Cansaço.
Ultimamente isso é tudo o que sei sentir, não sei de onde vem, ou por que vem, ele apenas vem, e simplesmente não se retira.
Implica.
Cutuca.
Insulta.
Mas não, não se retira.
Não sai.
Ele se fixa.Vai me exaurindo e me mantendo pendente, a míngua. Sempre me arrastando de lá pra cá, deixando o vento me carregar.
O sol é quente ao me beijar a pele, suas carícias são ardentes e me queimam, seu sabor é de verão e me faz lembrar que estou viva.
Viva e operante.
Ainda que cambaleante, pois sim, mas ainda estou aqui.Exausta e um tanto quebrada, mas ainda presente.
A chuva e a brisa reviram meus cabelos opacos, meus olhos de pupilas dilatadas fitam o vazio implacável.
Meu pesar é inexorável.
Minhas mãos estão vazias e impacientes, anseiam em desespero apalpar algo, alcançar algo, abraçar algo. Mas o mesmo é ausente e inexistente, não pode ser visto, não pode ser tocado.
É um desejo de uma mente perturbada, é a vontade de uma essência inclinada.
Estou aqui, estou lá, estou em tantos lugares que já não me encontro em lugar nenhum.
As vezes me pego pensando em como seria não ter a solidão como minha única companhia, me ponho a imaginar como se sucederia ter um ombro para me encostar.
Mas é inútil.
Sim, é completamente inútil sequer imaginar.Sou boa sendo uma.
Sou boa caminhando sozinha, criando sozinha, pensando sozinha, falando sozinha, chorando sozinha.Me acostumei.
Agora já é tarde.
Sou uma.
Não serei dois.
Não, não me vejo nisso.
Duplas sempre me incomodaram, não, não me vejo nisso.O cansaço é meu inimigo, meu nêmeses, minha aflição e guerra interna de maior percepção.
É por isso que não posso ser dois, não posso me encostar, não posso descansar, não posso parar.
Sozinha devo continuar, pois se eu me acostumar vai ser mais difícil desapegar, e consequentemente mais penoso continuar a caminhar.