blind dancer [bwoo/taeso]

15;;bossa nova;;15

jjw; Bossa Nova,
a música que mesmo velha
é sempre nova.

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Impacientemente, Jiwoo batia o pé no chão enquanto esperava Matthew atender sua ligação, já deveria ser a quarta vez que tentava ligar para o menino e ele não respondia. O toque repetitivo do celular já estava irritando a menina.

Deviam passar das onze da noite e mesmo com o casaco que chegava até suas coxas envolvendo-a, ela estremecia a cada brisa fria que batia contra seu corpo diminuto. Já estava achando que a natureza queria que ela saísse da frente da academia e fosse fazer algo— ir atrás do menino, ligar para Somin, pedir um táxi, ir até a casa de Matthew ou deixar tudo pra lá. Qualquer coisa.

Frustrada, ela escutou ligação cair mais uma vez e Kimi suspirar ao seu lado. A garota não tinha saído de perto da mais novas desde que ela alegou precisar falar urgentemente com o dançarino; mesmo tendo que, tecnicamente, estar em casa e trancar a academia a japonesa não deixou Jiwoo ficar ali parada no meio da noite, sem nenhuma companhia.

Sem fazer nada além de deixar um leve toque no braço de Jiwoo, Kimi entrou na academia e começou a procurar entre os papéis de cadastro que estavam nas gavetas da mesa. Com dedos ágeis, ela procurou entre as fichas a de Matthew, assim que a encontrou, tirou uma foto do endereço e ligou para um uber. Também adicionou o número de emergência ali listado— curiosamente aquele não era o nome de nenhum familiar, já que os sobrenomes eram diferentes.

Saindo para o ar frio novamente, Kimi informou Jiwoo de que tinha descoberto onde o garoto morava e ambas iriam até lá assim que o uber chegasse. Por sorte, logo um carro pequeno branco estacionou perto a elas. Kimi passou o endereço para o homem de idade avançada que dirigia e por alguns minutos elas se mantiveram em silêncio, na bolha criada pelos vidros que abafavam a caos da cidade.

Pessoas andavam calmamente, sentindo a brisa gelada e conversando em voz alta. Grupos de amigos riam alto e casais dividiam uma comida de rua qualquer, sem se preocupar com os riscos de intoxicações alimentares. Cada um daqueles indivíduos estava em uma bolha, talvez uma de felicidade, ou de reflexão e até de solidão.

Alguns grupos dispersos descansavam nas margens do Rio Han, com os pescoços jogados para trás e os olhos voltados para o brilho das poucas estrelas visíveis através da poluição que intoxicava o ar noturno. Para Jiwoo, aquela noite se baseava em uma fusão de sons abafados e conversas pela metade.

Um R&B tocava baixinho no rádio, e aquela música passou a envolvê-la conforme o balanço do carro ficava mais reconfortante e familiar. Em um piscar de olhos, ela já estava sendo chacoalhada pela amiga.

Após pagar o idoso simpático, ambas se postaram na frente do prédio. Kimi entrelaçou sua mão com a da Jeon e foi a guiando para dentro do prédio que se erguia na frente delas como um gigante. Após cumprimentar a moça que se sentava entediada na portaria e pedir pelo apartamento de Matthew, elas tomaram o elevador e esperaram ao som da Bossa Nova. As mãos de Jiwoo se contorciam ansiosamente embaixo do moletom e seu estômago começava a dar giros no lugar.

—Eu acho que gosto do Matthew.— Soltou de uma vez só, aquelas palavras que não tinham sido planejadas e fugiram dos lábios entreabertos. Tão baixo que mal foram ouvidas, mas altas o suficiente para a japonesa virar a cabeça en direção à amiga na velocidade a luz.

—Que? Por que você diz isso tão de repente? Assim, do nada? Você tá com febre?— Ela colocou a mão na testa da garota.— Não, você não tá com febre.

—Eu sei que eu não estou com febre, Kimi! Eu só to com uma sensação estranha, acho q meus neurônios estão com defeito.

—An?— Além de não entender direito o coreano apressado e murmurado da amiga, ela não parecia fazer sentido algum.