Criaturas Celestiais - A Ascensão [CONCLUÍDO]

Capítulo trinta - Ascendium (Parte um)

"Ela realmente está aqui."

"Um lobo em pele de cordeiro."

"Será que é realmente capaz de tudo que a profecia diz?"

"Ela não parece com alguém que carrega o inferno em seu cerne."

"Dizem que tem a beleza dos anjos e a crueldade de mil demônios."

Sussurros e mais sussurros de nephilins incrédulos aclamavam a chegada tão esperada de Scarlett, enquanto dezenas de pares de olhos curiosos e sedentos por poder analisavam-na com surpresa estagnada na entrada do templo religioso. Astrid agora estava entre eles, tão confortável entre seus semelhantes ao passo em que cochichava algo nos ouvidos do único ali que Scarlett tivera o desprazer de conhecer e em quem agora mantinha seus olhos tempestuosos fixos: Vennett. O nephilim ardiloso que já havia a torturado e prometido que eles se encontrariam novamente.

Talvez ele fosse mesmo um homem de palavra, afinal, mesmo depois de Nicholas tê-la salvado do inescrupuloso mestiço, ali estavam eles a apenas alguns metros de distância novamente.

Os olhos escuros e famintos do líder do clã estavam fixos nos glóbulos vingativos da menina, como se nada mais no mundo existisse naquele momento, mesmo que Astrid continuasse a tagarelar em seu ouvido. Scarlett sustentava o olhar da mesma forma, sentindo cada átomo de seu corpo gritar por vingança e sangue, mas tudo tinha seu momento e ela esperava graciosamente pelo seu; estava na hora de guardar sua impulsividade e agir com racionalidade.

Seus amigos dependiam dela, por isso, ela engoliu toda sua raiva temporariamente e caminhou juntamente com Joe na direção de Vennett; ela sentia o quanto o irmão estava tenso e temeroso, talvez com medo de que ela explodisse em fúria.

Não agora, irmãozinho. Ela sabia que ele não poderia ouvir seus pensamentos, mas esperava tranquiliza-lo com seu olhar aparentemente sereno.

Assistindo os dois irem ao seu encontro muito orgulhoso, o mestiço sorriu de forma presunçosa enquanto sentava-se a cabeceira da enorme mesa rústica e esperava que Scarlett chegasse até ele; ele não se importava realmente com o nephilim que acompanhava a garota.

E ela foi. Caminhando sutilmente e ignorando todos os nephilins que olhavam-na com descrença, ela alcançou a ponta da mesa e ocupou o lugar vago ao lado direito de Vennett, não sem antes exibir um falso sorriso simpático.

— Fico feliz que tenha abraçado seu destino e se juntado a nós, criança. Eu sei que o motivo pelo qual o aceitou não é o prazer da nossa companhia, meros nephilins órfãos, mas agora isso pouco importa. — começou a tagarelar, enquanto sorvia de um cálice dourado cheio do que parecia ser vinho.

Scarlett teve que segurar a vontade de empunhar sua adaga para fazê-lo engasgar com suas próprias  palavras e seu sangue maldito. Por isso, direcionou um olhar preciso e questionador na direção de Astrid, do outro lado da mesa.

A nephilim assegurou-lhe com um aceno sutil o que tanto afligia a garota e isto fora o suficiente para minimizar um resquício da raiva explosiva que borbulhava dentro da adolescente.

— Eu posso vê-los? — Ela pediu, o mais suave que pôde, ignorando as boas vindas do anfitrião. Estava em território inimigo e em desvantagem, não poderia se dar ao luxo de exigir nada agora.

Mais tarde, mais tarde. Ela tentou acalmar seus próprios ânimos vingativos.

Joe notou a tensão nos ombros rígidos da irmã e por baixo da mesa, ele apertou sua mão, querendo dizer que tudo ficaria bem.