IX

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Duas semanas haviam se passado desde meu beijo com Seungcheol. Duas semanas. Parecia até mentira quando eu parei para contar. Duas semanas que eu mal falava com ele, e nem era por vergonha ou medo - mesmo que eu estivesse cheio desses sentimentos -, era tudo por causa dos professores. Ok, maldade culpar eles, mas eles tinham sim uma pequena parcela de culpa nesse obstáculo.

Explicando melhor, depois de voltarmos da excursão nós dois nos separamos - coisa que foi bem difícil já que queríamos ficar aos beijos atrás da biblioteca -, e depois disso veio o fim de semana onde nós fomos liberados para um passeio pela cidade. Eu não fui, estava ocupado demais fazendo uma redação de vestibular, sobre o que aconteceu no lago, para Seungkwan que literalmente surtou quando contei do beijo. Então na segunda-feira vieram os anúncios de provas, todas elas. Duas semanas de testes e estudos intensos para alcançar uma nota boa.

Na verdade ninguém se falou muito naquelas semanas, eu mal via os que não estudavam comigo - com exceção de Mingyu que dormia no mesmo quarto que eu. Mas felizmente havia acabado, estávamos livres de provas. E era sexta-feira, uma sexta fria, nublada e meio parada. Até chegar o almoço.

Enquanto eu andava em direção a mesa para me encontrar com meus amigos - fazendo mantras mentais para me acalmar e não ter um ataque quando me encontrasse com Seungcheol - acabei ouvindo, de uma mesa perto de uma das portas de emergência, um grupo de garotos do segundo ano que jogavam basquete e garotas que faziam parte das líderes de torcida, a seguinte frase:

- Eu não sei, eu cresci sendo ensinado que homens devem se relacionar com mulheres, e não com outros homens. - o rapaz que estava de costas para mim dizia aos outros com um tom presunçoso e parecia enojado. - E já não sendo estranho todos eles serem gays e ficarem entre si, ainda tem um casal de três. Isso é meio nojento.

Eu pensei em cinco maneiras diferentes de fazer aquele garoto cair "acidentalmente" das escadas e quebrar a mandíbula para nunca mais dizer merda, porém resolvi que violência não era a melhor solução.

Me aproximei da mesa deles e abri espaço entre o garoto da boca grande e uma garota que usava um lado azul na cabeça. Me sentei entre eles e recebi todos os olhares da mesa. Encarei o rapaz que antes soltava merda pela boca, o reconheci imediatamente. Abri um sorriso, não como aqueles sorrisos gentis, era mais como algo venenoso.

- Engraçado você falar isso, eu também cresci aprendendo algo. - falei apoiando um dos braços na mesa e me inclinando em sua direção. - Cresci aprendendo a denunciar homofobia já que é crime na Suíça.

Não precisei dizer mais nada para que todos eles ficassem assustados.

- E espero que não use mais essa sua boquinha bonita para falar mal dos meus amigos. - levantei do banco e me inclinei ainda mais sobre ele fazendo-o se escorar na mesa. - Pessoas homofóbicas como você são nojentas.

E virei as costas para eles. Era como se eu estivesse em um salto desfilando ao som de CL. Naquele momento me senti mesmo em um filme americano adolescente dos anos noventa.

Mas infelizmente meus cinco segundos de Beyoncé acabaram. Senti alguém puxar meu braço e com a força voltei para trás quase caindo. Era o garoto que estava insultando meus amigos. Ele estava claramente irritado, sem falar do jeito que apertava meu braço. Nesse momento nós dois tínhamos a atenção de todo o refeitório, incluindo meus amigos que estavam do outro lado do lugar.

- Quem você pensa que é pra falar assim comigo? - ele disse extremamente irritado.

- Ama falar mal dos "gays nojentos", pensei que pelo menos saberia nossos nomes. - dei de ombros me mantendo o mais calmo possível diante da situação. - E você poderia tirar essa mão suja de cima de mim?

Le RoseyOnde histórias criam vida. Descubra agora