu a respondi com uma raiva súbita do momento.

   — Mas, rolou mesmo? — Clara perguntou-me.

   — Olha, eu não quero falar sobre isso, de verdade, vamos esquecer esse assunto. — Eu a respondi num tom mais calmo do que havia falado anteriormente.

   — Okay, então. — Clara disse.

    O sinal tocou e todos nós fomos para a sala, eu não tinha visto Diego naquele dia ainda, será que ele chegaria depois? De qualquer forma eu teria que esperar até o intervalo para saber. Naqueles dias todos eu não estava conseguindo focar muito nas aulas,  o jeito era me matar de tanto estudar o conteúdo em casa.
    Quando nós descemos para o intervalo eu pude avistar Diego, eu me aproximei dele e fiz sinal para que me encontrasse no banheiro na última aula. 
    Eu estava muito preocupado com ele, ele estava tão pálido, parecia estar muito fraco, eu sabia que eu não devia continuar falando com ele, mas ele estava muito isolado naquele momento, as pessoas pouco olhavam para ele, e eu ficava indignado com tudo aquilo, mas eu não podia fazer nada para mudar, ou eu iria piorar as coisas.
    Quando o horário da última aula chegou eu pedi para ir ao banheiro e o professor permitiu, desci as escadas muito rápido, estava doido para ver Diego, agora não era questão de amor caloroso, era o amor de amigo, aquele que vem com uma preocupação sadia que tínhamos desde a infância.

   — Diego, está aí? — Eu perguntei entrando no banheiro.

   — Bruno? Achei que você não viria, fico melhor que tenha vindo. — Ele saiu da cabine do banheiro e me olhou enquanto segurava um dos cotovelos,

   — Por que eu não viria? Eu estou morrendo de preocupação, precisava te ver logo, e eu sei que eu não deveria te ver, mas eu preciso ficar perto de ti. — Eu me aproximei.

   — Eu estou com saudade e também estou com medo. — Ele me abraçou apoiando sua cabeça de cabelos ruivos em meu ombro e eu assenti entrelaçando meus braços em seu corpo.

   — Vai ficar tudo bem, eu sei que vai. Não pude deixar de notar que você me parece doente, o que está havendo, seus pais ainda estão te enchendo? — Eu lhe perguntei sem desfazer o abraço.

   — Bem, eu apanhei mais depois daquele dia, mas dessa vez eu não fiquei com nenhum hematoma, quase não como mais e tô com saudade de ti. Está bem difícil não poder contar contigo. — Ele começou a chorar e eu pude sentir sua tristeza.

   — Olha, preste atenção no que eu vou dizer, você precisa ser forte, você precisa comer e nós vamos passar por isso juntos, como sempre passamos, tá bom? — Eu lhe disse levantando sua cabeça.

   — Tá bem, menino do cabelo azul. — Pude sentir um sorriso fraco saindo de sua face —  E quanto ao que estavam falando por aí, bem, algum funcionário espalhou o que minha mãe disse na diretoria, sobre nós, eu fiquei arrasado. — Ele segurou em minhas mãos para se desculpar.

   — Não se desculpe, você não fez nada de errado, tá bem? Nós nos beijamos mesmo, o que é que tem? Eu sei que você não queria que ninguém soubesse, mas não tem como reverter isso.

   — Você está certo... — Ele disse com um ar leve de determinação.

   — Agora eu preciso ir antes que notem minha falta. — Eu lhe disse com cara de preocupado.

    Eu o beijei na bochecha e lhe dei um abraço muito forte, logo após isso eu subi correndo para a sala.

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