Gabriel ( 19 )

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   Como é que é possível ?
   Há exatamente quatro minutos eu estava com a Cláudia na sala de português e agora quando volto a escola está a arder !!!
   - Cláudia! Cláudia ! A Cláudia está na sala ! - gritou a Carol, a nova melhor amiga da Clau.
   Ouço a sirene dos bombeiros logo quando eu iria perguntar se já os tinham chamado. Dentro do carro saem três bombeiros : dois homens e uma mulher.
   A mulher, que era a bombeira-chefe, pergunta ao segurança da escola quantos alunos tinha a instituição e quantos estavam lá dentro. Será que eles não percebem que há vidas em jogo ? Não podem fazer essas perguntas depois ?
   Quando o senhor diz que apenas havia três, o meu coração ficou por uma lado aliviado por só serem três pessoas e o outro lado ficou ainda mais preocupado porque a Cláudia continuava lá.
   Subiu-me uma energia enorme misturada com culpa porque se acontecer alguma coisa à Cláudia eu irei para sempre culpar-me já que ela só estava lá para me agradar. Subo as escadas que dão a porta principal e vejo que os Bombeiros estão ocupados demais a preparar a "ação", por isso, vou até a minha mochila e tiro o casaco para tentar me proteger melhor. Corro para dentro do pavilhão principal e assusto-me mal entro pois estava uma das minhas companheiras de autocarro desmaiada. Pego-a no colo e levo-a para fora apesar de saber que estaria a meter-me em sarilhos, porque, se a Susana, que estava praticamente fora da escola, já se encontrava inconsciente a Cláudia já estaria morta.
   Logo que me encontro no portão do pavilhão principal, começo a correr e pouso a Susana no chão, assobio para o bombeiro para ele acabar o meu trabalho e olho para o Rodrigo que já estava mesmo a correr para ir ter ao meu encontro.
   - Então, o que fazemos ? - pergunta-me um pouco desesperado .
   - Temos de ir até a casa de banho e molhar panos para acabar com o fogo onde tiverem as pessoas. E não te esqueças te andares rasteiro ao chão.
  Cumprimos o combinado e dirigimos-nos  para diferentes sítios. Eu para a sala (onde estava a Cláudia) e o Rodrigo para onde estava a outra colega, na biblioteca.
   Já no corredor da sala de português, cai um tronco de madeira do teto, o que me assusta e faz-me perguntar se estou a fazer a coisa certa, mas logo de imediato lembro-me de quem iria salvar e esse medo todo sume, e, no meu corpo agora só resta energia e confiança para salvar a minha donzela em apuros.
   Entro na sala de português, onde a tinha visto pela última vez, mas, infelizmente ( ou felizmente ) ela não está cá. Por quase um segundo penso que talvez tenha sido melhor porque se ela estivesse cá talvez já não estaria consciente. Decido ir a correr para ter com os bombeiros e certificar-me que a Clau está bem, só de pensar que ela pode ainda não estar a salvo uma dor, que esmaga o meu coração por inteiro, surge e sei que só conseguirei livrar-me dela quando estiver a certeza que a minha miúda está bem.
Quando já estou a menos de vinte metros não há sequer um espaço que não haja espuma de extintor, o que me alivia muito uma vez que tenho a certeza que não conseguiria passar por esta zona outra vez se eles não tivessem apagado o fogo. Os estragos são visíveis de uma maneira aterradora, chegam-me lágrimas aos olhos de vê-los, e, é impossível não me lembrar de todos os momentos fantásticos que todos passámos aqui. No momento em que eu estava a tentar socorrer a Clau eu não pensei em nada, não pensei nos perigos e nas consequências, apenas em salvá-la, o que me faz sentir um herói.
Quando passo pelos bombeiros, eles olham para mim, uns com um olhar reprovador, mas, a maior parte com os olhos rasgados, deixando-me sentir melhor. Eu sempre admirei o trabalho dos bombeiros, mas hoje admiro-o ainda mais. Olho para a volta e está tudo branquinho, porém com calor de verão. Decido sair do pavilhão da escola e vou a correr para fora. Chego ao carro dos bombeiros e vejo a Cláudia e ela está com um sorriso de gratidão talvez por ter percebido que eu fiz de tudo para a conseguir salvar, apesar de quando lá ter chegado ela já estava a salvo. Só que esse momento de romance estilo Nicholas Sparks acaba logo que vejo que o Bernardo estava a trás de mim e que neste instante começa a correr com um sorriso mais largo que o rio Amazónia. Neste momento pergunto à mim mesmo: os fins justificam os meios, neste caso ?

Perfeito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora