Eu estava vestindo um roupão de seda cor nude. Tomava uma taça de vinho e olhava para a janela, mas era notório que eu estava perdida em meus pensamentos. Eu mexia no lábio inferior,essa é uma mania que eu tenho desde pequena. Faço isso quando estou pensativa.
Logo ouvi uma porta bater e alguns passos vindo em direção a cozinha
-- Oi, amor.- era o Caio
Olhei para ele e dei um sorriso forçado.
-- Chegou cedo hoje?
-- Sim...- eu parecia incomodada com a presença dele.
-- E o que fez? Apenas tirou as fotos pra revista?
-- É. Depois conversei com o pessoal da editora.
-- Ótimo! Já imagino. Vai ser um estouro! Esse novo livro promete. Vamos ganhar uma grana doce, Madu!- quanto entusiasmo da parte dele, já da minha, não parecia ter.
Ri como resposta. Ele beijou meu rosto e saiu da cozinha.
Demorou menos de 20 minutos e voltou. Eu estava imóvel, no mesmo lugar, ainda pensativa e prendendo o choro, dava pra perceber. Eu me observava ali e tentava entender alguma coisa. Caio se aproximou de mim:
-- Por que está tão cabisbaixa?
Silêncio
-- Madu, eu tô falando com você.- insistiu
Silêncio
Ele se aproximou e eu não consegui conter as lágrimas
-- Por que está chorando? Deveria estar feliz que..
-- Feliz?!- interrompi- você ainda pergunta porque estou cabisbaixa? Como pode fingir que nada acontece? Como?
-- Você deveria estar feliz. Aaah, deveria. E me agradecer, pois tudo que tem hoje, deve a mim.
-- Você só ajudou a destruir minha vida!- gritei
Ele virou pra mim e me segurou com um movimento brusco, apertando os meus punhos
-- Escute aqui, Madu! Não vou permitir que jogue tudo fora, entendeu? Não vou!- ele gritava
-- Você está me machucando!- falei tentando me livrar dele.
Ele me soltou, colocou as mãos no rosto
-- Bom, você sabe o que tem que fazer. - disse e saiu da cozinha me deixando só.
Fiquei de longe me observando cair no chão e chorar. Só chorar...
Eu já estava procurando a pedra quando percebi que a minha Madu do futuro levantou e foi até uma gaveta que tinha no armário, abriu e de lá tirou uma pequena agenda azul marinho. Me aproximei para tentar ver o que tinha escrito lá. Na agenda tinha algumas palavras com a minha caligrafia
Celso: quarta-feira, 18:30h
Peter: quinta-feira, 20:00h
Fernando: sábado,14:00h
Junior: sábado, 20:00hEu acho que estava entendendo tudo. Não podia acreditar. Eu estava me prostituindo? Em troca de quê? Por quê? Pra quê?
Me vi pegar o telefone e digitar um número:
-- Alô? Senhor Celso? Gostaria de confirmar nosso encontro amanhã as 18:30h...
Eu não conseguia entender mais nada. Por que eu estava fazendo aquilo? E por que Caio me infuenciava tanto, por que me obrigara?
-- Tudo bem.- continuei me ouvindo falar na ligação.-E as fotos da revista?... Ótimo! Até amanhã, então.
Fechei a agenda com muito ódio.
Voltei para o chão e chorei até cansar. Aquilo era aterrorizante para mim, mas fui dar uma olhada na casa. Provavelmente era minha, pois a decoração era muito a minha cara... fiquei admirada com tudo ao meu redor, mas, de repende a pedra começou a iluminar sozinha. Droga!!
Não sei porque, mas imaginei que estava na hora de voltar. Peguei a pedra, deslizei meus dedos sobre o nome e logo a luz incandescente tomou conta de toda a minha visão. Quando abri os olhos, estava no banheiro do quiosque.Meu Deus! O pessoal deve estar me esperando...
Antes mesmo de chegar até a mesa, percebi que já me olhavam desconfiados. Carol principalmente.
-- Onde você tava?- perguntou com cara de preocupada
-- Eu...
-- Você tá bem?- falou Caio tocando o meu braço e eu recuei com um movimento brusco. Nos olhamos por um instante e eu me dei conta da minha grosseria.
-- Tá! Me desculpa... tá tudo bem.
Eles me olhavam sem entender
-- Eu só estou um pouco tonta.- tentei tapear
-- Mas você nem bebeu tanto assim.- foi a vez de Lucas falar.
-- É, tem algo errado que eu sei.- falou Carol
Caio continuou calado. Me sentei e não bebi mais nada até o final do encontro. Eu e Caio não nos falamos mais e evitamos até contato visual. Todo mundo percebeu o climão e decidimos ir embora.
Graças aos céus!
Quando chegamos em casa, Carol já me olhou brava
-- Não, Carol. Eu não tô a fim.- antecipei
-- Só me fala o que está acontecendo, Madu.- insistiu ela
-- Nada. Não está acontecendo nada.
Ela respeitou. Fui pro ateliê e fiquei por lá mesmo. Demorei pra pegar no sono, e quando cochilei por uns trinta minutos, me lembrei e dei um pulo do sofá-cama
Droga! Porcaria! O comercial!
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A Lua e Eu
Bilim KurguMadu vivia sua vidinha solitária e, nunca havia parado pra pensar o quão difícil era viver tão sozinha. Além de sua amiga Carol, não tinha mais ninguém para conversar e dividir momentos. Sem relacionamentos, sem família e sem nada de novo pra fazer...