OIE
Bora
Shownu havia chegado um pouco mais tarde na quarta-feira.
Cursar engenharia costumava trazer alguns imprevistos como aquele, mas fingiu não estar tão cansado ao entrar em casa e ver Changkyun encolhido no sofá da sala, usando os óculos de descanso. Dirigiu um sorriso pequeno ao mais novo que foi prontamente retribuído e ao subir as escadas, notou que não era o único ocupado naquele dia, já que a república parecia vazia.
Podia compreender. O trabalho interdisciplinar estava se aproximando e o período de surto generalizado também. Tentou não dar muita atenção a isso e ir apenas tomar um banho e procurar algo para comer. Permitiu-se demorar um pouco mais sob a ducha sem se sentir culpado por gastar tanta água e quando voltou à cozinha, ficou feliz por notar que já havia comida pronta.
— Foi você quem fez? – perguntou a Changkyun que ainda estava na sala.
— Já estava pronto, hyung – o outro respondeu.
Shownu decidiu fazer seu prato e ir até a sala ficar com ele, tanto porque não queria deixá-lo sozinho como porque ainda não tinham passado tanto tempo juntos. E Hyunwoo gostava de conhecer os seus dongsaengs.
— O que está assistindo? – perguntou, colocando uma porção generosa de comida na boca.
— History Channel – respondeu – Mas eles só falaram de extraterrestres até agora.
Hyunwoo deu uma risadinha de boca cheia e suspirou em deleite pela refeição, mas o mais novo continuava quietinho demais. Encarou-o e notou o olhar meio perdido, ainda que focasse a televisão, com a unha do dedão presa entre os dentes.
— Aconteceu alguma coisa? – perguntou.
— O que? – o olhar do outro o alcançou.
— Você está meio quieto demais – comeu mais um pouco – Eu sei que você é bem na sua, normalmente, mas...
Changkyun escondeu as mãos nas mangas do moletom. Até mesmo Shownu já percebia quando ele estava estranho.
— Eu só estou... Pensativo, eu acho.
— Hum – refletiu se deveria perguntar – Precisa de um conselho?
— Não sei se poderia me ajudar, hyung – sorriu envergonhado.
— Eu posso tentar – deu de ombros.
Changkyun se ajeitou no lugar, inseguro. Já haviam se passado alguns dias desde que Wonho o havia beijado e nem ele nem Hyungwon o estavam tratando mal, mas algo estava diferente. Percebia os olhares do casal sobre si, mas não sabia decifrá-los e desde aquela madrugada com sorvete, não houve mais nenhuma aproximação.
Não sabia se tinha, novamente, causado algum desconforto ou se estavam apenas ocupados e se sentiu culpado por desejar a atenção de ambos novamente para si, porque era extremamente egoísta pensar daquela maneira. Ainda que ele sentisse até demais, não podia cobrar reciprocidade de duas pessoas que nem ao menos lhe pertenciam.
— Eu estou me sentindo a protagonista de uma ficção fantástica adolescente – Changkyun suspirou – Daquele tipo bem clichê, que tem dois caras incríveis por perto e ela não sabe qual escolher, mas nessa história, está tudo errado – levantou um pouco o tom de voz – Porque sou eu que estou apaixonado por duas pessoas incríveis, não tenho que fazer escolha nenhuma e mesmo que tivesse, eu jamais saberia escolher entre eles. Principalmente porque eles não são meus. Eles são um do outro.
Shownu engoliu, arregalando um pouco os olhos com aquele desabafo aleatório.
— Isso foi dramático demais, você tem passado muito tempo com o Minhyuk.
— Foi mal, hyung. É só que... Eu fico mais confuso a cada dia – esfregou os olhos por baixo dos óculos – Se eles me dão atenção, eu me sinto culpado por estar me intrometendo. Se eles não me dão atenção, eu me sinto triste porque sinto saudade. Eu sinto que meu coração vai explodir cada vez que estou perto dos dois e sinto esse desconforto no meu peito sempre que estou longe, mas no fim das contas, se alguém tiver que perder algo nessa história, serei eu. E, sinceramente, eu mesmo prefiro que seja assim.
— Changkyunnie – Shownu chamou-o com cuidado – Por que você acha que alguém precisa perder?
— Porque eu não posso ser o responsável por destruir algo tão bonito, hyung – resmungou.
— Você não precisa dividir – sorriu – Pode somar, em vez disso.
— Mas eles não parecem precisar de alguém como eu – sussurrou.
Shownu deixou seu prato – agora vazio – para se aproximar do mais novo. Ajeitou os fios rebeldes e Changkyun apreciou o gesto, porque Hyunwoo conseguia ser extremamente paternal sem nem notar.
— Se não precisassem, você não estaria surtando agora, não é?
Changkyun apertou os dedos nas mangas do casaco e baixou o olhar. Não conseguia deixar de se sentir no meio do fogo cruzado.
— Eu nem ao menos sei como lidar com isso.
De fato, entre as escolhas que o cabiam, não fazia ideia de qual fazer, nem de que atitude deveria tomar quando tudo era sempre tão ambíguo.
— Você precisa se dar um tempo – o mais velho disse – Então vai saber o que fazer. Mas não se prenda à escolhas bitoladas pelo padrão dos outros, ok? – balançou seu queixo levemente – Você não é a protagonista de uma ficção fantástica adolescente.
Changkyun sorriu, sentindo-se um pouco melhor e os dois voltaram a atenção à TV. Se passaram longos minutos até que Shownu decidiu perguntar.
— Kihyun ainda não chegou?
— Sim, chegou e saiu – o mais novo respondeu – Um colega dele apareceu.
— Colega?
— Sim. Mingyu, eu acho.
Shownu virou-se novamente para Changkyun.
— Kihyun saiu com Mingyu? – perguntou, assustadoramente sério.
— S-sim. Por que?
Hyunwoo bufou, levantando-se do sofá. O cansaço teria que esperar.
— Por nada. Eu vou sair.
OLAAAR
Momentinho do líder com o caçula. Reflexões aí na cabecinha do chandon
E crise básica do Shownu. E agora hein?
Espero que tenham gostado xuxus
Até logo <3
VOCÊ ESTÁ LENDO
SEVENTH
FanfictionChangkyun estava acostumado a chegadas e partidas, mas a experiência de passar tanto tempo no mesmo lugar era algo novo a essa altura da vida. Dividir a República com mais seis pessoas diferentes parecia loucura, tanto quanto deixar a vida de viagen...