E ele estava lá
Jogado na rua com seu cheiro de mijo e cachaça
A pele tão encardida quanto os panos que carregava e que não eram grandes o suficiente para cobrir toda a sua vergonha. Nenhuma delas.
O preto de suas unhas compridas se misturava a cor escura do asfalto e toda a merda que escorria pelo lugar parecia ser um tanto mais agradável que aquela criatura. Estirada ali e empapada de suor era um retrato puramente desumano de quão humana a decadência poderia ser com alguém, se fosse bem servida e solitária.
A bebida amenizava um pouco o seu hálito azedo e quente
Mas mesmo assim minhas tripas doíam e meus olhos ardiam enquanto o velho falava comigo aos berros.
E ele cuspia em mim, enquanto chorava copiosamente. Patético até."Por favor, meu filho. Meu suor tem gosto de que?"
"De fome, papai" respondi prontamente, encantado e espantado até, por conseguir fingir tão bem não ter emoção alguma.
Talvez ele não lamentasse tanto ter vindo ao mundo e ansiasse tanto a hora da morte quanto eu o fazia por ele ali mesmo, naquele momento.
Mas tanta dor me fez pensar que talvez nem todas as pessoas deveriam ver seu futuro tão de perto quanto meu pai me fez ver.
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Marte é Um Planeta: Vermelho (ou Poesia De Merda...)
PoetryNão tem sinopse. Só lê essa bosta e passa reto