Cláudia ( 3 )

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Quando estava a caminho de casa, ouvi alguém a chamar-me. Era a Raquel.
- oi!- cumprimentei.
- Precisamos de falar.- esclareceu.
Achei que ela estava a confundir-me. Eu e a Raquel tínhamos sido melhores amigas no jardim de infância, mas depois separamo-nos. Foi uma coisa muito repentina.
- Aconteceu alguma coisa ?- Questionei, tentado aumentar a velocidade da conversa.
   - É sobre o Gabriel.
- O que tem o Gabriel?- perguntei, com uma certa preocupação.
- Acho melhor teres cuidado com ele - aconselhou.
- Eu não acredito em qualquer coisa que tu vieres contar-me. Acho que tu estás com inveja por eu ter feito um amigo. - disse, totalmente alterada.
- Calma, menina. Porquê que eu haveria de ter inveja? Eu sou a rapariga mais popular da escola. Achas que eu preciso de um pirralho como ele? Só te queria avisar. - apelou a Raquel.
- E viraste boazinha agora, Raquel?
- Não fales assim comigo. Eu só estou ajudando a minha amiga.- afirmou fazendo-se de vítima
- Amiga?
- Sim.
- Não sabia que éramos amigas.
- Ai que engraçadinha!! Sua tola.
A Raquel despediu-se de mim, com dois beijos no rosto e foi andando pela baixa.
A Raquel é brasileira, tem 17 anos, é alta, magra, olhos verdes, tem o tom de pele branco e é uma rapariga muito bonita. Agora vendo bem, ela não tem nada a perder com a minha amizade com o Gabriel. Será que ela sabe de alguma coisa que eu não sei ? Senti necessidade de falar urgentemente com o doutor Patrick. Pensei nisso durante algum tempo e decidi mandar uma mensagem ao doutor.

Boa tarde, Doutor. Como é que o senhor está? Eu queria conversar consigo. Preciso de ajuda. Beijinhos e abraços. Cláudia.

Boa tarde, querida. Estou bem, obrigado! Como é que tu estás? Se quiseres eu posso passar pela tua casa quando sair do meu consultório. Tu sabes que não és uma simples paciente e, por favor, peço-te mais uma vez, para me tratares por Patrick. Beijinhos e abraços. Patrick

Para ser sincera, não sei como responder a sua pergunta. Estou confusa. Não estou bem, mas também não estou mal, estou estranha. Até logo, Patrick.

Faltavam aproximadamente cinco minutos para a minha chegada a casa, quando avistei o carro da minha mãe, ela parou e baixou o vidro.
- olá, querida!- cumprimentou-me.
- olá, mãe!
- Queres boleia ?
- sim - aceitei, abrindo o carro vermelho da minha mãe
- Como é que foi o teu dia, filha ?
A minha mãe pergunta-me todos os dias como é que o meu dia correu. Acho que é
para termos conversa.
- o meu dia foi bom e o teu, mãe ?
- Respondeste que foi bom ? Respondes sempre que foi normal ! O q aconteceu ? Filha, conta-me.
- Não foi nada.
- Eu conheço a minha filha.
- acho que fiz um amigo.
- Achas ? - interrogou a minha mãe
- Conversei com um miúdo no corredor e depois combinamos almoçar juntos e ele disse que gostou muito da minha companhia.- expliquei-lhe.
- isso é tão bom, filha !- exclamou.
-Mãe, o Patrick vai lá a casa à noite- avisei.
- Filha, porquê que só me avistaste agora ?
- Porque eu também só soube isso há pouco tempo.- Continuei.- Mas ele já costuma ir várias vezes a nossa casa e tu nunca reclamaste.
- Desculpa-me, filha.
- Sem problemas, mãe.
Antes de irmos para casa, fomos às compras. Enquanto a minha mãe estava a escolher o vinho que iria beber com o Patrick, eu fui até a zona dos livros. Quando cheguei a minha área favorita, tirei um livro e comecei a ler.
-olha quem está aqui !
Olhei para trás e vi-o.
- Olá, Gabriel. Não esperava encontrar-te aqui. - admiti.
- Eu também não esperava nada. - concordou.
- Gostas de ler?- perguntou, parecendo novamente admirado.
- Muito - respondi orgulhosa de mim mesma.
- Qual é o teu género favorito ?- interrogou-me.
- O meu género favorito é romance, mas também leio clássicos e crime. E tu gostas de ler ?- perguntei
- Eu também gosto muito de ler, principalmente, crime. - contou-me.
- Então, já tenho uma pessoa para trocar livros. Isso é se tu quiseres. Queres ?- disse, e arrependi-me no segundo seguinte.
- Nem preciso de pensar duas vezes- respondeu e fiquei satisfeita com a sua resposta.
- Esse livro que tens na mão é muito bom. Tens a minha recomendação.
- Agradeço muito pela recomendação. Quando acabar de ler, digo-te.
- ok. A minha mãe está a ligar para mim, tenho de ir. Até amanhã.
Despediu-se de mim, com um beijo na bochecha. Eu não tenho a certeza mas acho que eu fiquei corada.
Peguei no livro e fui até a zona dos vinhos ter com a minha mãe. Ela já estava com um vinho na mão, dizendo que é o favorito do Patrick. Fiquei curiosa por saber como é que ela tinha essa informação. A minha mãe e o Patrick deram-se bem sempre. Mas, ultimamente, a minha mãe fala muito dele e eu acho que ela está a apaixonar-se. Torço por isso. A minha mãe é uma mulher jovem de 35 anos e desde que nasci ela nunca se envolveu com ninguém, isto é, que eu saiba. O Patrick não deve ser muito mais velho que ela. Ele chama à atenção de todas mulheres. Ele é loiro, tem os olhos azuis, deve ter aproximadamente um metro e oitenta e cinco e é musculado. Ele é o tipo de homem com que toda mulher sonha. Será que o Patrick também sente alguma coisa pela minha mãe ? Tenho de investigar mais sobre isso.
- Já está tudo, mãe ? - perguntei, esperando que a resposta fosse positiva.
- sim, filha- disse a minha mãe.
- Levas mais um livro aí , filha ? - perguntou.
- sim- confirmei.
- vamos para aquela caixa- disse, apontando para a caixa 22.
Fui andando com a minha mãe até ao caixa 22 e, quando lá chegámos, esperamos aproximadamente 5 minutos para que o empregado acabasse de atender o cliente que estava antes de nós. O funcionário foi muito simpático e não deve ser muito mais velho do que eu.
Eu nunca tive de trabalhar em toda minha vida. Apesar de a minha mãe me ter criado sozinha, nunca tive de contribuir com as contas de casa. A minha mãe é uma das líderes do jornalismo em Portugal. Eu gostava muito de seguir essa área, mas acabei por ir para as ciências com medo de não ser boa o suficiente comparando com a minha mãe, que é a melhor, naquilo que faz.
- filha - chamou a minha mãe, despertando-me dos meus pensamentos.
- sim - foi tudo o que respondi.
- o que vamos jantar ? - perguntou, realmente preocupada com o cardápio da noite como se fôssemos receber o presidente da república.
- podíamos encomendar uma pizza - afirmo, embora tenha parecido mais uma interrogação.
- Fora de hipóteses - respondeu, tirando-me a esperança de comer uma pizza de frango
- Porquê ? - Questionei.
- Porque vamos receber uma visita especial- disse, justificando a sua resposta anterior.
- por ser especial é que não precisamos de nos esforçar para agradar- argumentei.
- Não se trata de ser um esforço para agradar, mas sim de fazer um agrado para o nosso amigo.
- Então, faz o que quiseres - disse, meio irritada.
- Dá mais uma sugestão- ordenou.
- Eu posso fazer arroz doce para a sobremesa - sugeri
- Pode ser- Continuou. - Achas que devo fazer uma sopa ?- perguntou.
- Podes fazer e, se sobrar, fica para comermos amanhã - aconselhei.
- obrigada - agradeceu.
- Não tens de agradecer, mãe. Mas estás a esquecer-te da parte mais importante. Qual vai ser o prato principal ? - Questionei, para a lembrar.
- Já me ia esquecendo.
- E se fizesses folhado de atum com cogumelos e queijo?
- Perfeito.
Quando o empregado acabou de passar as compras, a minha mãe entregou o dinheiro e disse-lhe para ficar com o troco. De seguida, fomos para casa. Fizemos o caminho todo em silêncio.
   Já em casa, avisei que iria subir para tomar um banho rápido e vestir o meu pijama completo e depois descer para fazer arroz doce à moda da Cláudia.
Quando desci, a minha mãe já tinha feito tudo, incluindo o arroz doce à moda Cláudia.
- Eu disse que faria o arroz doce.- disse, sentindo-me um tanto ofendida por ela ter feito a sobremesa.
- Eu sei, mas assim já está feito- afirmou.
- Para a próxima, eu é que faço o jantar- informei-a.
- Combinado- concordou.
- Vais tomar banho agora ou depois do jantar ?- perguntei.
- Vou já me preparar. Se, por acaso, o Patrick chegar, diz que estou a ver televisão e que não queria atrapalhar a vossa sessão.- orientou- me.
- Porquê que não digo simplesmente que foste tomar banho ?- interroguei, com uma certa curiosidade.
- Porque não quero que ele pense que eu me preparei para ele. - explicou.
- Não vais simplesmente pôr um pijama ?
- Não quero que ele me veja de pijama- admitiu.
- 'Tá bem - disse eu.
Enquanto aguardava pelo Patrick, fiz os trabalhos de casa de matemática e, de seguida, fui até a sala e liguei a televisão. Estava a dar " A culpa é das estrelas" - o meu romance favorito. É o meu filme e livro favorito. Já vi o filme umas 10 vezes e li o livro outras tantas. Simplesmente sou apaixonada pela história. Será que o Gabriel também gosta da culpa das estrelas?
Gabriel.... Um nome que virou o meu favorito. Conheço esse rapaz há um dia e já significa tanto para mim.

Perfeito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora