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   153. A que atribuir, então - dirá algum fiel servidor desta boa Mãe -, que seus servos tenham de enfrentar tantas ocasiões de sofrer, e mais que os outros que não lhe são devotos? Contradizem-nos, perseguem-nos, caluniam-nos, não os suportam; ou, então, andam em trevas interiores, e em aridez de deserto onde não pinga nem uma gota de orvalho celeste. Se esta devoção torna mais fácil o caminho que conduz a Jesus Cristo, donde vem que eles são tão desprezados?
   154. Respondo-lhes que é bem verdade que os mais fiéis servos da Santíssima Virgem, porque são seus grandes favoritos, recebem dela as maiores graças e favores do céu, isto é, as cruzes;  mas sustento que são também os servidores de Maria que levam estas cruzes com mais facilidade, mérito e gloria; e mais que, onde outro qualquer pararia mil vezes e até cairia, eles não se detêm e, ao contrário, avançam sempre, porque está boa Mãe, cheia de graça e unção do Espírito Santo, adoça todas as cruzes, que para eles talha, no mel de sua doçura maternal e na unção do puro amor; deste modo, eles as suportam alegremente, como nozes confeitadas, que, de natureza, são amargas. E creio que uma pessoa que quer ser devota e viver piedosamente em Jesus Cristo, e, por conseguinte, sofrer perseguições e carregar todos os dias sua cruz, não carregará nunca grandes cruzes, ou não as carregará alegremente até o fim, sem uma terna devoção à Santíssima Virgem, que torna doces as cruzes; do mesmo modo que uma pessoa não poderia, sem uma grande violência, impossível de manter indefinidamente, comer nozes verdes que não fossem saturadas de açúcar.

II. Esta devoção é um caminho curto.

   155. Esta devoção à Santíssima Virgem é um caminho curto para encontrar Jesus Cristo, seja porque dele não nos extraviamos, seja porque, como acabo de dizer, nele marchamos com alegria e facilidade, e, consequentemente, com mais prontidão. Avançamos mais, em pouco tempo de submissão e dependência a Maria, do que em anos inteiros de vontade própria e contando apenas com o próprio  esforço; pois o homem obediente e submisso e Maria Santíssima cantará vitórias (Pr 21,28) assinaladas sobre seus inimigos. Estes hão de querer impedi-lo de avançar, ou obrigá-lo a recuar, ou derrubá-lo; mas, apoiando, auxiliado e guiado por Maria, ele, sem cair, sem recuar, sem mesmo se atrasar, avançará a passos de gigante em direção a Jesus Cristo, pelo mesmo caminho, que, como está escrito (Sl 18,6), Jesus trilhou para vir a nós em largos passos e em pouco tempo.
   156. Por que viveu Jesus Cristo tão pouco sobre a terra, e por que esses poucos anos que aqui viveu passou-os quase todos em submissão e obediência a sua Mãe? Ah! é que, tendo vivido pouco, encheu a carreira de uma longa vida (Sb 4,13); viveu longamente e mais do que Adão, do qual veio reparar as pedras, embora este tenha vivido mais de novecentos anos; e Jesus Cristo viveu longamente, porque viveu bem submisso e bem unido a sua Mãe Santíssima, para obedecer a Deus seu Pai; pois: 1) aquele que honra sua mãe assemelha-se a um homem que entesoura, diz o Espírito Santo, isto é, aquele que honra a Maria, sua Mãe, ao ponto de submeter-se a ela é obedecer-lhe em tudo, em breve se tornará rico, pois acumula tesouros todos os dias, pelo segredo desta pedra filosofal: "Qui honorat matrem, quasi qui thesaurizat" (Eclo  3,5); 2) porque, conforme uma interpretação espiritual da palavra do Espírito Santo: "Senectus mea in misericordia uberi - Minha velhice se encontra na misericórdia do seio" (Sl 91,11), é no seio de Maria, que "envolveu e gerou um homem perfeito" (cf. Jr 31,22), e que "teve a capacidade de conter aquele que o universo todo não compreende nem contém" , é no seio de Maria que os jovens envelhecem em luz, em santidade, em experiência e em sabedoria, e onde, em poucos anos, se atinge a plenitude de Jesus Cristo.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora