Marcados pelo Amor (Completo)

Capítulo VIII

BEATRIZ LAWFORD

Os meses se passaram, com eles o verão se foi, observo pela janela os primeiros flocos de neve.

As colheitas foram muito boas, todos passarão um inverno tranquilo.

Com a chegada do frio, as aulas foram suspensas, fica difícil para as crianças enfrentarem o inverno da Inglaterra logo pela manhã. Sinto falta deles. Me apaguei muito a cada um, e com essas horas livres, me sinto entediada.

Suspiro e toco meu ventre. Minhas regras estão atrasadas já fazem quinze dias.

Nesses meses acabei me apaixonando por meu marido. Não é difícil amar um homem como ele. Mesmo não podendo ver seu rosto eu o amo.

Será que tem como amar dois homens ao mesmo tempo? Sim, amo Justin, mas também amo o homem misterioso, com o qual continuo sonhando, mesmo que com menos frequência. Mas hoje, já não espero mais encontra-lo como antes.

Mas voltando a minha possível gravidez, já era de se esperar que eu engravidasse rápido, meu marido é um homem dotado de bastante apetite, visita meu quarto toda a noite, a não ser quando estou naqueles dias.

Ainda não contei a ele da minha suspeita. Queria ter certeza antes. Pedi para Ivy chamar Mary. Ela é uma mulher vivida, acho que poderá me dar a certeza que preciso.

Logo ouço a porta se abrir e me viro.

— Menina, mandou me chamar?

— Sim Mary. Acredito que a senhora poderá me ajudar.

— Pois não.

— Minhas regras estão atrasadas.

— Oh, mas então essa é uma coisa ótima.

— Sim, mas como posso ter certeza?

— A quantos dias está atrasada? Sente mais alguma coisa diferente?

— Quinze dias. Sinto sim, mas nada grave, um leve enjoo pela manhã, e muito sono.

— Pode comemorar lady. Um bebê está à caminho.

Sorrio e lágrimas molham meu rosto. Me sinto tão feliz.

Sei como meu marido deseja um filho.

— Não conte nada a ninguém Mary. Quero eu mesma dar a notícia ao lorde.

— Como quiser. Meu menino ficará tão feliz.

Ela me abraça apertado, pede licença e sai.

Sinto uma euforia tão grande dentro de mim. Não consigo mais segurar, vou agora mesmo falar com Justin.

Saí quase saltitante pelo corredor. E não avisto ninguem.

Estranho, Spencer está sempre fazendo guarda na  porta do quarto de Justin.

Sem esperar mais me aproximo. A porta está entre aberta. Pela fresta consigo ver Spencer dentro do quarto, não vejo meu marido, mas ouço sua voz grave.

— Já está decidido Spencer, assim que Beatriz me der um herdeiro, a mandarei de volta aos seus pais e pedirei para o Rei cancelar nosso casamento.

Não consigo ouvir mais nada. Meus pés ganham  vida própria e correm para meu quarto.

Ele está contando os dias para se livrar de mim, e eu, boba, me apaixonei.

Achava que ele fazia amor comigo porque me desejava, mas para ele só sirvo para lhe dar um filho.

Será que ele seria cruel ao ponto de me separar do meu bebê? Depois do que eu ouvi, já não sei o que pensar.

Choro até não ter mais lágrimas. Não sabia que o amor podia doer tanto.

JUSTIN LAWFORD

O tempo passou rápido, e com ele um sentimento forte nasceu em meu coração. Amor. Sim, estou perdidamente apaixonado por Beatriz.

Ela é o raio de sol em meio a minha escuridão, faz meus dias melhores. É carinhosa e compreensiva, não sei o que será de mim quando ela se for.

Contudo percebi que ela anda diferente nos últimos dias, parece anciosa, como se estivesse tramando alguma coisa.

Sou interrompido pelo barulho da porta que se abre, e Spencer adentra o quarto.

—Vim ver como acordou meu lorde.

— Muito bem Spencer. — Respondo sorrindo.

— A menina Beatriz tem feito muito bem ao lorde. Fiquei anos sem vê-lo sorrir, mas nos últimos meses o sorriso não sai de seus lábios.

— Confesso, meu amigo, ela me traz muita alegria.

— Então o lorde esqueceu aquela ideia absurda de manda-la de volta?

—Já está decidido Spencer, assim que Beatriz me der um herdeiro, a mandarei de volta aos seus pais e pedirei para o Rei cancelar nosso casamento.

— Mas pra que continuar com essa bobagem lorde? Da para notar que ela é feliz aqui.

— Eu a amo Spencer. Não posso deixar que viva o resto da vida dessa forma. Você acha mesmo que ela é feliz com um marido que ela nem conhece o rosto?

— Acho. O mesmo sorriso que vejo no lorde, vejo nela. Só acho que deveria pensar melhor. Com licença.

Ele se retira e me deixa com minha confusão.

Nesses meses fui mais feliz do que nos últimos trinta e cinco anos. Mas sou capaz de sacrificar essa felicidade por ela. Ela merece viver uma vida completa.

Ouço alguém bater na porta.

— Quem é?

—  Sou eu, Beatriz.

Sua voz está rouca, como se tivesse chorado.

— Só um momento.

Fecho a janela e apago a lareira.

— Entre.

— Bom dia lorde.

— Bom dia Bea. Dormiu bem?

— Sim.

Acho estranho o tom com o qual fala comigo, ela é sempre tão doce e atenciosa.

— Já que não foi para saber como passei a noite, o que a trás aqui? — Tento soar divertido, para quebrar o clima.

— Só queria comunicar que estou grávida.

Dois sentimentos brigam em meu peito.

Sinto uma felicidade imensa por saber que serei pai. Mas também me sinto triste. O meu tempo com ela será menor do que imaginei.

A abraço e beijo sua testa.

— Você tem certeza?

— Sim. Já desconfiava a alguns dias, mas esperei ter certeza para contar ao lorde.— seu tom continua frio e isso me preocupa.

— Esta tudo bem minha esposa? Você está estranha. Não está feliz pela gravidez?

— Estou feliz sim, sempre desejei ser mãe. Só queria te fazer um pedido.

— Claro, o que puder fazer para te ver feliz.

— Gostaria que deixasse de me procurar em meus aposentos. Agora que espero seu herdeiro não há mais necessidade.

Fico sem palavras. Por que essa mudança agora? Ela parece gostar de quando fazemos amor. É sempre tão entregue, não pode ser fingimento.

Mas talvez seja melhor assim, quanto menos tempo passar com ela, menos difícil será esquece-la.

— Se é o que deseja, não o farei mais.

— Obrigada.

Sem dizer mais nada ela sai.

Eu não consigo entender. Ainda na noite passada estava tudo bem, ela foi tão doce, me amou na mesma intensidade com a qual a amei, e agora age assim, com frieza. Alguma coisa aconteceu. Não é possível que eu tenha me enganado dessa forma.