Gabriel ( 23 )

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De longe, observo um coque bagunçado no topo de uma cabeça, aquele coque tão característico dela. Dirijo-me ao seu encontro, acelerando minimamente os passos quando cruzo com um cão castanho a olhar na minha direção com os olhos famintos ( acho que era o tal de pipoca )

A Cláudia está com umas calças jeans rasgadas maravilhosas, aquelas que qualquer outra rapariga gostaria de usar para ir para à discoteca ou para qualquer outro local de entretenimento. Por isso, sei imediatamente que não a pertencem pois ela é sempre tão original na sua maneira de vestir, tão mais simples e prática. Só podem ser da sua mãe!!

Quando chego ao pé dela envolvo as minhas gigantescas mãos ao redor dos seus olhos e peço-a silenciosamente para adivinhar quem a está a tapar os olhos. Ela retira as minhas mãos da sua face tão carinhosamente e vira-se para mim, desobedecendo ao meu pedido, com um sorriso enorme e com as pupilas dilatadas. Talvez ela nem queira demonstrar o que sente por mim, no entanto, é inevitável eu não saber, pois o corpo dela está constantemente a mandar sinais para o meu, que, por sua vez, também faz questão de realizar o mesmo processo de transmissão de sentimentos. Isso é a ciência do amor; não é preciso ser um profissional no amor ( será que isso existe ? ) para saber de certas coisas dele como o significado de uma pupila dilatada. Os olhos revelam muito do que se passa na mente humana. No caso da pupila trata-se de uma demonstração involuntária de afeto.
- olá - diz ela
- Oi - respondo eu ao dar um beijo suave nós seus lábios.
Quando olho para a Clau ela está corada nas bochechas o que me provoca um sorriso largo na boca e a sensação de borboletas na barriga, porque, naquele momento vi o meu "poder" sobre ela.
- Então, onde está a tua mãe e o Patrick? - quebro o silêncio
- Anda, eu levo-te onde eles estão para os cumprimentares. - fez uma pausa - e conhecer a minha família - disse a última palavra fazer aspas com os dedos. Sorri-lhe transmitido a calma que ela necessitava. Percebo a sua agitação, afinal ela conhece a família do Patrick a muito pouco tempo.
Ela levou-me até uma casinha amarela que fica ao lado de uma lagoa límpida. Fiquei por alguns minutos a observar aquela paisagem, espero que possa cá voltar.
Ela fez sinal que era aquela casa e eu peguei a sua mão, beijando-a.
Entramos na casa, que consegui reparar que foi feita a partir de um contentor. Logo a entrada estava uma senhora de cabelos muito negros. A Claudia apresentou-me como seu namorado e explicou-me que esta senhora é a sua madrinha. De seguida apresentou-me a sua "tia" e ao seu "tio", que eram donos da quinta onde nós estamos. Pareceram pessoas muito simples e boa gente. Depois foi a hora de conhecer os pais do Patrick. A mãe deu-me um abraço tão apertado que ouvi os meu ossos a movimentarem-se. Quando o abraço apertado da senhora terminou o Patrick e a Júlia surgiram e cumprimentaram- me.
- Então, Gabi , estás a gostar de cá estar ? - perguntou a Júlia
- sim, é fantástico, adorei a lagoa aqui ao lado.
- sim, é mesmo muito linda. Já montaram as tendas ? - questionou o Patrick
- Não, pelo menos quando eu saí de lá ainda não as tinham montado, nem começado. - expliquei
- tá bem, podem ir andando para lá - disse a Júlia
- sim, mas esperem por mim, que eu tenho que ir orientar umas coisitas - disse o Patrick, piscando os olhos. Ele referia-se ao palco que eu sugeri que montassem para que pudéssemos praticar Karaoke. Sabia que todos iriam adorar.
Fomos andando até ao outro lado da quinta. Durante a viagem de regresso, pensei na ligação que a Clau tem com o Patrick. Apesar de tudo, a Claudia ganhou um pai maravilhoso. Naquele momento, comecei a pensar no meu pai e como tudo tinha mudado com a separação dos meus pais. Acho que vou deixar as coisas no passado, porque, apesar de tudo e de todas as coisas, eu amo-o, e quem ama perdoa. Não quero perder o meu pai.
- Gabriel, estás a ouvir-me ?? - perguntou o Patrick
- Sim, desculpe, estava perdido nos meus pensamentos.
- Pois, eu dei conta. Olha, se algum dia quiseres falar com alguém podes contar comigo. Eu sou psicólogo e tenho como foco as crianças e os adolescentes. Gostaria muito de puder ajudar-te. Claro que não te cobraria nada, és da família
- muito obrigado, acho que vou mesmo precisar de falar consigo.
- sempre disponível, aparece lá em casa quando quiseres.
Agradeci e direcionei o meu olhar a Clau, que estava alguns metros a frente de nós. Ela estava tão plena a andar aos saltos e com o seu cabelo a acompanhar os seus movimentos. Agradeço tanto à Deus por ter colocado essa rapariga na minha vida. Ela é a luz dos meus dias e conseguiu tirar-me da escuridão sem se aperceber disso. Amo-a tanto.
Ela olhou para trás como se tivesse lido os meus pensamentos e sorriu-me. Ela é linda.
Após alguns minutos chegamos ao "acampamento" e encontramos algumas pessoas a montarem as suas tendas e outras a tentarem. Cheguei ao lado da Vanessa e ajudei-a a montar a sua uma vez que esta apresentava algumas dificuldades. Montei-a em menos de três minutos e fui ter com Rodrigo e com o Matheus que já tinham montado a tenda onde iríamos passar a noite juntos.
- Já guardamos a tua guitarra - avisou o Rodrigo
- obrigado - agradeci
- Ela vai adorar, mano - disse o Matheus.
Há alguns dias decidi fazer uma "surpresa" para a Clau para demonstrar o quanto a amo e o quanto quero ficar com ela. Quero que ela nunca duvide do meu amor por ela.

       " Duvide que as estrelas sejam fogo,
Duvide que o Sol se mova,
Duvide que a verdade seja mentira,
Mas nunca duvide do meu amor "
-Shakespeare

Perfeito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora