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   178. Embora me entendas, almas predestinadas, falo mais abertamente. Não confieis o Ouro de vossa caridade, a prata de vossa pureza, as águas das graças celestes, nem os vinhos de vossos méritos e virtudes a um saco roto, a um cofre Velho e quebrado, a um vaso contaminado e corrompido, como vós sois; porque sereis pilhados pelos ladrões, isto é, os demônios, que buscam e espreitam, noite e dia, o momento próprio para o ataque; estragareis, como o mau odor do amor-próprio, da confiança própria e da vontade própria, tudo que Deus vos dá de mais puro.
   Depositai, derramai no seio e no coração de Maria todos os vossos tesouros, todas as vossas graças e virtudes. Maria é um vaso espiritual, um vaso honorífico, um vaso insigne de devoção: "Vas spirituale, vas honorabile, vas insigne devotions". Depois que aí se encerrou o próprio Deus em pessoa, com todas as suas perfeições, este vaso tornou-se todo espiritual, e a  moradia espiritual das Almas mais espirituais. Tornou-se honorável, e o trono de honra dos maiores príncipes da eternidade. Tornou-se insigne na devoção e a morada  dos mais ilustres em doçura, em graças e virtudes. Tornou-se, enfim, rico como uma casa de ouro, forte como a torre de Davi, puro como uma torre de marfim.
   179. Oh! quão feliz é o homem que tudo deu a Maria e que nela confia em tudo e por tudo. Ele é todo de Maria e Maria é toda dele. Pode dizer afoitamente com Davi: "Haec facta est mihi: Maria foi feita para mim" (Sl 118,56); ou com o discípulo amado: "Accepi eam in mea" (Jo 19,27) - Eu a tomei como toda a minha riqueza; ou com o próprio Jesus Cristo: "Omnia mea tua sunt, et omnia tua mea sunt: Todas as minhas coisas são tuas, e as tuas são minhas" (Jo 17,10).

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   180. Se algum crítico, ao ler isto, achar que falo exageradamente e por excesso de devoção, infeliz dele, pois não me compreende, ou por ser um homem carnal que não aprecia as coisas do espírito, ou por ser do mundo que não pode receber o Espírito Santo, ou, ainda, por ser orgulhoso e crítica, que condena e despreza o que não entende. As almas, porém, que não nasceram do sangue nem da vontade da carne (Jo 1,13) mas de Deus e de Maria, me compreendem e apreciam; e é para elas, afinal, que eu escrevo.
   181. Digo, entretanto, para uns e outros, voltando ao assunto interrompido, que Maria Santíssima, porque é a mais honesta e a mais generosa de todas as puras criaturas, não se deixa vencer jamais em amor e liberdade. E por um ovo, diz um santo homem, ela dá um boi, isto é, por pouco que lhe demos ela dá mais do que recebeu de Deus; e, por conseguinte, se uma alma se lhe entrega sem reserva, ela se dá a esta alma também sem reserva, se nela depositamos toda a nossa confiança, trabalhando de nosso lado em adquirir as virtudes e domar as paixões.
   182. Que os fiéis servidores de Maria digam, pois, ousadamente com São João Damasceno: "Tendo confiança em vós, ó Mãe de Deus, serei salvo; tendo vossa proteção, não temerei; com vosso auxílio, combaterei os meus inimigos e os porei em fuga; pois vossa devoção é uma arma de salvação que Deus dá a quem quer salvar: "Spem tuam habens, o Deipara, servabor; defesionem tuam possidens, non timebo; persequar inimicos meos et in fugam vertam, habens protectionem tuam et auxilium tuum; nam tibi devotum esse est arma quaedam salutis quae Deus his dat quos vult salvos fieri  (Sermo de Annunc).

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora