O despertar do alfa

1. Acordando meu marido

Em um templo e um tempo há muito distante, uma rainha para conter seu amado e feroz rei, o fez dormir um sono longo, muito longo, para que o reino e o mundo pudessem respirar de um assassino tão feroz. Contudo ele, em seus últimos momentos lúcido, percebeu que tinha realmente feito algo terrível com a mulher que tanto amava e jurou diante do seu corpo já sem vida que iria se redimir:

"Eu vou reparar, de alguma forma eu vou reparar meus erros... Eu te amo Titi..."

Foram suas últimas palavras antes de seu corpo cair em sono profundo de uma quase morte. Sua rainha tinha morrido para contê-lo, ele jamais permitiria que acontecesse uma segunda vez.

Cinco mil anos depois

Eu estava com medo. Não pelo o que estava para fazer, mas porque eu sabia que ia deixar a pessoa que mais gostava de mim, furiosa.

Mas o que fazer quando se sente que deve muito fazer algo mesmo que o mundo todo diga que não é para fazer? Eu sentia um quase desespero desde que soube dele, eu precisava acordá-lo, eu tinha que fazer.

Então lá estava eu, descendo a caverna que dava para a pirâmide subterrânea em que minha eu do passado, há mais de cinco mil anos, tinha o aprisionado. Seu nome era Xiao, rei do alto Egito antes da era faraônica mais conhecida. O primeiro hibrido de vampiro e lycan, filho de um imortal e uma guerreira, uma das mais ferozes e poderosas pessoas que já pisaram na Terra.

E meu marido, quer dizer, de Nefertiti, a primeira de seu nome.

Mas tecnicamente eu era ela e ela eu, porque a alma era a mesma então ele era meu marido e eu deveria despertá-lo, não só porque ele podia nos ajudar a salvar o mundo, mas também porque eu sentia que deveria fazer...

Lay ficaria furioso comigo, mas enfim, um dia ele entenderia, não é?

Eu esperava, mesmo, porque senão eu ia ser castigada pelo resto dos meus dias. Eu amava aquele lobo curandeiro como a um irmão e eu o respeitava, mas... Era sobre o destino do mundo e sobre meus sentidos também.

O local era uma imensa pirâmide profunda, silenciosa e em seu andar mais escondido estava à tumba retangular, lisa, sem ornamentos na salinha rústica e antiga.

Ele tinha sido amaldiçoado, eu sabia. Assim como sabia que ele tinha sido bem mal para terminar assim, entretanto cinco mil anos tinham passado, era tempo bastante para uma pessoa repensar a vida... Claro que era.

Respirei fundo e caminhei até a tumba parando ao seu lado e tocando a tampa na altura da cabeça. Uma lenda dormia ali dentro, um homem que causou terror e respeito em seus dias, um homem que foi meu...

Mamãe ia me matar também, claro que ia, eu não tinha passado nem no meu teste de coven e estava ali pronta para acordar o antigo egípcio feroz. Mas eu tinha que fazer e era isso...

Respirei fundo outra vez e recitei o encantamento simples de mover coisas pesadas e aos poucos à tampa se arrastou de lado me revelando o homem adormecido à luz da pequena lanterna em minha mão.

Ele era apenas pele e ossos, o rosto fundo de uma múmia reluzia a luz fria e as mãos estavam rentes ao corpo ao invés de dobradas sobre o peito. Era cadavérico, mas não cheirava a morte, cheirava a almíscar e especiarias ainda que a roupa antiga já tivesse virado pó.

Pisquei várias vezes ao olhar a figura alta ali, deitado e dormente.

Segundo sabia devia apenas chamá-lo, mas hesitei. Hesitei, não por medo, mas estava um pouco encantada por vê-lo. Era como se minha alma o reconhecesse... E reconhecia claro, Xiao foi o grande amor do meu passado e da minha vida, e ainda que eu não entendesse como seria um amor tão forte como à história contava, ao ponto dela morrer para salvá-lo, além dela ser a única pessoa a quem aquele homem se curvava, ainda assim era como se eu pudesse sentir alguma fração de tudo aquilo. Então uma força maior que eu, me fez curvar e tocar em seu rosto áspero pela ruína e em milésimos de segundo minha mão estava presa entre dedos esqueléticos enquanto um olhar escuro, fixo, fundo na cavidade ocular dele caia sobre mim com a força de uma avalanche.