XVIII

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    Eu estava incomodado. Incomodado com o barulho do despertador ao meu lado. Não parava, era alto e em alguns momentos eu sentia como se ele apitasse dentro da minha cabeça. Minha mente lutava para fazer meu corpo se mover e desligá-lo com urgência antes que eu acabasse surtando.

    Mas algo estava errado.

    Por que Mingyu não estava resmungando do outro lado do quarto para que eu desligasse o despertador? Por que eu não estava com frio como toda a noite quando derrubava o cobertor no chão?

    Meus olhos se abriram, uma lentidão que parecia de mentira. A claridade os machucou ao ponto de eu ter de fechá-los outra vez. Meu dormitório não era claro daquele jeito, Mingyu havia me convencido de colocar um blackout para acabar com a luz do sol da manhã. Então de onde era aquela luz?

    Tentei focar os olhos em algo, eles ardiam e estavam embasados. A primeira coisa que vi com clareza foram minhas pernas cobertas com uma manta azul piscina assustadoramente chamativa. Depois identifiquei uma cômoda do outro lado do meu suposto quarto, uma cômoda branca lisa sem nada para decora-la. Vaguei os olhos para mais longe e vi alguém sentado sobre uma poltrona preta aparentemente desconfortável. Quem era aquela pessoa? Estreitei os olhos e, depois de piscar uma sequência de vezes, identifiquei Seungcheol dormindo naquela pequena poltrona de um tom tão gélido.

    Seungcheol.

    As lembranças voltaram como um soco em meu rosto. O baile, a coroação, nossa noite na casa dos Choi, o invasor lutando com Seungcheol, os tiros. O que havia acontecido? Onde eu estava? Havia finalmente acabado?

    O barulho, que antes eu pensava ser um despertador, voltou a chamar minha atenção já que dessa vez apitava freneticamente ao meu lado. Era um medidor multiparamétrico. Meu coração que havia causado aquilo?

    - Hey, vamos com calma. - ouvi uma voz ao meu lado. Havia alguém ali esse tempo todo e eu não tinha percebido?

    Lentamente virei minha cabeça na direção da voz, e lá estava Seungkwan me olhando com um pequeno sorriso brilhante. Seus olhos estavam vermelhos, suas bochechas coradas e seus cabelos desgrenhados. Ele havia chorado?

    - Kwan... - minha voz falhou e só então senti que estava com sede, uma sede imensurável. Sua mão pálida me estendeu um copo com uma pequena quantidade de água que ingeri em questão de segundos.

    - Melhor?

    Balancei a cabeça em concordância, não seguro de usar minha voz naquele momento.

    - Que baita susto você nos deu, Hannie. - ele sussurrou, talvez por não querer acordar Seungcheol, ou apenas porque aquele tom demonstrava com mais clareza seus sentimentos. - Nunca mais faça isso.

    - O que...

    - Depois falamos sobre isso, agora apenas descanse. - suas mãos se juntaram com as minhas, ambas frias e pálidas.

    - Cheol?

    - Ele está dormindo ali, passou o dia com você aqui. Não saiu nem para comer. - explicou Seungkwan correndo os olhos por Seungcheol que dormia tranquilamente.

    - Eu fiquei com tanto medo.

    - Eu imagino. - vi os olhos do meu amigo se enxerem de lágrimas e os meus fizeram o mesmo. - Quando recebemos a mensagem do seu aplicativo corremos para a casa, mas chegamos depois dos os policiais. Você estava sangrando tanto por causa do tiro no ombro, Seungcheol estava desesperado. Quando você desmaiou eu quase desmaiei junto. Podíamos até ter dividido a ambulância.

Le RoseyOnde histórias criam vida. Descubra agora