Tenho começado a penar.
Penar temendo multidões.
Qualquer multidão.Qualquer coisa que se acumula de forma absurda tem me feito recuar.
Multidão de pessoas.
Multidão de vozes.
Multidão de palavras.
Multidões de sentimentos.Tenho me encolhido e tremido, como cão rígido acolhido e escondido em um canto perdido.
As multidões de sensações são as piores, são elas que estão me afogando, me asfixiando. Não me deixam mais usufruir de nunhuma paz, nem mesmo ilusória, pois não, elas não permitem.
São muitas.
São ativas.
São insaciáveis.
Incansáveis.
Instáveis.Seu pudor é ausente.
Sua ação é insistente, e esta insustentável.Estou a deriva num mar de pessoas nada convidativas, sou apenas mais uma no meio de tantas outras igualmente perdidas, porém não me sinto acolhida, e apenas mais e mais aflingida.
Me afogo por fim, deixo-me levar, não me limito e muito menos tento parar.
Me contento na agonia, afinal ela tem sido a minha única companhia.
Perto-me ser devorada.
Permito-me pois sim, pois é tudo que resta é essa teimosia que me faz prosseguir.Mesmo que tremula e assustada eu continuo por aqui.