É incrível a capacidade que o corpo humano tem de se acostumar com a dor. Após um corte a endorfina é liberada, e por mais que aquilo arda num ponto indescritível, você se conforma, e não morre disso.
Você pode morrer de outras coisas, mas não de dor. Ela existe, ela está lá, avisando que alguma merda está acontecendo com você. Às vezes dá pra aliviar, e às vezes não.
Quando é física se põe um curativo, se toma um remédio qualquer. Mas como se anestesia um ferida na alma?
Que remédio se toma pra conseguir sumir com isso? Ou melhor dizendo, pra conseguir curar de vez, saturar para depois curar essa ferida invisível. O quê é que faz?Com o tempo ela caleja. Note que não para de doer, mas que caleja, você se acostuma a viver com aquela sensação miserável e simplesmente desiste de fugir disso.
"Não gosto de falar disso."
"Não me sinto bem com aquilo."
"Esse assunto me faz mal."Pode avisar o quanto quiser, não tem efeito. As pessoas continuaram te ferindo nós mesmos pontos de novo, e de novo. Até que você fique calejado ali, que não mais reclame de coisa alguma. Aprendendo a ouvir calado, engolindo qualquer possível rancor. Afinal, de que adianta sentir raiva dela, se essa raiva nem se quer lhe afeta?
Às pessoas escolhem pelo o que empatizam. Não fazem por mal, é apenas o natural egoísmo do ser humano. Faz que nem sente, já tá ali, enraizado na mente.
Quando a dor dele se parece com a sua você ganha consideração, quando não, aquilo pouco importa. Não existe seu sim, ou seu não. É apenas ele e às vontades dele se sobressaindo a você.
Daí você permite. Permite por quê sabe que é ruim com ele, mas é bem pior sem ele.
Atura e vai segurando teus surtos.
Atura.
Engole.
Sorri.
Continua andando.Mas não vale a pena seguir com isso, é só isso que eu digo. Não dá pra manter alguém feliz do teu lado, se o preço dessa satisfação é a tua própria desolação.
O corpo se acostuma com a dor, mas não precisa ser sempre assim.
Vai, corre, que ainda tempo de fugir daí.