Capítulo IX

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BEATRIZ LAWFORD

— Lady, levante-se dessa cama. O dia está tão belo. Fará bem pegar um pouco de sol.

Pela enésima vez, Ivy insiste. É assim todas as manhãs. Mas não sinto vontade de fazer nada.

Mesmo que a primavera tenha chegado, nem as aulas que tanto gostava de dar, quis retomar. Não sinto ânimo, tenho vontade de ficar apenas deitada no quarto escuro.

— Já disse que não tenho vontade de sair daqui. Me deixa em paz.

Ela suspira resignada e se retira.

Acaricío minha barriga, que já está bem grandinha. Pelas minhas contas, estou com mais ou menos cinco meses de gestação.

Sei que deveria me cuidar melhor, pelo meu bebê, mas não tenho ânimo nenhum. Me obrigo a me alimentar, pois nem fome sinto.

Nos últimos meses fui tomada por uma tristeza profunda. Meu marido cumpriu o que prometeu, nunca mais me procurou, e isso só faz aumentar minha dor.

Sinto falta dele. Sinto tanta falta que dói.

Apesar de tudo, ainda o amo. É por esse amor que me sacrifico, quero que ele fique feliz, por isso não o obrigo a suportar minha presença.
Sei que se o procurasse não me rejeitaria, pois é um homem bom e não seria capaz de me destratar,  mas não é certo, e também assim vai ser mais fácil me acostumar.

Meus pais mandaram uma carta dizendo que ficaram muito feliz com a notícia da minha gravidez e que em alguns dias viriam me visitar.

Mas nem essa notícia me animou.

Ouço a porta se abrir e Mary entrar.

— Menina, estou preocupada com você. O que está acontecendo? Você parecia tão feliz e da noite para o dia a tristeza te tomou.

— Não é nada Mary, só quero ficar sozinha.

— Sei que aconteceu alguma coisa. Já fazem meses que você não sai dessa cama. Mal se alimenta. Você tem que pensar no bebê que carrega.

Seguro as lágrimas.

— Eu sei Mary, mas estou bem.

— Eu sei que você me pediu para não fazer isso, mas se as coisas continuarem assim, vou falar com o lorde. Já basta ele trancafiado naquele quarto.

— Por favor Mary, não perturbe meu marido com isso. Eu prometo que farei um esforço.

— Tudo bem menina. Então vamos começar agora. Trate de se levantar dessa cama, vou preparar seu banho e depois vamos passear pelo jardim.

Concordo com um movimento de cabeça e ela sai do quarto para buscar a água.

Caminhamos um pouco por entre as flores do jardim, mas não consigo nem admirar sua beleza. O sol bate em minha pele, mas não me aquece como antes.

Pouco tempo depois consegui convencer Mary de que estava cansada e voltei para meu quarto.

Logo após meu retorno Ivy entra animada.

— Lady, seus pais chegaram. Vamos, levante.

— Diga para Spencer acomoda-los Ivy, e se desculpe com eles por mim. Não irei sair daqui, diga que estou a espera deles em meus aposentos.

A euforia dela some, ela só acente e se vai.

Sei que mamãe e papai ficarão preocupados ao me verem assim, então me levantei para escovar os cabelos e passar um pouco de rouge nas bochechas.

Logo batem à porta .

— Pode entrar.

Papai entra primeiro e me aperta entre seus braços.

— Que saudade minha princesa. Estou tão feliz, não acredito que me dará um neto.

— Também estava papai. Obrigada por terem vindo, e me desculpa por não ter ido recepciona-los.

— Tudo bem meu amor, Ivy disse que estava um pouco indisposta. Vou deixa-la um pouco com sua mãe, ela vai cuidar de você. Irei ver seu marido agora.

— Sim papai.

Ele beija minha testa e se vai.

Mamãe se aproxima e se senta na cama. Seu rosto está banhado em lágrimas.

— Senti tanto sua falta meu amor. Aquele castelo não é mais o mesmo sem você, meu raio de sol.

— Também senti mamãe. — A abraço apertado. — Mas me diga como esta meu irmão? E as coisas no Reino?

— Seu irmão está bem melhor, não reclama mais de dores e quase não fica mais de repouso. As situação do reino está melhor também, com o dinheiro que seu marido cedeu, seu pai comprou grãos para a lavoura e comida para aguentamos até a colheita.

— Isso é ótimo. — Forço um sorriso.

— Mas e você? Você pode enganar seu pai, mas eu te carreguei dentro de mim, essa carinha não me engana. Consigo ver tristeza nos seus olhos.

Não consigo segurar mais o choro. Me deito em seu colo e deixo as lágrimas caírem.

— Calma minha menina… —ela afaga minha cabeça. — Me diga o que te aflige.

— Eu ouvi uma conversa do meu marido com Spencer, ele disse que, quando eu lhe der um herdeiro me mandará de volta e pedirá para que o rei Henrique anule o casamento.

— Mas isso não é de todo mal, meu amor. Pelo menos se livrará de um casamento sem amor, poderá se casar novamente, com um homem que você ame.

— A senhora não entende mamãe, eu amo meu marido. Não quero ir embora daqui, não quero deixa-lo.

— Oh meu amor. Eu sinto muito.

— Desde o dia que descobri minha gravidez não nos vemos mais, estou tão triste minha mãe, mas não quero obriga-lo a me ver. Sinto vontade de morrer.

Choro mais alto e ela me segura em seus braços, como fazia quando era pequena e me machucava.

Uma sensação de nostalgia invade meu peito. Começo me acalmar aos poucos.

Ela deita minha cabeça nos travesseiros.

— Descance meu anjo. Mamãe está com você, não vou deixar nada de ruim te acontecer.

Sinto meus olhos pesados, o cheirinho bom da minha mãe me faz relaxar, logo a escuridão me abraça.

Marcados pelo Amor (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora