Cláudia ( 20 )

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   As lembranças permanecem na nossa mente durante meses, anos... tenho a certeza de que daqui a cinco anos ainda me vou lembrar do calor e pânico que tomaram lugar na minha mente durante este incêndio. O Bernardo contou-me que um bombeiro é que me salvou, mas que logo que o Gabriel voltou do refeitório, foi a correr para dentro e tentou-me salvar; num primeiro momento pensei em ficar chateada com ele por se ter arriscado tanto só para me salvar, mas não quero estragar este capítulo da nossa vida que parece ser retirado de um romance best-seller da New York Times.
   Observo o Gabriel a correr e sorrio-lhe, ele devolve o meu gesto com um sorriso ainda mais rasgado. O Bernardo surge de trás do Gabriel com a minha água e aí lembro-me do quão com sede eu estou, e naturalmente solto um sorriso ainda maior só de pensar em água a escorrer pela minha garganta a baixo.
    O Bernardo salta para dentro da carrinha da ambulância e dá-me a água. Acabo-a em menos de cinco goles.
   - Tu sabes que eu sempre gostei muito de ti, e não só como amiga... mas eu segui em frente e agora está na hora de tu tentares ficar com outra pessoa que te ama quase tanto quanto eu amei. - o Bernardo desvia o olhar de mim para o Gabriel, dá um sorriso e sai. Quando já está fora da carrinha diz que a minha mãe está a caminho.
   O Gabriel é um pouquinho mais respeitador e não pula para cima do carro, apenas sobe pelas escadas; reparo que ele não está feliz.
   - Então, Clau - diz com uma voz que não consigo decifrar.
    - Já passou, não é ? Tu é que não estás bem.
   - sim, mas confesso que me sinto um pouco culpado por esta situação.
Culpado?
   - Tu não és culpado de nada, no máximo dos máximos, sérias culpado se me causasses um ataque cardíaco se não saísses de lá. Que ideia foi essa de ires para lá para me salvares ? Podias ter morrido, aí eu é que me sentiria culpada por te ter acontecido alguma coisa. Como é que ficaria a tua família ? A Raquel ? Já foste ter com ela ? Ela estava mesmo mal quando eu saí de lá.
- Sim, eu penso nisso agora. Mas no momento eu só te queria salvar. Clau, eu amo-te e tu sabes disso apesar de estares sempre a debater com isso dentro da tua cabeça porque não queres estar errada, queres fazer as coisas certas. Mas eu não quero que descubras pela forma errada que amar é melhor do que ter razão. - declara-se
Realmente, não sei o que lhe dizer, principalmente, porque sei que ele está correto. Eu sei que ele me amou desde o primeiro segundo e que eu também o amo desde então. Talvez foi muito cedo, mas, como ele próprio diz, amar é melhor do que ter razão.
- Chega aqui... - damos um grande abraço, aquele abraço coberto de milhares de sentimentos, mas, principalmente de paixão. Sinto o coração dele aos pulos, ou é o meu ?
   Quando ele ia voltar para a sua posição anterior, ou seja, ficar de pé e eu continuar sentada na maca desconfortável, puxo-o e beijo-o. Um beijo suave, porém profundamente apaixonado. Eu sinto tudo neste momento, sinto o calor entre os dois corpos, sinto o hálito a menta proveniente da sua boca, sinto o beijo por todo o lado. Na ponta dos meus cabelos, nos dedos dos pés, até no estômago. Parece que estive a vida toda a espera deste momento, de sentir esta magia.
Ouço alguém a tossir, mas não é uma tosse de um doente, mas sim alguém que está a pedir muito "delicadamente" para que nos separemos.
Saímos do beijo, olho para a porta da carrinha a espera que fosse um bombeiro ou um colega, mas quem se encontra na porta, não é nada mais, nada menos, que a minha mãe e o Patrick. Oh meu deus !

Perfeito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora