Cláudia ( 24 )

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   Hoje o dia tem sido diferente, não estou habituada a ser o centro das atenções. Mas sinto que desde o incêndio passei a ser o foco da vida de muitas pessoas. Talvez até de algumas que não sabiam da minha existência. É estranho, mas sinto-me bem. Não quero ser sempre o centro das atenções. Contudo, acho que também já não quero ser aquela rapariga tão discreta que as pessoas se esqueciam  até da sua existência.
   Vou dormir numa tenda com a Vanessa e com a Carol, que têm sido as minhas melhores amigas. Até mesmo a Vanessa com quem deixei de falar durante algum tempo, mostrou ser uma pessoa muito importante na minha vida. Acho que já nem sei viver sem elas.  A Carol é tão inteligente e conselheira, sabe sempre o que tem que fazer e quando o fazer. Já a Vanessa é mais divertida e descontraída, faz-me ter calma e relaxar quando é preciso. Elas têm sido o meu suporte. Adoraria tê-las conhecido mais cedo. O secundário seria tão mais fácil...
    Fui até a nossa tenda verificar se estava tudo preparado. Corri o fecho zip e encontrei as minhas duas melhores amigas a conversarem. Sorri para elas e perguntei se estava tudo preparado. Elas responderam que sim, então, convidei-as a sair da tenda e a ir dar uma volta.
   - Clau, já está muito escuro. É melhor ficarmos por aqui. Mas claro, fora da tenda. - respondeu-me a Carol com um sorriso largo no rosto
   - o que vocês estão a aprontar ? - perguntei, porque as minhas amigas estavam a começar a assustarem-me. Acho que estão a planear algo contra mim. Tenho que estar atenta. Deve ser algo como colocar pasta de dentes no meu champu para clarear o meu cabelo...Tenho que me manter atenta.
    Saímos da tenda e a Vanessa pede para irmos dar uma volta. Olhei para a Carol para ver se a Vanessa percebia que não a queria deixar sozinha, mas a Vanessa responde que precisa mesmo de falar comigo. Aviso à Carol da situação e vou a tenda buscar um casaco e colocar umas sapatilhas confortáveis para o passeio.
   - Voltei. Estou ansiosa para saber o que é tão importante que não podes esperar para falarmos quando nos formos deitar. - respondi
   - Então... é que eu e o Rodrigo estamos a dar-nos tão bem. Ele é o namorado dos meus sonhos. - faz uma pausa e olha para mim
   - sim ?
   - É que, Clau, eu tenho medo de perdê-lo. Sabes que eu não tenho jeito para relacionamentos amorosos. Acho que vou acabar por o magoar.
   - Oh, amiga, não te preocupes com isso. Tu és fantástica e estás a aprender a conviver com um relacionamento amoroso sério. Acho que é normal sentires isso. Mas, já que precisas de conselhos, porquê que não falaste antes com a Vi ?
   Ela pareceu meio atrapalhada.
   -  Tu é que és a minha melhor amiga e conheces melhor o Rô. - explicou
   - Se o dizes ... - disse, dando um abraço apertado a minha amiga.
   Virei-me para fazermos o caminho inverso.
   - Mas que pressa é essa ? - perguntou a Vanessa
   - já falamos tudo ou tens mais alguma coisa ?
   - Sabias que ... eu tenho... um ... peixinho ?
   - Não ... - imitei o ritmo da sua fala. -  como é que se chama ? - perguntei por perguntar já que dei conta de que ela por algum motivo queria prender-me ali.
   - Jorge - respondeu
   - Estranho. Ao menos que seja Jorge Nemo - respondi, e ela matou -se a rir
    - Só preciso que fiques aqui mais cinco minutos, por favor.
   - tá bem, mesmo que não perceba o porquê.
   Ficamos cerca de cinco minutos a conversarmos e a divertirmos-nos até que nos levantamos e fomos em direção ao outros.
   Quando lá chegámos estavam todos a olhar para o palco onde o Patrick estava. Ele olhou para mim e lançou-me um sorriso.
    - Boa noite à todos. Bem-vindos. Antes de já, quero relembrar-vos do motivo pelo qual estamos cá reunidos. Estamos a comemorar a vitória da Cláudia. - fez uma pausa para limpar uma lágrima que tinha no canto do olho - Naquele dia, no dia do incêndio, quando eu soube do acontecido, senti como se o meu mundo estivesse a ser destruído. E apercebi-me de que nunca te tinha dito o quanto te amo, Clau. Obrigado por tudo, filha.
    Desatei a chorar, porque eu sempre tive um pai. Falava da falta de paternidade, mas, no fundo, sempre tive um pai. Arrepiei-me toda. Subi ao palco e abracei-o, disse que também o amava e agradeci por ter sido o pai que eu nunca tive. Procurei com o meu olhar a minha mãe, e quando a vi estava com a maquilhagem borrada. Sorriu-me e sei que deveria estar a agradecer à Deus pelo homem que lhe pôs na vida.

Perfeito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora