Gabriel ( 14 )

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   - Olha ali - disse o Rodrigo apontando para a Vanessa. Ela estava com um vestido preto justo, que assentava-lhe perfeitamente, e marcava-lhe as curvas. - Ainda não consigo acreditar que a convidaste para vir connosco e nem lhe disseste que nós vínhamos. Ela deve estar a pensar que é um encontro romântico. Ela adora-te, sabes ?
   Não acho que ela adore-me, só que goste de mim como eu gosto dela e, ultimamente, ela tem sido o meu porto seguro. Quando ia explicar o motivo pelo qual a convidei, ela aproximou-se com um sorriso amarelo e disse :
- Rodrigo. Matheus. Não sabia que vocês também vinham, que coincidência encontrar-vos aqui.
   Olhei para o Rodrigo que mordia-se para não contar que eu os tinha convidado, e agradeci-lhe com um olhar.
   - Então, vamos sentar-nos ? - perguntei, tentando transformar aquela atmosfera intensa que nos rodeava num ambiente amigável. Já estava a começar a perguntar o que queria beber para eu ir ao balcão, mas acabei por perceber que o próprio Mário veio ter connosco e estava a falar com a Vanessa e a perguntar se podia oferecer-nos o seu batido especial para clientes especiais. Nesse momento não consegui deixar de a comparar com a Clau, porque a Vanessa é muito popular e a Cláudia nem sequer era conhecida pelo Matheus. Ela agradeceu pela última vez e vi que estava a trocar olhares intensos com o Rodrigo. Será que há algo que eu não saiba que exista ou é o meu mecanismo de autodefesa a tentar tornar-me o responsável por juntar um casal, e não por destruir o coração de uma menina apaixonada ? Quando já estava a associar tudo à uma simples desculpa, olhei para o Matheus, e, pelo olhar dele, ele estava a pensar no mesmo que eu. Resolvi terminar aquele silêncio todo, e disse :
   - Então, Cláudia, conta-me como é que conheceste o Mário ? - não sei o que aconteceu porque o rosto da Vanessa alterou-se de menina simpática à menina má e vingativa. E voltei a compará-la com a Cláudia. Elas são tão diferentes.
   - Não acredito ! - exclamou e reparei que começou a ficar vermelha, não como quando a Cláudia fica vermelha por eu a elogiar, mas sim, por raiva. E, nesse momento, só me apetecia dizer-lhe como me sentia egotista por não conseguir dizer-lhe a verdade, dizer-lhe que não é ela que eu amo, dizer que lamento por tudo, mas não se escolhe quem se irá amar, simplesmente acontece. Lembro-me de que quando eu era pequeno perguntara à minha mãe porquê que ela tinha escolhido amar o meu pai apesar de todos os seus defeitos e de nunca ter tempo para lhe retribuir tudo o ela lhe fizera, e tudo o que eu obtive como resposta foi : - quando cresceres, meu amor, vais aprender que não se escolhe quem vamos amar, é algo sem explicação.
   E, finalmente agora, eu consegui perceber o que a minha mãe quisera disser-me, consegui perceber que o amor é mais desconhecido do que o surgimento da vida na terra. Cada apaixonado tem a sua teoria : uns acreditam no amor à primeira vista, que acontece quando menos esperamos e, que desde do início, desde o primeiro trocar de olhares, do primeiro sorriso tímido e do primeiro toque, nós sentimos que iremos querer fazer parte da vida dessa pessoa para sempre. Outros acreditam que o amor conquista-se, tal como tudo nesta vida. E, os menos românticos, acreditam que o amor não existe, e esse < fogo que arde no peito sem se ver > é tudo criação do nosso subconsciente porque o que realmente existe é : amizade com atração física. Eu acreditava na última teoria, mas depois de conhecer a Clau, passei a acreditar na primeira teoria.
   Talvez por esse pensamento todo junto ou pelo olhar reprovador dos meus amigos, decidi que tinha de pôr fim ao relacionamento ( se é que se possa chamar isso ) com a Vanessa. : - Vanessa, precisamos de falar.

Perfeito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora