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   123. Daí segue: 1) que, por esta devoção, damos Jesus Cristo, do modo mais perfeito, pois o que fazemos pelas mãos de Maria, tudo que lhe podemos dar, e muito mais que por outras devoções, pelas quais lhe damos uma parte de nosso tempo ou de nossas boas obras, ou uma parte de nossas satisfações e modificações. Aqui damos e consagramos tudo, até o direito de dispor dos bens interiores, e as satisfações que ganhamos por nossas boas obras, dia a dia: e isto não se faz nem mesmo numa ordem religiosa. Nestas, consagram-se a Deus os bens de fortuna pelo voto de pobreza, os bens do corpo pelo voto de castidade, a vontade própria pelo voto de obediência, e, às vezes, a liberdade do corpo pelo voto de clausura. Não se lhe dá, porém, a liberdade ou o direito que temos de dispor de nossas boas obras, nem se renuncia tanto como se pode ao que o cristão tem de mais precioso e caro: seus méritos e satisfações.
   124. 2) Uma pessoa, que assim voluntariamente se consagrou e sacrificou a Jesus Cristo por Maria, já não pode dispor de valor nenhum de suas ações. Tudo que sofre, tudo que pensa, diz e faz de bem pertence a Maria, para que ela de tudo disponha conforme a vontade e para maior glória de seu Filho, sem que, entretanto, está dependência prejudique de modo algum as obrigações de estado no qual esteja presentemente, ou venha a estar no futuro: Por exemplo, as obrigações de um sacerdote que, por dever de ofício ou por outro motivo, deve aplicar o valor satisfatório e impetratório da santa missa a um particular; pois não se faz esta oferta a não ser conforme a ordem de Deus e os deveres do esta dom
   125. 3) A consagração é feita conjuntamente à Santíssima Virgem e a Jesus Cristo; à Santíssima Virgem como ao meio perfeito que Jesus Cristo escolheu para se unir a nós é nos a Ele; e a Nosso Senhor como o nosso último fim, ao qual devemos tudo o que somos, como nosso Redentor e nosso Deus.

ARTIGO II
Uma perfeita renovação dos votos do batismo

   126. Disse acima (cf. n. 120) que a esta devoção podia-se chamar muito bem uma perfeita renovação dos votos ou promessas do santo batismo.
   Todo cristão, antes do batismo, era escravo do demônio, pois lhe pertencia. Na ocasião do batismo o cristão, por sua própria boca ou pela boca de seu padrinho e de sua madrinha, renunciou a satanás, a suas pompas e obras, e tomou a Jesus Cristo para seu Mestre e soberano Senhor, passando a depender dele, na qualidade de escravo por amor. É o que se faz pela presente devoção: renuncia-se ( como está indicado na fórmula de consagração) ao demônio, ao mundo, ao pecado e a si próprio, dando-se inteiramente a Jesus Cristo pelas mãos de Maria. Faz-se até algo mais, pois se, no batismo, falamos ordinariamente pela boca de outrem, bela boca do padrinho ou da madrinha, dando-nos a Jesus Cristo por procuração, nesta devoção fazemo-lo nós mesmos, voluntariamente, com conhecimento de causa.
   No batismo não é pelas mãos de Maria que nos damos a Jesus Cristo, pelo menos de uma maneira expressa, nem fazemos doação a Ele do valor de nossas boas ações; depois do batismo, ficamos inteiramente livres de aplicar esse valor a quem quisermos ou de conservar-mos para nós. Por essa devoção, damo-nos, porém, a Nosso Senhor pelas mãos de Maria, e lhe consagramos o valor de todas as nossas ações.
   127. No Santo batismo, diz Santo Tomás, os homens fazem o voto de renunciar ao demônio e suas pompas " In baptismo vovent homines obrenuntiare diablo et pompis eius". E este voto, afirma Santo Agostinho, é o maior e o mais indispensável. "Votum maximum nostrum quo vovimus nos Christo esse mansuros". É também o que diziam os canonistas: " Praecipuum votum est quod in baptismate facimus" - o voto principal é o que fazemos no batismo. Quem, entretanto, Guarda tão grande voto? Quem é que mantém fielmente as promessas do santo batismo? Não é um fato que quase todas os cristãos falariam à fidelidade que no batismo prometeram a Jesus Cristo? Donde poderá vir esse desregramento universal, senão do esquecimento em que se vive das promessas e compromissos do santo batismo, e por que um não ratifica espontaneamente o contrato de aliança feita com Deus por seu padrinho e sua madrinha?

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora