Capítulo XIII: Adeus?

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    Naquele dia eu voltei em silêncio no carro, pedi para que meu pai não comentasse nada comigo, nem com ninguém, aquele momento era especial demais para ser dito por aí.
    Ao chegar em casa, tomei banho e fui dormir, toda aquela troca de energia havia sido demais para mim...

    Eu estava em um lugar escuro, mas o chão refletia, ao fundo eu podia ver Diego, seus cabelos flamejantes sempre ficavam contrastados se comparados ao meu intenso azul. Quando tentei me aproximar de Diego, ele começou a ser puxado, estava ficando distante. Ele gritava e chorava, dava pra notar, ao olhar para quem estava puxando-o fiquei depravado com a imagem de seus pais, estavam completamente distorcidos e falando um discurso de ódio pesado. 
    Diego começou a chorar sangue no lugar de lágrimas, e eu corria para tentar ajudá-lo, mas quanto mais eu corria, mais seus pais o puxavam e mais distante de mim ele ficava. Até que eles pararam de puxar, mas um silêncio se instalou no local, Diego estava pálido e imóvel e seus pais apenas falaram a seguinte frase:

    — Foi para o bem dele, apenas isso.

    Eu acordei aos berros com meus pais me chamando completamente preocupados. Perguntaram se eu estava bem e eu contei exatamente o que acontecia no sonho.

    — Calma, foi apenas um pesadelo, meu filho! — Eles me abraçaram forte para me confortar depois do pior pesadelo que tive em minha vida inteira.

    Depois de toda aquela agitação em meu quarto, eu finalmente peguei no sono novamente, mas dessa vez não tive nenhum pesadelo.
    Ir para a escola naquele dia não seria bom porque eu sabia que Diego estava prestes a se mudar e eu não estava fazendo absolutamente nada para mudar aquilo, mas eu queria muito fazer algo, entretanto tinha tanto medo de piorar toda aquela situação que eu havia criado.
    Meus pensamentos eram apenas sobre como eu fui estúpido ao dar aquele desenho para ele, eu podia ter evitado tudo isso, aquelas marcas no corpo dele, os olhares de julgamento, os xingamentos, e, agora, sua despedida.
    Aquele dia foi horrível, mas os outros não melhoraram em absolutamente nada: eu chorava, me culpava, olhava para o envelope que ele havia me dado, escutava as músicas que ele tinha gravado para mim, aquilo não podia estar acontecendo.


    Quando chegou o dia em que ele iria embora, eu me levantei da cama, tristonho eu aparentava estar, e estava de fato, me arrumei para tentar vê-lo ir embora. Tomei banho ouvindo as músicas que ele havia gravado no CD, coloquei a melhor roupa que eu tinha, passei o perfume que eu sempre usava, e tomei meu café da manhã. A sensação que me invadia era a de que eu estava indo à um enterro, era como se parte de mim fosse embora naquele dia, era como se uma parte minha morresse mesmo.
    Terminando de me arrumar eu pedi para que meu pai me levasse de carro até perto da casa de Diego, meu pai havia concordado, contanto que eu ficasse dentro do carro. Eu aceitei, era a minha melhor opção naquele momento.
    Então nos dirigimos em direção ao carro, mas quando eu estava perto do carro, me lembrei de que havia esquecido algo importante, aquele envelope que Diego havia me dado. Imediatamente eu voltei para dentro de casa, fui até meu quarto, peguei aquele envelope, e dirigi-me em direção ao carro novamente, agora senti que não estava esquecendo nada. Nós fomos para a casa de Diego, a minha vontade de chorar era grande, mas eu não podia demonstrar fraquezas na frente de meu pai, já estava sendo difícil demais toda a situação.
    Um grande caminhão de mudanças se encontrava na frente da casa dele, várias caixas empilhadas, diversos móveis, e até uma linda bicicleta vermelha que ele tinha desde os 12 anos, lembrei-me de quando ele havia ganhado aquele presente, era presente de natal, ele tinha gostado tanto que sempre ia na minha casa com ela, eram bons tempos aqueles. Eu ainda não estava acreditando que eu iria para o Ensino Médio sem ele para me ajudar na batalha diária de suportar tudo, ele era minha estrutura principal, era meu melhor amigo de infância, ver anos de amizade indo embora sem nem ter a chance de consertar tudo era horrível.
    Quando bateu três da tarde, os pais dele abriram a porta do carro e eu pude vê-lo indo em direção ao carro, ele continuava lindo até quando não estava arrumado, ele já não tinha marcas aparentes, o que me tranquilizava parcialmente. Então as portas do carro fecharam, o caminhão, que já estava fechado também, ligou-se, e o carro também o fez, e lá estava uma grande parte da minha história indo embora, nossos pais já não se falavam muito antes, agora era apenas um profundo silêncio que alimentava aquela relação. 
    Imediatamente quando o carro e o caminhão não eram mais visíveis para mim, eu abri o maldito envelope, não sabia se estava preparado para o conteúdo que ali estava contido, mas eu precisava encarar aquilo de cabeça erguida, então eu dei um profundo suspiro e o abri. 
    Meu pai estava me olhando estranho então eu não puxei o que tinha dentro do envelope porque precisei explicar o que era aquilo. Eu precisei sair do carro, não queria que meu pai visse minha reação ao abrir.
    Do lado de fora do carro eu pude sentir uma brisa leve em meu rosto, aquilo me acalmou, então eu encarei o envelope, fechei meus olhos e puxei o que estava dentro, abri meus olhos e pude ver o que era, haviam dois papéis dobrados, e uma pulseira azul e preta. De imediato eu amarrei a pulseira ao meu pulso, eu estava aos prantos naquele momento. Quando eu desdobrei um dos papéis, pude ver que era metade do desenho que eu havia feito, ao desdobrar o outro papel, vi que era uma carta.

  "Oi Bruninho, tudo bem?
      Eu espero que esteja tudo bem contigo, eu estou escrevendo esta carta porque senti que precisava deixar um pedaço meu contigo, ou você achou mesmo que iria se livrar de mim assim tão fácil?
      Apesar das brincadeiras, eu espero que você não me mate por ter cortado seu desenho ao meio, é que eu queria que você ficasse com um pedaço de algo que nos uniu, além disso, eu também dei uma pulseira azul e preta pra ti, eu fiz duas iguais, então sim, eu estou usando uma também!
      Está tudo bem comigo, eles não me bateram e não estão evitando tanto falar comigo, mas eu vou começar a fazer terapia porque eles acham que isso vai me curar, eu não acho que será fácil te esquecer, mas se eles querem tentar...
      Eu quero que você guarde todos os itens que têm alguma ligação comigo, pois quando você estiver sentindo saudade, possa se lembrar de mim!
      Esta carta contém o perfume que eu uso sempre, ouvi dizer que sentir um cheiro que você conhece pode te confortar, então pode cheirar a vontade, nesse caso, eu deixo.
      Eu espero que você não esqueça de todos os nossos momentos juntos, e principalmente, não se esqueça de mim! 
      Eu te amo muitão, beijos do seu melhor amigo.
      - Diego <3 "

    No momento em que terminei de ler a última linha, eu fui até a janela do carro e disse que meu pai podia ir embora, eu ainda iria ficar ali um tempinho, precisava esfriar a cabeça. Ele não estava certo daquilo, mas concordou e disse que eu podia ligar se precisasse. 
    Então ele foi embora e eu fiquei, coloquei meus fones em minhas orelhas e eles começaram a tocar Strawberries & Cigarettes, do Troye Sivan, aquela música fez com que as barragens de meus olhos se rompessem, em instantes eu estava inundando minha alma com meu choro, aquilo machucava muito, mas eu precisaria ser forte, Diego gostaria que eu não desistisse de tudo. Então eu levantei lentamente e fui caminhando vagarosamente para casa, observando as ruas, as crianças brincando, os carros passando, cachorros latindo...

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