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ARTIGO VIII
Esta devoção é um meio admirável de perseverança

   173. Oitavo motivo. Finalmente, o motivo mais poderoso, que, de certo modo, nos conduz a está devoção à Santíssima Virgem, é construir um meio admirável para perseverar na virtude e ser fiel. Como se explica que a maior parte das conversões dos pecadores não seja durável? Donde vem a facilidade de recair no pecado? Por que a maior parte dos justos, ao invés de avançar de virtude  em virtude e adquirir novas graças, perdem muitas veses o pouco de virtudes e graças que tinham? Esta infelicidade provém, como já o demonstrei (cf. n. 87-89), de que o homem, sendo tão corrompido, tão fraco e tão inconstante, fia-se em si próprio, e crê-se capaz de guardar o tesouro de suas graças, virtudes e méritos.
   Por esta devoção confiamos à Santíssima Virgem, fiel por excelência, tudo o que possuímos; tomamo-la por depositária universal de todos os bens da natureza e da graça. É em sua fidelidade que confiamos, no seu poder que nos apoiamos, em sua misericórdia e caridade que nos baseamos, para que ela conserve e aumente nossas virtudes e méritos, a despeito de demônio, do mundo e da carne, que envidam todos os esforços para no-los arrebatar. Dizemos-lhes como um bom filho a sua mãe: "Depositum custodi"  (1Tm 6,20), isto é, minha boa Mãe e Soberana, reconheço que até ao presente muito mais graças tenho de Deus recebido por vossa intercessão do que mereço, e minha funesta experiência me ensina que bem frágil é o vaso em que guardo este tesouro, e que por demais fraco e miserável eu sou, para conservá-lo em mim: "adolescentulus sum ergo et contemptus" (Sl 118,141); recebei em depósito tudo o que possuo, e conservai-mo por vossa fidelidade e vosso poder. Se me guardardes, nada perderei; se me sutentardes, não cairei; se me protegerdes, estarei a salvo de meus inimigos.
   174. É o que diz São Bernado para inspirar-nos esta prática: "Enquanto Maria vos sustenta, não caís; enquanto vos protege, não temeis; enquanto vos conduz, não vos fatigais; e, sendo-vos propícia, chegareis ao porto de salvação: Ipsa tenente, non corruis; ipsa protegent, non metuis; ipsa duce, non fatigaris; ipsa propitia, pervenis". O mesmo parece dizer São Boaventura em termos ainda mais claros: A Santíssima Virgem, diz ele, está não só detida na plenitude dos Santos, mas também guarda e detém os Santos na plenitude para que esta não diminui; impede que suas virtudes se dissipem, que seus méritos pereçam, que se percam suas graças, que os prejudiquem os demônios; impede, por fim, que Nosso Senhor castigue os pecadores.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora