Capítulo VIII: Desgraça.

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   Eu não sabia nem o que dizer, aquilo tudo era minha culpa, eu lhe dei o presente, maldita hora que eu pensei que isso poderia dar certo, onde eu estava com a cabeça? Mais uma vez eu tinha feito merda. Eu fui para a laje onde havia acontecido o grande dia do beijo e tentei ligar para Diego, mas ele não me atendia por nada, voltei para meu quarto e fui dormir, nem havia jantado, fiquei sem fome, apenas dei boa noite de meus pais e dirigi-me ao meu quarto, nada mais, minha mãe devia estar preocupada, mas eu estava mais preocupado com o que havia acontecido com Diego. Coloquei uma sonata de Beethoven para dormir, como eu não estava muito bem coloquei o primeiro movimento da Sonata ao Luar. Ouvindo aquelas notas tão expressivas, dormi aos prantos.
    Quando acordei no dia seguinte com o som do despertador, eu não estava muito bem, ainda estava pensando no que havia ocorrido, o ano estava prestes a acabar e agora eu teria de lidar com mais uma dor de cabeça. Eu olhei para meu celular e desliguei o despertador, quando me levantei, me arrumei para ir à escola.
    Ao chegar na escola, me deparei com algumas pessoas me olhando estranho e fazendo cara feia ou cochichando, ao chegar perto de meu grupo perguntei o que estava acontecendo, elas me disseram que a mãe do Diego tinha vindo na escola e tinha feito o maior escândalo pedindo para me deixarem longe dele. Na mesma hora em que ouvi aquilo eu fui procurar Diego pela escola e quando achei pedi para ele me encontrar no banheiro na segunda aula, tive que ser rápido para evitar maiores confusões. Naquela altura do campeonato eu não poderia bobear nem um mísero segundo. 
    Quando fui para a sala, todos pareciam me olhar torto, com exceção das minhas amigas, aqueles 45 minutos pareciam uma eternidade, eu mal conseguia raciocinar sobre o que estava acontecendo, até alguns professores ficaram me olhando de maneira suspeita. 
    Finalmente o sinal tocou e eu pedi ao professor para ir ao banheiro, desci as escadas com o coração aflito, olhei para ver se não havia ninguém olhando e corri para o banheiro. Ao entrar no banheiro pude ouvir choros baixinhos, vinha de uma das cabines do banheiro.

   — Diego? É você?— Eu lhe perguntei batendo na porta.

  — Sim, Bruno, sou eu...— Ele não abriu a porta.

   — Olha, precisamos conversar sobre tudo isso, e precisa ser rápido porque ninguém pode nos ver juntos.

   — Se você quiser voltar, eu não ligo, depois de tudo o que eu ouvi ontem, nada mais importa, falhei como um filho digno para meus pais...— Ele disse enquanto soluçava.

   — Diego, o que foi que sua mãe te disse? Ela te bateu? Ela falou algo para o pessoal da escola? Me conta, por favor! Eu preciso entender o que houve contigo.— Eu me sentei no chão e me encostei na parede ao lado da porta da cabine onde ele estava.

   — Ontem quando minha mãe achou seu presente que eu havia guardado num lugar que eu achei que ela não fosse notar, mas quando ela foi guardar a roupa, ela viu um pedaço de papel e puxou para ver, quando viu o desenho não ligou muito, mas quando quando ela viu o poema com seu nome embaixo... — Ele respirou fundo — Começou um escândalo dentro de casa, meu pai ainda não havia chegado do serviço, ela começou a gritar me perguntando se era você que tinha feito aquela "merda", eu neguei até onde pude, mas aí ela ameaçou tacar fogo se eu não falasse. Nesse momento, meu pai chegou e não estava entendendo nada daquilo e então começou a perguntar o que havia ocorrido, como minha mãe estava chorando, eu é que tive que responder, e quando eu fui explicar, acabei falando sobre quem tinha feito o desenho, minha mãe começou a gritar, me xingou de tantos palavrões que se eu contasse aqui agora, você iria preferir não ouvir nada. Meu pai jogou o desenho fora e me bateu, estou com umas marcas roxas na barriga, e ele ainda disse pra ver se eu aprendi o que era ser homem de verdade...— Ele começou a chorar mais ainda.

   — Diego, abre a porta, por favor...— Eu bati à porta.

   — Não posso, não quero que me veja no estado em que estou...— Ele permanecia soluçando.

   — Mas Diego, eu não ligo, só quero tentar te ajudar pra te ver melhor.— Eu lhe disse com um tom de angústia. 

   — Okay Bruno, você venceu, vou abrir a porta...— Ele disse.

    Quando eu ouvi o trinco da porta se abrindo, me levantei do chão e fiquei esperando ele abrir a porta, e ao abrir a porta, pude ver o desespero em seu rosto e a tristeza em seus olhos, eu o abracei forte, mas não muito para não machucá-lo mais do que já estava. Ele me abraçou tão forte, é como se eu fosse seu porto seguro naquele momento.

   — Deixe-me ver sua barriga.— Eu lhe disse pegando em sua blusa.

   — Tudo bem, mas veja rápido, okay?— Ele disse me olhando nos olhos.

   — Prometo não demorar.— Eu levantei sua blusa bem rapidamente, algumas marcas roxas estavam presentes, algumas bem escuras e feias, comecei a chorar após ver aquilo, abaixei sua blusa e olhei para ele nos olhos.

   — Bruno, eu não aguento mais, foi só um presente seu, eu tentei lutar contra, mas meu pai é mais forte que eu, quando eles estavam dormindo, eu peguei seu desenho do lixo, dei uma limpada nele e o escondi em minha mochila, está guardado no meu armário daqui da escola, lá sei que ele estará seguro. Bom, só para terminar a história, eles me colocaram de castigo, não tiraram meu celular, mas colocaram o aparelho sob supervisão deles, tudo o que eu fizer, eles irão ver, e agora, segundo eles, eu vou aprender como ser um homem de verdade por bem ou por mal...— Ele mal conseguiu terminar a frase e ficou aos prantos, estava desesperado.

   — Calma Diego, vou te ajudar no que eu puder e como eu puder, mas vai tudo ficar bem, apenas fique calmo.— Eu o abracei e olhei para o relógio em meu pulso, já havia passado muito tempo e eu precisava voltar para a sala de aula.

    Eu me despedi dele dando-lhe um abraço e ele me retribuiu dando-me um beijo na bochecha. Voltei correndo para a sala, eu estava tão triste e preocupado, não sabia como ajudar e nem poderia fazer muita coisa, afinal, se eu fosse visto próximo a ele, ele iria sofrer mais. Eu passei o dia inteiro preocupado com ele, podia ver o desespero em sua feição, só queria que tudo aquilo passasse logo...

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