Perfeito para mim

Vanessa (13)

Estava a navegar na net quando vi que o Gabriel tinha-me enviado uma mensagem a convidar-me para sair. Bem, pelos vistos, o plano da Raquel está a funcionar. Não sei porquê que me arrisco por ela, talvez seja por gostar muito da minha melhor amiga ou por ela ser uma manipuladora brilhante. Tudo começou quando nós tínhamos oito anos; conhecemo-nos numa festa de uma minha prima, a Clara. Ela e a Raquel eram amigas. A Raquel quis brincar comigo quando ninguém quis por me acharem feia. Crianças! Desde então, fomos conversando e, para surpresa de ambas, na semana seguinte, ela tornou-se minha colega. Se não fosse a Raquel, a minha vida teria sido banal. Eu sei que ela nem sempre toma as melhores decisões, mas eu amo-a e vou amá-la para sempre. Há pessoas boas mas amigas más, e há pessoas horríveis mas boas amigas.
Eu estou consciente de que ninguém é perfeito e que eu cometo muitos erros, tentando ajudar a Raquel, mas não o consigo evitar. Às vezes, quando era pequena, acreditava que eu e a Raquel éramos dois ímanes; ela era o negativo, eu o positivo. Simplesmente, tínhamos uma atração, era inevitável.
Por isso, quando a Raquel pediu-me para conquistar o seu primo não consegui recusar. De início, não percebi qual era o seu objetivo e motivos para o querer. Quero enganar quem ? Ainda não percebi. Mas já estou demasiado envolvida agora. Não posso parar. Não quero. A verdade é que eu estou a começar a ficar apaixonada pelo Gabriel.
O Gabriel é muito atencioso. Nós estamos mais próximos agora depois de a Cláudia pedir "um tempo". Por vezes, dou por mim a sorrir sem motivo ou a pensar em como eu e o Gabriel estaremos daqui à alguns anos. Estaremos juntos ?
Nos últimos três meses, ele abriu-se muito comigo. Fala-me dos problemas familiares dele e de como está a ser difícil aturar o Bernardo como capitão de equipa. Reparei que quando ele está nervoso morde o nervo da bochecha, e quando sorri surge uma covinha do lado esquerdo do seu rosto.
Segundo os médicos, as covinhas são a mal formação do nervo das bochechas, mas, para mim, são o melhor erro da humanidade.
O Gabriel convidou-me para ir ao Mário. O Mário é um bar que fica exatamente no meio da cidade, todos adoram o Mário. Neste Bar, servem-se os melhor batidos de Portugal. Estou ansiosa para sair com o Gabriel, porém não sei o que vestir. O Gabriel faz com que eu sinta várias sensações simultaneamente. Quando estou com ele sinto-me nervosa, mas, também descontraída. Ao pensar nele, sinto felicidade, alegria, paz, um certo calor no coração e um frio na barriga. Aos fins de semana sinto-me ansiosa e com saudades. Ainda não decidi se essa mistura de sentimentos é boa ou não; é estranho.
Não sei o que hei de vestir, com o Gabriel fico indecisa, algo que eu pensava ser impossível. Eu sempre fui uma pessoas extremamente segura de mim e dos meus atos, mas com ele eu  fico tímida e insegura.
   Quanto a Cláudia, tenho pena dela e vergonha de mim. Não me orgulho do que lhe fiz, fui muitíssimo egoísta , mas eu achava que isso seria um jogo inócuo. Acho que a certo ponto eu tenho mais pena de mim do que dela, já que eu é que precisei de rebaixar alguém para me sentir bem.
   Em outros tempos, não me apeteceria sair de casa num inverno destes, mas hoje é tudo o que eu mais quero.
    Eu tentarei ser melhor pessoa pelo o Gabriel, tenho esta necessidade, devo-lhe isto. Talvez o amor exista, e mude mesmo as pessoas. O quer que seja que eu sinta pelo Gabriel não cabe no meu pequeno coração.